Em 1973, Edison Braga foi um dos diretores de Mulheres de Areia, ao lado de Carlos Zara, que também atuava na trama. Quando a Globo fez um remake da trama, 20 anos depois, o profissional deu entrevista à Folha de S.Paulo onde deixou suas impressões.

“Hoje eu não vejo novela, só espio. Vi os primeiros capítulos e achei muito bem feitos, os cenários naturais muito bonitos, os estúdios bem produzidos”, destacou Braga. “Não achei bom terem feito um mix com O Espantalho. Acho que Mulheres se bastava, era um folhetim assumido e, na época, bem aceito”, completou o diretor, que, na época, estava com 50 anos e trabalhava com vídeos institucionais.

Sobre a escolha de Glória Pires para viver as gêmeas Ruth e Raquel, Braga deixou clara a sua opinião. “Achei a Glória Pires à altura dos personagens, mas ainda assim acho que a Eva foi melhor”, enfatizou. “O Tonho do Marcos Frota é muito bom”, continuou.

O profissional também aproveitou para contar alguns detalhes sobre a produção da trama original. “A novela tinha cerca de 65% de externas. Como só havia o diretor e o diretor de TV, passávamos madrugadas estudando”, explicou.

Sem os modernos recursos de computação gráfica usados pela Globo, Braga explicou como eram feitas as cenas em que as gêmeas contracenavam. “Era rudimentar. A gente gravava tapando um lado da lente com cartolina preta. Tentava deixar, quando era estúdio, uma intersecção de paredes para disfarçar. Depois soltava o tape gravado e fundia com o que a Eva Wilma estaria fazendo na hora. Ela memorizava o tempo das falas gravadas e contracenava. Também usávamos dublê, plano e contraplano, cortes”, destacou.

Braga também citou um imprevisto que pouca gente sabe: Eva Wilma se acidentou durante a trama e teve que ausentar por um longo período.

“A Eva Wilma sofreu um acidente de carro, cortou um lado do rosto e ficou um mês fora da novela. A Ivani teve que cair para tramas paralelas. Quando a Eva voltou a gravar, a gente tinha o cuidado de pegar ela do lado que não aparecia a cicatriz. Mas quando era uma cena das gêmeas, uma delas era sacrificada, geralmente a Raquel, que se mexia mais”, ponderou.

Para concluir, o diretor disse que tinha responsabilidade no romance entre Eva Wilma e Carlos Zara, que começou exatamente nessa trama.

“Eu me sinto meio cupido porque mandava eles repetirem as cenas de beijo, e dizia para o Zara abrir mais a boca, para ficar mais sensual”, concluiu.

Além da Tupi, Braga dirigiu produções de teledramaturgia na Band e na TV Cultura, além do programa Hora da Verdade, que Márcia Goldschmidt apresentou no início dos anos 2000.

O diretor morreu em 11 de junho de 2008, aos 65 anos, em São Paulo (SP).

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor