André Santana

A Record teve uma “fase de ouro” em sua teledramaturgia. O sucesso de A Escrava Isaura (2004) fez com que a emissora passasse a investir pesado em novelas de qualidade. O plano era fazer algo nos mesmos moldes da Globo, contando, inclusive, com vários profissionais vindo da concorrente.

Prova de Amor

Para colocar seu ambicioso plano em prática, a emissora investiu num complexo de estúdios no Rio de Janeiro, o RecNov, e concentrou sua produção de dramaturgia na “cidade maravilhosa”, onde vivem artistas, técnicos e produtores vindos da Globo. Depois disso, colocou no ar atrações como Prova de Amor (2005), um grande sucesso que trazia atores e paisagens identificados com as produções globais.

Apesar de copiar a Globo, a Record conseguiu dar uma assinatura própria às suas novelas quando abriu a faixa das 22 horas, apostando em tramas mais pesadas e de temática policial. Tramas como Vidas Opostas (2006), Caminhos do Coração (2007), Chamas da Vida (2008) e Poder Paralelo (2009) caíram nas graças do público.

Gabriel Braga Nunes em Poder Paralelo

Mas a fórmula passou a fraquejar a partir de Máscaras (2012), que marcou o declínio da “fase de ouro”. Depois do fiasco da novela assinada por Lauro César Muniz, a emissora começou a ter dificuldades em repetir o sucesso do passado. O fraco desempenho de Dona Xepa (2013), Pecado Mortal (2013) e Vitória (2014) marcou o fim de uma era.

Em baixa

TAGEM

Mais recente aposta na dramaturgia bíblica da Record, Todas as Garotas em Mim estreou batendo um recorde ingrato: foi a pior estreia de uma novela desde que a emissora passou às mãos de Edir Macedo. Com 4,8 pontos no Kantar Ibope, o primeiro capítulo da história de Mirella (Mharessa) foi menos visto que a estreia de Canoa do Bagre (1997), primeira novela da emissora depois que o canal passou a ser controlado pela Igreja Universal, que anotou 6 pontos em sua estreia.

No entanto, TAGEM pode “respirar aliviada”, já que este rótulo ingrato não lhe pertence mais. A estreia menos vista da história da teledramaturgia da Record é, agora, da nova temporada de Reis, que entrou no ar em 10 de agosto. A produção amealhou tímidos 4,6 pontos.

Trata-se de um resultado decepcionante, já que a Record apostava todas as suas fichas no retorno da saga bíblica. Como a primeira temporada estreou com 9 pontos, esperava-se desempenho semelhante, o que não aconteceu.

Decisão crucial

Cristiane Cardoso

Considerada um fiasco, Pecado Mortal teve como média de audiência geral 5,6 pontos. Sua sucessora, Vitória, fechou com 5,8. Depois disso, a direção da Record deu um tempo das novelas policiais e deu início ao projeto de novelas bíblicas. Veio Os Dez Mandamentos, que elevou os índices para 16 pontos. Ou seja, sucesso!

Eis que chegamos a Reis, que ostenta números na casa dos 4 pontos. Bem menos que as últimas novelas policiais da “fase de ouro”. Se o fraco desempenho daquelas tramas fez o canal decretar mudanças na teledramaturgia, é provável que o mesmo aconteça desta vez.

O projeto bíblico da Record está à beira do cadafalso – a não ser que a emissora continue pensando apenas em evangelizar seus telespectadores, independente dos índices do Ibope. A decisão está nas mãos da filha de Edir Macedo, Cristiane Cardoso.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor