É fato: Fera Radical, folhetim produzido em 1988 para o horário das 18h, ocupa posição de destaque entre os melhores trabalhos de Walther Negrão. Não à toa, a trama – em reprise no VIVA – figura nas primeiras posições do ranking de audiência da faixa, na década em questão. E o bom desempenho, como o TV História já publicou, se repete agora. Embora tenha começado claudicante, a novela encontrou seu norte e chegou ao capítulo 184, que o canal fechado mostrou agorinha, “redondinha”.
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No roteiro em questão, Cláudia (Malu Mader), a “fera” do título, dispara acidentalmente contra a sogra Joana (Yara Amaral) – responsável pela chacina que dizimou a família da “mocinha dos computadores”. A sequência é, certamente, a mais conhecida da novela; e foi aguardada com ansiedade pelo público do repeteco. A morte de Joana, contudo, nunca foi o objetivo de Cláudia. Ao reabrir o inquérito acerca das mortes de seus pais e irmãos, a controversa heroína reduziu sua arqui-inimiga a pó
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De longe, talvez seja a mais trama de vingança mais “eficaz” da nossa teledramaturgia – embora Cláudia lutasse mais por justiça do que pelo revide. A analista de sistemas não declinou de seu objetivo, como Tieta (Betty Faria), da novela homônima (1989), ou Flamel (Edson Celulari), de Fera Ferida (1993). Também não perdoou sua carrasca, como Nina (Débora Falabella) fez com Carminha (Adriana Esteves) em Avenida Brasil (2012). Queria se vingar e se vingou.
Mas Joana não aceitou o “fim” imposto à ela, acuada pela família que tanto lutou para manter em pé; luta esta que custou a vida dos pais e irmãos de Cláudia. Responsáveis pelo conflito central de Fera Radical, as duas fugiam do maniqueísmo vigente em quase todas as novelas, deixando de lado os perfis clássicos de mocinha e vilã. Ambas possuíam contornos semelhantes e batalhavam, cada uma a sua forma, pelo mesmo intento: defenderem suas famílias.
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Enquanto Cláudia almejava vingança contra os responsáveis pela chacina que dizimou os Silva, Joana tentava evitar a dissolução dos Flores, iniciada após a chegada da analista de sistemas à pequena (e fictícia) cidade de Rio Novo, no interior fluminense. Atendendo ao chamado de Heitor (Thales Pan Chacon), Cláudia passa a trabalhar nas empresas das famílias Flores e Orsini, escondendo consigo o real motivo que a fez aceitar tal emprego.
Lançando mão de sua aparente fragilidade e de seu charme, ela consegue conquistar Heitor e Fernando, balançando a relação entre os irmãos, e ganha a confiança de Altino (Paulo Goulart), patriarca da família a quem atribuía, de início, a autoria do crime do qual buscava vingança. Joana se incomodava com a presença da intrusa e tentava, de modo discreto, livrar-se da moça, contando, num primeiro momento, com o respaldo de Marília (Carla Camuratti), noiva de Heitor e apaixonada por Fernando.
Conforme Cláudia ganha terreno, Joana passa a recorrer a artifícios como chantagens, dissimulação e atos de terrorismo – como quando ateia fogo a cinco bonecos, que simbolizavam a família de Cláudia, amedrontando esta, que sofre com constantes pesadelos relacionados à chacina. No confronto final, Joana, munida de um revólver, sai à procura de Cláudia, a esta altura provando o vestido de noiva que usaria em seu enlace com Fernando. O embate culmina com a morte da matriarca.
Foi o final do conflito de duas mulheres de personalidade forte, com objetivos parecidos e atitudes semelhantes. Era a fuga do óbvio, da heroína clássica incapaz de pegar em uma arma e da vilã que agia somente por maldade. Também a última cena de Yara Amaral, falecida no naufrágio do Bateau Mouche, na virada de 1988 para 1989. Yara saiu de cena para entrar na história. Fera Radical celebra o seu talento, o de Malu e a eficiência de um bom enredo nas mãos de um hábil autor.