A atual temporada de Malhação teve um início desanimador e foi só piorando ao longo dos meses, infelizmente. A história de Patrícia Moretzohn, baseada no formato de 30 Vies, uma produção canadense, não deu certo por várias razões e uma delas é a superficialidade do desenvolvimento dos conflitos dos personagens. Mas o que antes era observado apenas no conjunto da obra, agora também é visto na resposta da audiência: os números nunca foram satisfatórios e vêm caindo cada vez mais.

Pela primeira vez na história, o seriado adolescente, no ar há 23 anos, ficou duas vezes na vice-liderança, perdendo para o sensacionalista Cidade Alerta, da Record, na semana passada. A trama vem penando para conseguir em torno de 14 pontos de audiência, o que já é um índice preocupante. A sua média geral já está com quatro pontos a menos que Malhação – Viva a Diferença, sucesso de público e crítica de Cao Hamburger. Embora 16 pontos de média não seja catastrófico, esse número pode diminuir até o ano que vem se continuar lutando para não perder a liderança para a concorrência.

Para culminar, esse fiasco acaba afundando Espelho da Vida, que vem obtendo índices bem abaixo das expectativas. Aliás, a novela de Elizabeth Jhin também ficou atrás do mesmo Cidade Alerta duas vezes e vem preocupando a Globo.

A história da autora vem se mostrando arrastada demais e precisa urgentemente avançar, mas o folhetim tem qualidade e potencial. Não merecia uma audiência tão baixa, ao contrário de Malhação – Vidas Brasileiras. É um enredo muito bem construído. Os enigmas da trama central despertam atenção e tudo parece muito bem entrelaçado. Ainda é uma produção promissora.

Vale lembrar, inclusive, que a primorosa Orgulho & Paixão conseguia elevar em torno de seis pontos enquanto estava no ar. O folhetim de Marcos Berstein fazia milagres em virtude do sucesso, pois recebia péssimos índices da atual temporada. A história de Jhin não vem conseguindo tal feito, principalmente porque ainda nem chegou na metade dos acontecimentos previstos.

É preciso, ainda, mencionar o fracasso da reprise de Belíssima, que acaba ocasionando um “efeito dominó” na grade da emissora. No entanto, Malhação – Viva a Diferença conseguia elevar os baixos índices de Celebridade, outra reapresentação fracassada da Globo.

O maior problema de Malhação – Vidas Brasileiras é a construção rasa dos personagens que ainda fazem um rodízio de protagonismo muito mal desenvolvido. É impossível solucionar os dramas apresentados pela autora em apenas quinze dias (às vezes até menos). O formato de 30 Vies não funciona no seriado adolescente. Não tem como criar qualquer empatia pelos perfis e a conclusão de cada conflito quase sempre fica inverossímil. Para culminar, muitos papéis acabam descaracterizados de acordo com a necessidade do roteiro. A fuga da audiência é bastante compreensível.

Até mesmo quando a autora parece que vai acertar, acaba errando no final. Vide o caso do aluno que sofria de depressão e dava sinais para a professora Gabriela (Camila Morgado) através de trechos de mensagens presentes em textos de vários livros. No início, despertou atenção. O drama de Álvaro (Eike Duarte) tinha tudo para funcionar. Tanto que o momento em que a protagonista flagrou o aluno em seu quarto, prestes a se suicidar – após ter desvendado o sentido de seus recados -, emocionou e os atores se destacaram.

Todavia, após esse bonito instante, a trama foi concluída de forma súbita. Como aquele conflito já havia se encerrado e era a vez de outro personagem protagonizar, o aluno simplesmente viu sentido na vida através do carinho de Gabriela e em poucos dias já estava ótimo. Depressão não se cura assim. O único conflito da temporada, que poderia ter sido um acerto e tanto, naufragou perto do fim.

Agora, a história se baseia na gravidez de uma ex-namorada de Márcio (André Luiz Frambach), que voltou para dizer que o filho era dele. A situação rendeu mais uma briga entre ele e Pérola (Rayssa Bratillieri), pois o rapaz se negou a assumir a criança. Porém, a menina estava mentindo. A questão é que esse personagem é exposto como um ser “complexo”, mas a autora nunca conseguiu apresentá-lo como tal.

Márcio é apenas um sujeito destemperado que sempre tem atitudes deprimentes e depois se arrepende subitamente, pedindo perdão e ficando “legal” até o roteiro necessitar de algum novo conflito. Vale lembrar que ele fez o pai voltar para o alcoolismo simplesmente porque não aceitou o relacionamento entre Rafael (Carmo Dalla Vechia) e Gabriela. Esse contexto complicado acabou resolvido com um simples pedido de desculpas. Difícil de engolir.

Diferente de Espelho da Vida, que se mostra um folhetim ousado e bem escrito, Malhação – Vidas Brasileiras merece o fracasso. Patrícia Moretzohn nunca se encontrou com a sua história e a temporada já foi encurtada pela Globo. Acabaria em agosto de 2019 e agora se encerrará em abril. Ainda assim, é difícil imaginar como a emissora vai aguentar até esse período. Seria bem mais plausível colocar um ponto final na fase ainda em janeiro. Nem há mais conteúdo para tanto tempo no ar e dificilmente os números de audiência reagirão diante do que vem sendo apresentado. A repercussão ainda é nula. Encurtar Viva a Diferença em um mês para a estreia da atual produção definitivamente não foi uma boa ideia.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor