Edição mal feita, ótima cidade cenográfica, fortuna duvidosa: a primeira semana de A Viagem
27/12/2020 às 14h06
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Adoro A Viagem, em minha singela opinião, uma das melhores novelas da década de 1990. Pelo visto, muita gente concorda comigo, haja vista toda a repercussão que gera a cada reexibição. Desta vez, não foi diferente: meus últimos textos sobre a novela estão entre os mais lidos dessa coluna.
Como a assisti apenas uma vez, na exibição original, há 26 anos (não vi nenhuma das reprises), estou disposto a acompanhá-la diariamente (o que já faço com Sassaricando). Por isso, começo neste espaço as resenhas semanais de A Viagem, com impressões sobre a trama e a produção à medida que a novela avança.
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A Viagem – Semana #1
• O que mais me chamou a atenção na primeira semana foi a edição ruim, que pareceu feita às pressas, mostrando que a novela realmente foi idealizada a toque de caixa, como escrevi neste texto. O diretor-geral Wolf Maya teve apenas vinte dias para colocar A Viagem no ar, o que é um espaço de tempo curtíssimo.Várias sequências foram mal cortadas, talvez por cenas suprimidas. Ficou perceptível, por exemplo, em um entrecho com o casal Raul e Andreza: eles decidem levar Dona Guiomar até a fazenda e, logo depois, o casal aparece olhando as estrelas em uma porteira, para em seguida serem vistos no apartamento de Diná (?).
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• No capítulo de sábado, houve um deslize de roteiro que só os mais atentos pescaram. Alberto chama a mãe de Téo de Josefina, quando o nome da personagem é Josefa (Tânia Scher), como ela já havia sido chamada anteriormente. Em outro texto, destaquei que, para o remake, os nomes de vários personagens foram alterados. Dona Josefina era como se chamava a mãe de Téo na primeira versão da novela (na TV Tupi), quando a personagem foi vivida pela atriz Yolanda Cardoso.
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Aliás, sobre esta sequência, há uma outra discrepância. Na primeira cena, quando Alberto (ele médico) aborda Josefa (enfermeira), eles se tratam com cerimônia. Ela se refere a ele, inclusive, por “senhor”, para na cena seguinte (em que ele finalmente a chama de Josefa) se tratarem com a intimidade de velhos conhecidos. Erro no roteiro e na direção, que não percebeu a diferença – ou deixou passar pelo tempo escasso.
• Estava na moda entre as novelas da época longas sequências de ação, com perseguição de carros e tiroteio. Alexandre fugindo da polícia mostra bem isso. São cenas bem dirigidas, mas que hoje, quase caíram em desuso e soam até maçantes. Eu achei longa demais, mas ok, foi uma pirotecnia válida para chamar a atenção do público na estreia.
• As cenas da vila na Urca, ondem moram Estela, Lisa, Cininha e outros personagens, são muito boas, com uma cidade cenográfica bem feita e interiores reais das casas. A direção até arrisca planos sequência, em que a câmera pega o ator do lado de fora e o acompanha entrando na casa e andando pelos ambientes. Só me perturba a casa de Estela ser toda verde – mas isso é implicância minha (rs).
Vários já perceberam que essa cidade cenográfica já havia sido usada em outras novelas (como Felicidade e Lua Cheia de Amor) e, certamente, continuou sendo usada. O morro da Urca inserido por computador, com direito a bondinho, também é ótimo, até para os olhos de hoje. É perceptível que foi inserido por computador, mas tem o seu charme.
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• A trilha sonora de A Viagem é um deleite à parte, bem executada, com músicas ótimas, que marcam bem os personagens e ficaram em nossa memória afetiva. Minha preferida: “Caminhos de Sol“, gravada pelo grupo Yahoo, tema de Lisa.
• A videolocadora de Diná e Andreza remete à época (década de 1990) e traz uma nostalgia gostosa. Sempre fui rato de videolocadora e fico prestando atenção nos cartazes, tentando identificar os filmes daquele tempo.
• Algo que sempre me perguntei: como pode Diná ser rica como sócia da cunhada em uma única videolocadora, que é visivelmente pequena? A família Toledo “veio de baixo”, como explicou Raul nessa semana. Sua irmã Estela vive com o orçamento apertado, tendo de fazer bijuterias para complementar as despesas. Mesmo que fosse uma grande cadeia de locadoras, não justifica.
O marido de Diná, Téo, é um arquiteto em início de carreira e sua mãe é enfermeira. Aliás, Diná ajudou financeiramente Téo na faculdade. Lancei no Twitter a dúvida sobre o dinheiro de Diná e algumas pessoas responderam que adiante será explicado que ela foi uma modelo famosa, talvez de carreira internacional. Vamos aguardar.
• Por fim, destaco o gancho do capítulo de sexta para sábado em que Diná empurra Mauro e ele vai parar do outro lado da mesa. A cena é muito boa e até voltei para ver de novo: não há corte, só após a queda de Mauro. O ator Eduardo Galvão realmente cai sobre a mesa, derrubando tudo e se estatelando no chão. Imagina gravar isso, o tanto de ensaio que teve! O ator podia se machucar de verdade – se é que não se machucou, a gente não sabe!
A história está apenas começando e estou adorando rever a novela. Semana que vem, dou continuidade.
PS: Carmem é a precursora de Betty, a Feia, né!
AQUI tem tudo sobre A Viagem: trama, elenco e personagens, trilha sonora e muitas curiosidades.
SOBRE O AUTOR
Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira.
SOBRE A COLUNA
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.