Fiado só amanhã: o dia em que o dono da Globo foi esnobado por um pescador
16/06/2020 às 4h12
É difícil de acreditar, mas o todo-poderoso Roberto Marinho (1904-2003) certa vez foi esnobado por um pescador nos anos 1980, que não quis lhe entregar alguns peixes sem receber o pagamento na hora. O então presidente das Organizações Globo (atual Grupo Globo) tinha como hobby a pesca submarina e, além de praticar, apoiava e patrocinava eventos do gênero.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Quem nos conta essa curiosa passagem, em entrevista exclusiva, é o jornalista Carlos Tavares, 96 anos, amigo pessoal e companheiro de pesca submarina de Marinho. Tavares, que continua na ativa, foi colunista do jornal O Globo durante muitos anos e também trabalhou em outros veículos, como a TV Tupi, quando conheceu o empresário, antes mesmo da criação da TV Globo.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
O jornalista conta que foi bicampeão brasileiro de pesca submarina em 1958 e 1959. Em 1960, Roberto Marinho começou a patrocinar o evento nacional e apoiou a realização do Campeonato Internacional da modalidade. Com a grande repercussão em torno do evento, Marinho se interessou pela pesca submarina e passou a mergulhar junto com Tavares.
LEIA TAMBÉM:
● Após lutar contra câncer, ex-apresentadora do Jornal da Manchete morre aos 65 anos
● Artista de Toma Lá, Dá Cá se recusou a tratar câncer: “Estado terminal”
● Após ser resgatado pela Praça, humorista perdeu luta contra a Aids
A partir daí, foram mais de 20 anos de aventuras no litoral norte de São Paulo, litoral sul do Rio de Janeiro, Santa Catarina, Abrolhos (BA), entre outras localidades, sempre a bordo do iate Tamarind, de Marinho. “Os passeios aconteciam quase todos os finais de semana e partiam da casa de praia que o Roberto tinha em Angra dos Reis”, conta Tavares.
O fato mais inusitado ocorreu na década de 1980, quando eles saíram para mergulhar em Paraty (RJ). “Estávamos no Tamarind junto com o comandante quando ocorreu uma forte tempestade, que deixou as águas sujas, impróprias e perigosas para o mergulho”, explica o jornalista. “Mas o Roberto estava com visitas e queria levar alguns peixes para casa. Só que, com o mar sujo, era impossível”, completa.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Foi aí que eles avistaram um pequeno barco e foram até lá. “Nos aproximamos da embarcação e vimos que os pescadores tinham quatro badejos. O Roberto então teve a ideia de comprar os peixes e levá-los para casa, mas se lembrou que não tinha levado dinheiro”, ressalta.
Desta forma, Roberto Marinho pediu 50 cruzeiros emprestados para Tavares, mas este também não havia levado nada. “Afinal, quem vai levar dinheiro na roupa de mergulho”, brinca. “Ele foi até o comandante e recebeu a mesma resposta. Ninguém precisava de dinheiro no mar”, completa.
A única opção era tentar comprar fiado. Seria fácil para Roberto Marinho, certo? Ledo engano. Ele pediu para o pescador lhe dar os peixes e ir buscar o dinheiro em sua casa na segunda-feira. “Propôs pagar não apenas 50, mas 200 cruzeiros ao pescador, valor muito superior ao acordado”, conta Tavares.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Mas, acreditem, o pescador não confiou e disse que não entregaria os peixes sem o dinheiro. “Vendo que não conseguia convencer o pescador, ele resolveu dizer quem era: ‘eu sou Roberto Marinho, dono da Rede Globo’, pensando que, dessa forma, o homem lhe entregaria os peixes para receber na segunda-feira.
Mas qual foi a surpresa ao ouvir a resposta do pescador: ‘não conheço essa Rede Globo’. Moral da história: Roberto Marinho foi para casa sem nenhum peixe e, sempre espirituoso, achou muito engraçado o pescador nunca ter ouvido falar da emissora”, detalha, aos risos.
Para completar, Tavares conta que durante as pescarias conversava muito com o amigo sobre esportes, literatura e cinema. “Dificilmente falávamos de política e economia. Mas numa ocasião, durante uma pescaria, quando o tema era modernização portuária, ele me pediu que fizesse um editorial sobre o assunto. Escrevi no mesmo dia, ele mandou para o redator e o texto saiu no dia seguinte. Com ele era assim”, conclui.