Benedito Ruy Barbosa nunca foi um autor conhecido por ser ágil. Pelo contrário. Como o novelista se propôs a trazer o Brasil profundo para as telas, suas histórias seguem o ritmo da paisagem rural, com espaços para contemplação e silêncio.

Sophie Charlotte em Renascer
Sophie Charlotte em Renascer

Mas o remake de Renascer está levando tal estilo às últimas consequências. Bruno Luperi tem economizado a trama criada por seu avô, fazendo da nova versão uma novela mais lenta que o folhetim original, de 1993.

A falta de ritmo somada à falta de carisma dos personagens tem feito o público se cansar de Renascer. A novela não conseguiu manter o pique da primeira fase e, desse jeito, dificilmente vai bater algum recorde de audiência na Globo – o que era esperado após o sucesso de Pantanal.

Mais lenta

Ao contrário da versão original, cuja primeira fase contou com apenas quatro capítulos, o remake de Renascer estendeu o prólogo para 13 episódios. Com isso, a trama já ficou “atrasada” com relação à obra original.

Diante disso, Bruno Luperi poderia ter acelerado parte dos acontecimentos da segunda fase. Afinal, Renascer tem momentos interessantes, com grandes viradas, trocas de casais e sequências emocionantes.

Porém, o autor do remake insiste em seguir à risca a versão original e, ainda, parece controlar ainda mais o conta-gotas. Tanto que o remake mostrou, na altura do capítulo 45, situações que estavam no capítulo 30 da primeira versão.

Não acontece nada

Vladimir Brichta como Egídio em Renascer
Vladimir Brichta como Egídio em Renascer (divulgação/Globo)

Diante disso, acompanhar os spoilers da novela nos sites especializados está sendo mais interessante do que assistir Renascer. Já se sabe que virão boas viradas, como a morte de Venâncio (Rodrigo Simas), o envolvimento de Eliana (Sophie Charlotte) com Damião (Xamã), ou o acirramento da rivalidade entre José Inocêncio (Marcos Palmeira) e Egídio (Vladimir Brichta).

Mas, por enquanto, há muita conversa e pouca ação. Renascer aborrece com situações que se repetem, como a insistência de mostrar Egídio roubando as roupas de Joaninha (Alice Carvalho) do varal.

Aliás, percebe-se que o personagem de Vladimir Brichta tem potencial para despertar o ódio do público tal qual Tenório (Murilo Benício) de Pantanal (2022). Porém, até agora, as vilanias dele são poucas. O ator está ótimo no papel e o público anseia para que ele se mostre como o bandido prometido.

Sem carisma

Não bastasse a falta de ritmo, Renascer também peca pela ausência de personagens carismáticos. Novamente comparando com Pantanal: a trama anterior tinha tipos como Filó (Dira Paes) ou Maria Bruaca (Isabel Teixeira), que despertavam a torcida do público.

Já Renascer não tem um tipo adorável até agora. José Inocêncio é um homem controverso e seus quatro filhos são intragáveis. Buba (Gabriela Medeiros) tinha potencial, mas agora ela aborrece com a obsessão em se tornar mãe. Aliás, ela até se esqueceu que está desempregada. Vai sustentar o filho como?

Eliana de Sophie Charlotte também prometia, mas, até agora, suas cenas se resumem a abuso de álcool e desaforos gratuitos. Vamos ver se, chegando à fazenda, vai mudar de rumo, já que, por enquanto, suas cenas estão cansativas.

Diante disso, não há muito o que o público pode fazer. A solução é tirar um cochilo e acordar apenas quando a prometida virada na trama finalmente acontecer.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor