André Santana

Apresentada como uma comédia romântica de aventura, Cara e Coragem ainda fica devendo no quesito romance. Apesar de haver uma tensão sexual evidente envolvendo os protagonistas Pat (Paolla Oliveira) e Moa (Marcelo Serrado), a história que os cerca não leva o público a torcer pelo casal.

Cara e Coragem

Na verdade, a trama de Claudia Souto é ousada ao apresentar Pat como uma mocinha que trai o marido, Alfredo (Carmo Dalla Vecchia). A dublê tem uma família que parece saída de um comercial de margarina, com belos filhos e um marido que a trata como uma rainha.

Para “piorar”, Alfredo enfrenta um sério problema de saúde. Ou seja, mais do que nunca, ele precisa do apoio da esposa. Sendo assim, fica difícil torcer para que ela se acerte com o companheiro de trabalho.

Moderna

Cara e Coragem

Claro que Pat não é uma mulher mau-caráter, muito pelo contrário. Ela é uma mulher moderna e independente, que tem todo o direito de descobrir que não é mais apaixonada pelo marido. Do mesmo jeito, é perfeitamente possível que ela se descubra apaixonada pelo melhor amigo. Coisas da vida.

No entanto, o público não foi cúmplice desta transformação de Pat. Quando a novela começa, já fica claro que Pat gosta de Moa, e não de Alfredo. Ao mesmo tempo, Alfredo é apresentado como um cara boa-praça. Neste contexto, as motivações de Pat são subjetivas.

Cara e Coragem

Além disso, Alfredo acaba despertando a compaixão do público, o que pesa contra Pat. O ilustrador chegou ao ponto de oferecer um jantar romântico à esposa quando descobriu que Pat e Moa trocaram um beijo.

Isso acaba pesando contra o romance principal da história. Ao torcer por Pat e Moa, o público terá que torcer contra Alfredo. Como isso é possível?

Passado

Em Família

Um problema parecido aconteceu com Manoel Carlos em Em Família (2014). O autor tentou emplacar um romance entre Clara (Giovanna Antonelli) e Marina (Tainá Müller), mas não criou condições para o público torcer pela história de amor entre as duas mulheres.

Isso porque Clara era casada com Cadu (Reynaldo Gianecchini), com quem tinha um filho. Cadu era apresentado como um rapaz boa-praça, querido por todos e apaixonado pela esposa. Além disso, assim como Alfredo, Cadu também sofria com um grave problema de saúde.

Assim, o público entendeu que Marina era uma “destruidora de lares”, e que Clara era uma mulher volúvel. O casal, então, não caiu nas graças da audiência.

O mesmo deve acontecer com Pat e Moa. Até aqui, o público da novela das sete não parece muito disposto a torcer para que a dublê abandone Alfredo e dê uma chance ao amigo. Como será que Claudia Souto vai resolver isso?

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor