Êxito no Vale a Pena Ver de Novo, O Rei do Gado repete em mais uma reprise o sucesso que alcançou em 1996. No entanto, nem tudo foram flores durante a primeira exibição do folhetim. A trama estrelada por Antonio Fagundes e Raul Cortez (foto abaixo) enfrentou alguns percalços nos bastidores em razão do atraso na entrega dos capítulos.

Raul Cortez - O Rei do Gado
Divulgação / Globo

Doente, o autor Benedito Ruy Barbosa precisou desacelerar, o que provocou uma verdadeira correria nos bastidores. A direção da Globo chegou a oferecer ajuda ao autor, que recusou prontamente e seguiu escrevendo a novela mesmo com problemas de saúde.

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Correria

O Rei do Gado - Antonio Fagundes e Patricia Pillar
Divulgação / Globo

Enquanto escrevia O Rei do Gado, Benedito Ruy Barbosa enfrentou diversos problemas de saúde. Acometido de uma gastrite e uma crise de coluna, ocasionados pelo estresse de seu ofício, o autor começou a atrasar a entrega dos capítulos da trama. Com isso, a equipe liderada pelo diretor Luiz Fernando Carvalho precisou correr para manter tudo de pé.

No auge da crise, as cenas de O Rei do Gado eram gravadas às pressas para irem ao ar já no dia seguinte. Deste modo, a equipe e o elenco da trama tiveram que se submeter a uma verdadeira maratona de gravações. Praticamente não haviam folgas ou descansos.

Para tentar conter a crise que se abatia nos bastidores, a direção da Globo tentou intervir. A emissora recrutou o autor Marcílio Moraes para ajudar Benedito a escrever os capítulos e retomar a frente de gravações da novela.

Recusou ajuda

Benedito Ruy Barbosa
Divulgação / Globo

Porém, Benedito Ruy Barbosa não aceitou o auxílio do veterano e optou por seguir escrevendo sua novela sozinho, mesmo com a sua saúde abalada. Ao jornal O Globo, em 7 de janeiro de 1997, o autor explicou porque recusou o auxílio de Marcílio Moraes.

“Não é teimosia: não sei trabalhar com outras pessoas. A história está toda na minha cabeça, como vou passar isso para alguém? Tenho um compromisso com o público, e não abro mão de sentar eu mesmo diante do computador. Hoje, as pessoas escrevem a novela em grupos, e, por isso, as tramas estão sem autoria”, alfinetou.

Nem mesmo Edmara e Edilene Barbosa, filhas de Benedito que são creditadas como colaboradoras no roteiro, o ajudavam a escrever a novela. O autor revelou que elas apenas liam os capítulos e acompanhavam os desdobramentos das tramas para ficarem de “stand by”, caso ele precisasse se ausentar.

“É doloroso abrir o jornal e ler que o autor atrasou os capítulos. Isso me enche de culpa. Sei que estou exigindo muito sacrifício de todos. Se eu fosse outro, teria aceitado ajuda e ido pescar. Mas acho que não seria correto”, admitiu.

Problema recorrente

Esperança - Priscila Fantin e Reynaldo Gianecchini
João Miguel Júnior / Globo

Autor bastante dedicado ao seu ofício, Benedito Ruy Barbosa sempre ficava doente cada vez que escrevia uma novela. Tanto que ele costumava prometer, ao fim de cada folhetim, que não voltaria a escrevê-los. Com O Rei do Gado não foi diferente. Ao O Globo, ele afirmou que seria sua última novela e que, depois, se dedicaria às minisséries.

No entanto, isso não aconteceu tão cedo. Benedito ainda escreveu duas novelas no horário nobre da Globo: Terra Nostra (1999) e Esperança (2002). As duas também tiveram problemas com atrasos de capítulos em razão da saúde do autor.

Porém, em Esperança, a situação foi mais crítica e exigiu a intervenção da Globo. A emissora afastou Ruy Barbosa da trama e entregou a novela a Walcyr Carrasco, que conseguiu acabar com os atrasos e até elevou a audiência da trama. Mas a situação deixou Benedito furioso.

“Quando ele [Carrasco] assumiu a novela, deixei de assistir. Se visse, queria bater nele. Na época, liguei para o Mário Lúcio Vaz [então diretor artístico da Globo] e disse: ‘Avisa o Walcyr que, quando eu encontrar com ele, eu vou dar porrada, entendeu?’. Ele simplesmente acabou com minha novela. Não terminou como eu queria. Depois, mandou uma carta pedindo desculpas. Coitado! No fim, tudo terminou bem”, declarou o autor ao livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor