Elenco roubado e perda trágica: os bastidores de O Sexo dos Anjos

O Sexo dos Anjos - Bia Seidl

Bia Seidl como Diana, o Anjo da Morte, em O Sexo dos Anjos (Bazilio Calazans / Globo)

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“Há mais mistérios entre o céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia”. A frase de William Shakespeare foi citada pela autora Ivani Ribeiro em entrevistas sobre O Sexo dos Anjos (1989), novela da Globo resgatada pelo Canal Viva. E, certamente, norteou o desenvolvimento da trama, inspirada em O Terceiro Pecado (Excelsior, 1968), também de Ivani.

Bia Seidl como Diana, o Anjo da Morte, em O Sexo dos Anjos (Bazilio Calazans / Globo)

A comédia sentimental sobre Adriano (Felipe Camargo), o emissário da Morte (Bia Seidl) apaixonado pela vítima Isabela (Isabela Garcia) e, por isso, interessado em mantê-la viva, reúne inúmeras curiosidades. A coluna listou histórias dos bastidores do folhetim, do elenco esvaziado por Tieta, produção contemporânea das oito, à morte de Lutero Luiz, intérprete de Bastião.

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A aposentadoria de Ivani Ribeiro

Ivani Ribeiro (Reprodução / IMDB)

Após cogitarem a atualização de Mulheres de Areia (1973, Tupi), Ivani Ribeiro e Roberto Talma optaram por O Terceiro Pecado, que fora exibida apenas em São Paulo – em um tempo no qual as transmissões de TV ainda não eram unificadas. A novelista promoveu mudanças; o núcleo do ambientalista Renato (Mário Gomes), por exemplo, não existia na versão original.

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“Acho muito boa a temática da novela e há toda uma geração de telespectadores que sequer ouviu falar de ‘Terceiro Pecado’. A primeira versão passava-se na década de 20 e era essencialmente romântica”, relembrou Ivani em entrevista ao jornal O Globo, de 9 de setembro de 1989.

A ideia da autora, conforme adiantado por ela em entrevista à Folha de São Paulo, de 25 de setembro de 1989, era deixar o ofício logo após a conclusão dos trabalhos de O Sexo dos Anjos.

“Encerrei meu ciclo de novelas. Falta apenas resolver se continuo escrevendo outras coisas para TV”, confidenciou ela, que voltou ao trabalho em 1993, com Mulheres de Areia, e emendou A Viagem, no ano seguinte.

Troca de horário

Malu Mader (Duda) e Cecil Thiré (Alex) em Top Model (Nelson Di Rago / Globo)

A Globo planejava exibir O Sexo dos Anjos às sete, logo após Que Rei Sou Eu?. Daniel Filho, então diretor da Central Globo de Produção, e outros executivos acabaram promovendo a inversão de horários depois da análise dos primeiros capítulos de Top Model: a criação de Antonio Calmon e Walther Negrão passou para a faixa de ‘Rei’ e a atualização de Ivani Ribeiro foi alocada às seis.

No mesmo período, a emissora suspendeu a produção de Barriga de Aluguel, de Gloria Perez, às oito. Tieta, escolhida para substituir O Salvador da Pátria, foi implantada em tempo recorde, consumindo todo o tempo do diretor artístico Paulo Ubiratan. Com isso, Top Model e O Sexo dos Anjos ficaram sob responsabilidade de Roberto Talma.

As primeiras gravações das duas novelas transcorreram praticamente ao mesmo tempo. A Globo estudou várias formas de dar folga a Talma; uma delas, envolvia o esticamento na edição de Pacto de Sangue, praticamente toda gravada antes de ir ao ar, adiando a estreia de ‘Sexo dos Anjos’. Por fim, prevaleceu o lançamento de Top Model em 18 de setembro e da produção das seis na segunda-feira seguinte, 25.

Elenco roubado

Arlete Salles (Carmosina) em Tieta (Divulgação / Globo)

Com três pré-produções em andamento, O Sexo dos Anjos passou por várias trocas de elenco. O primeiro nome a debandar foi Arlete Salles, cogitada para a vilã Vera. A atriz foi requisitada pela equipe de Tieta, onde defendeu Carmosina. Eva Wilma chegou a ser cotada para substituí-la; o papel, no entanto, ficou com Norma Bengell.

Intérprete de Perpétua, a vilã cômica de Tieta, Joana Fomm também deixou a novela das seis, na qual viveria Leonor. Sylvia Bandeira chegou a ser cogitada para a figura antes da escalação de Myriam Pérsia.

Já Reginaldo Faria abriu mão de Renato / Padre Aurélio por conta de Ascânio, do folhetim das oito. Mário Gomes, longe da Globo desde 1984 – então conversando com a Manchete para estrelar o seriado de aventura Indiana Gomes –, ficou com o falso pároco.

A última mudança de O Sexo dos Anjos para Tieta envolve Luciana Braga. Cotada para Ruth, ela partiu para o horário pós-Jornal Nacional, deixando a personagem a cargo de Sílvia Buarque. Antes desta assumir, porém, a endiabrada irmã de Isabela chegou a contar com Bia Seidl como intérprete.

Bia, que havia desistido do convite para Kananga do Japão, da Manchete, emplacou Diana, o Anjo da Morte, após a produção sondar Lúcia Veríssimo, Lucinha Lins e Bruna Lombardi para o papel.

Outros nomes que ficaram de fora de O Sexo dos Anjos: Paula Lavigne, substituída por Rosana Garcia (Lucinha); Adriano Reys, abrindo espaço para Paulo Figueiredo (Durval); Malu Mader, deslocada para Top Model; e Hugo Carvana.

Em família

Humberto Martins como Otávio em O Sexo dos Anjos (Divulgação / Globo)

A trama contou com participações de parentes do elenco. Além das irmãs Isabela e Rosana Garcia, Nenna, irmão de Felipe Camargo, respondeu pelo sacristão Léo, auxiliar do Padre Julião (Emiliano Queiroz).

Em um flashback envolvendo o passado de Teófilo Muniz (Daniel Filho) e sua família, os personagens de Marcos Frota (Tomaz), Humberto Martins (Otávio) e Isabela Garcia quando crianças foram interpretados por familiares destes: Apoena, filho de Marcos; Otávio, sobrinho de Humberto; Carolina, sobrinha de Isabela e filha de Rosana – também dama de honra no casamento de Gigi (Carla Marins) e Zé Paulo (Irving São Paulo).

A morte de Lutero Luiz

Lutero Luiz como Bastião em O Sexo dos Anjos (Bazilio Calazans / Globo)

O Sexo dos Anjos ficou marcada pela despedida do ator Lutero Luiz, o jardineiro Bastião. O ator faleceu em 20 de fevereiro de 1990, cerca de um mês antes do término da produção. Ele lutava contra um câncer no fígado.

As últimas cenas de Lutero foram exibidas no capítulo 122, no ar em 14 de fevereiro – Bastião aconselhava o filho Cássio (Rodolfo Bottino) a ser honesto com a então namorada, Lucinha.

Fábio Sabag, diretor geral da novela, decidiu junto à equipe que Bastião não sairia de cena. Os personagens prosseguiram com referências ao jardineiro; Lutero Luiz foi homenageado no último capítulo.

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