A missão da próxima novela das sete da Globo é difícil porque manter os elevados índices de audiência de Pega Pega é quase impossível. Isso porque a trama que está chegando ao fim é um caso atípico. Superou as nove produções antecessoras, obtendo uma média que não era vista desde o fenômeno Cheias de Charme, em 2012 – ainda que a repercussão seja nula e a história de Cláudia Souto não faça jus a esses números. Mas, se conseguir ao menos não derrubar em mais de dois pontos já é um mérito. E a proposta do novo folhetim é ousada para a faixa.

Ao contrário da atual produção, que aposta em tudo o que o horário das sete costuma ter, o enredo de Daniel Adjafre (que estreia como autor solo) é medieval, abordando reinos e romances entre plebeus e nobres. Apresentar uma novela de época nessa faixa é incomum e a última tentativa fracassou (vide o fiasco de Bang Bang em 2005).

Entretanto, o capricho de Deus Salve o Rei é impressionante e as chamadas – assim como o clipe que pode ser visto aqui – prometem uma história clássica, repleta de cenas de ação e efeitos especiais. A música tema da trama também conquista facilmente através da voz doce de Aurora, cantando Scarborouch Fair.

A premissa se baseia no acordo entre os fictícios reinos de Artena e Montemor. O primeiro é rico em água e o segundo em minério de ferro. Em troca do fornecimento de água de Artena, Montemor oferece minério. Tudo segue em paz por anos, mas o acordo acaba abalado com a morte de Crisélia (Rosamaria Murtinho), rainha de Montemor, avó de Afonso (Romulo Estrela).

O íntegro rei Augusto (Marco Nanini), pai da maquiavélica Catarina (Bruna Marquezine), tentará manter a paz, mas a filha será o maior empecilho. A princesa será o principal fator que estremecerá o clima de paz entre os reinos e a vilã é apaixonada por Afonso (Rômulo Estrela), príncipe herdeiro de Montemor, criado para assumir o trono. O sonho dela é que ele assuma seu posto e a tenha, claro, como rainha.

Porém, o mocinho da novela se apaixona por Amália (Marina Ruy Barbosa), plebeia de Artena, e para ficar com ela não pensa duas vezes em abdicar do trono. Ironicamente, o irmão caçula do protagonista, o deslumbrado Rodolfo (Johnny Massaro), também não se interessa muito pelo trono, pois só quer saber de aproveitar as mordomias que tem e paparicar a esposa Lucrécia (Tatá Werneck), princesa voluntariosa e fogosa. Ou seja, ao contrário das tramas clássicas que envolvem reinos, essa não tem como mote a luta pelo trono e, sim, a fuga dessa responsabilidade. É uma boa sacada do autor.

A sintonia entre Rômulo Estrela e Marina Ruy Barbosa já pode ser sentida nas chamadas e resta torcer para que o romance do par empolgue o público e não seja raso, como ocorreu com Eric (Mateus Solano) e Luiza (Camila Queiroz) em Pega Pega. As cenas deles estão bem bonitas. E vale lembrar que Afonso seria de Renato Góes, que até participou dos ensaios com o elenco. Porém, em virtude de alguns desentendimentos com o diretor Fabrício Mamberti, o ator acabou deixando a produção.

Ignorando os motivos da mudança, a situação acabou sendo ótima para a novela. Primeiro porque Renato acabou de ser o mocinho de Os Dias Eram Assim e segundo porque Rômulo merecia muito essa oportunidade. Há anos fazendo coadjuvantes – por sinal, faria mais um nessa trama – e mostrando talento de sobra, o ator merecia demais um protagonista. Finalmente ele veio.

Além dos citados, o elenco ainda conta com Caio Blat, Fernanda Nobre, Marina Moschen (interpretando Selena, a primeira mulher que se tornará guerreira em meio aos homens), Debora Olivieri, Caco Ciocler, Tarcísio Filho, Marcello Airoldi, Pascoal da Conceição, Marcos Oliveira, Maria Manoella e Ricardo Pereira (vivendo Virgílio, vilão obcecado por Amália). Bia Arantes também está no time e a atriz viverá uma situação peculiar: pelo menos até maio estará na Globo e no SBT ao mesmo tempo – enquanto interpretará Brice, estará no ar como a doce Cecília, mocinha de Carinha de Anjo, já toda gravada.

É preciso também mencionar o drama que a equipe da novela precisou enfrentar com um grave incêndio em um dos estúdios, destruindo todo o ambiente que já havia servido de cenário para várias cenas. Apesar desse horrível contratempo, a reconstrução foi rápida e a estreia ficou mantida para o dia 9 de janeiro, como já era previsto desde o começo. Eu, inclusive, estive na cidade cenográfica semanas antes do incidente e pude admirar todo o capricho da produção – as fotos podem ser conferidas aqui Todos os locais que eu estive não foram afetados pelo fogo, vale ressaltar.

Deus Salve o Rei tem uma boa proposta e a coragem do autor em apresentar uma trama que combina mais com o horário das seis do que das sete merece atenção. Há uma produção muito bem cuidada sendo preparada e resta torcer para a estreia fazer jus ao que vem sendo exposto nas chamadas.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor