Você sabia que as versões de Éramos Seis produzidas pelo SBT, em 1994, e pela Globo, entre 2019 e 2020, não foram totalmente fieis ao livro de Maria José Dupré (1898-1984), especialmente no final, quando foram realizadas diversas mudanças. Personagens escaparam da morte, Lola teve seu desfecho amenizado e Clotilde e Almeida puderam ser felizes para sempre.

Em 1994, comovido com a história de Lola, que terminava sozinha e completamente abandonada em um asilo, o público fez um abaixo-assinado solicitando a um dos autores da trama, Rubens Ewald Filho (1945-2019), pedindo um final mais leve para a mãe-heroína da trama.

Em entrevista ao jornal O Globo de 30 de outubro daquele ano, no entanto, o autor disse que não mudaria radicalmente esse desfecho. “Demos uma atenuada, para que o final não fosse baixo-astral como o do livro. Dona Lola vai para um asilo de freiras, onde cuidará das crianças da creche”, explicou.

“Lola tem uma visão do marido morto, Júlio (Othon Bastos). Em 1942, velhinha e de cabelos brancos, Lola reclama que ele a abandonou. Júlio responde que, mesmo morto, estava ao lado dela o tempo todo”, destacou a Folha de S.Paulo de 13 de julho de 1994.

Já na versão da Globo, o final foi feliz: Lola (Glória Pires) chega a ir para o asilo, mas é resgatada por Afonso (Cássio Gabus Mendes), com quem termina seus dias. O personagem masculino, no entanto, sequer existia no livro.

Mais mudanças

Outra mudança aconteceu no caso do casal Clotilde e Almeida. Após muito sofrimento, ao contrário do que acontece na obra, eles terminaram juntos. “Já que Lola termina tão mal, pelo menos Clotilde encontrará a felicidade”, explicou Ewald à Folha de S.Paulo de 4 de setembro de 1994.

Em entrevista ao jornal O Dia de 13 de novembro de 1994, o autor falou um pouco mais sobre essa novidade, incluindo o perdão de Lola à irmã. “O público sofreu demais durante esses cinco meses e merecia ser premiado com um desfecho positivo. As mães se identificam com Lola. Ela não poderia se agarrar a preconceitos antigos. Quero mostrar que as pessoas evoluem”, esclareceu.

Outras modificações também foram feitas nas duas versões. Na mesma matéria do jornal O Dia, Ewald explicou algumas delas. “No romance, há uma carnificina. Alonso [atual Afonso], Higino, Candoca e Emília morreram na última passagem de tempo. E essas mortes não têm função dramática. Resolvi deixá-los vivos”, contou.

“Emília sofre derrame e termina seus dias em uma cadeira de rodas. Justina se cura e vira artista e escritora. Adelaide torna-se nobre ao se casar com um conde italiano”, continuou a reportagem, que também destacou o final feliz para o casal Olga e Zeca junto com seus seis filhos.

A versão de Éramos Seis do SBT foi exibida entre 9 de maio e 5 de dezembro de 1994, obtendo médias de 15 pontos de audiência, índice considerado satisfatório por Silvio Santos, de acordo com a mídia da época.

Já a versão da Globo, no ar entre 30 de setembro de 2019 e 28 de março de 2020, teve seu desfecho em meio à explosão da pandemia de Covid-19, sendo a última novela inédita a ser finalizada pela emissora antes da exibição de reprises.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor