André Santana

Silvio Santos foi sepultado no dia 18 de agosto, dia em que o SBT planejava lançar seu novo serviço de streaming, o +SBT. O falecimento do animador mudou os planos – algo, aliás, recorrente durante o tempo em que o artista esteve no comando de sua emissora.

Silvio Santos
Silvio Santos

Mas não deixa de ser simbólico Silvio partir num momento em que o SBT busca um novo caminho. A emissora foi criada à imagem e semelhança de seu dono e, agora, precisa buscar uma identidade sem a presença de sua maior estrela.

Meses atrás, o SBT lançou uma nova programação já pensando nessa mudança de paradigma. Mas os resultados iniciais fracos indicam que encontrar este novo caminho será um desafio dos mais espinhosos.

Fase de transição

O fim da década de 2010 e início dos anos 2020 já estava marcado por uma fase de transição do SBT. Ainda antes de se afastar da emissora, Silvio Santos já tinha planejado sua sucessão, envolvendo suas herdeiras nas empresas de seu Grupo. Essa fase de transição ficou evidente aos olhos do público.

Afastado do canal de maneira forçada por conta da pandemia da Covid-19, e com o SBT amarrado pelo mesmo motivo, Silvio Santos viu sua emissora perder fôlego. E suas últimas decisões como diretor de programação, lançando enlatados de gosto duvidoso, já mostravam que a emissora andava meio perdida.

O lançamento da nova programação, capitaneado pela herdeira e vice-presidente do SBT, Daniela Beyruti, mostrou a vontade da emissora de reagir diante da crise. A grade lançada não refrescou a situação, mas, ao menos, colocou o SBT de volta no jogo. Foi colocado ordem na casa.

Busca de identidade

Patrícia Abravanel e Daniela Beyruti, filhas de Silvio Santos
Patrícia Abravanel e Daniela Beyruti (Reprodução / Web)

O maior desafio do novo comando do SBT é entender onde a emissora se encaixa num tempo de grandes mudanças no cenário televisivo. O SBT sempre foi visto como uma emissora popular, quase artesanal, com uma grade de programação que, quase sempre, replicava o que fazia seu dono.

Silvio Santos se consagrou à frente de programas de auditório, com brincadeiras, música, games e distribuição de prêmios. E a programação do SBT sempre refletiu a “alma” do dono. A emissora foi sustentada por “apresentadores-seguidores” do dono, com programas de auditório variados. A distribuição de prêmios ia dos infantis às sessões de filme.

O SBT, neste contexto, era puro entretenimento. Tanto que o jornalismo nunca foi o forte do canal, embora a emissora tenha feito história com produtos como TJ Brasil, Aqui Agora e, mais recentemente, com o premiado Conexão Repórter.

Quem vê o SBT?

Já a nova grade do SBT vem muito calcada em programação ao vivo, o que parece lógico em tempos de serviço de streaming. Porém, as novas apostas são programas informativos, o que foge do DNA da emissora. Não por acaso, Chega Mais e Tá na Hora não emplacaram.

Dentre os novos programas, a maior audiência é o Sabadou com Virgínia, uma atração de variedades com auditório. Ou seja, o público aprovou o programa que parece carregar a essência da emissora. Isso sem falar no bom desempenho do Domingo Legal e do Programa Silvio Santos – que segue prestigiado mesmo sem a presença de seu titular.

Para este público raiz do SBT, a plataforma de streaming +SBT chega em boa hora. O espectador saudoso dos clássicos do canal poderá assisti-los quando quiser em uma plataforma gratuita. Considerando as boas experiências que o SBT possui no digital, como os canais SBT News e TV Zyn, são boas as chances de dar certo.

Já para o bom e velho SBT, o desafio será modernizar a programação sem perder de vista o que o canal sempre foi. Encontrar o equilíbrio necessário para buscar um público novo sem abrir mão dos espectadores fiéis será a chave para a sobrevivência do SBT sem seu criador.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor