Mais um autor estreante dá as cartas no horário das 19h. Depois de Daniel Ortiz (Alto Astral e Haja Coração), Rosane Svartman/Paulo Halm (Totalmente Demais), Maria Helena Nascimento (Rock Story) e Cláudia Souto (Pega Pega), agora é Daniel Adjafre quem assina o novo título das sete, Deus Salve o Rei. A trama estreou nesta terça-feira cercada de expectativas e com uma forte divulgação. E os primeiros capítulos honraram este investimento, com uma história envolvente, boas doses de folhetim, elenco eficiente e lindas imagens.

O enredo da nova trama chama atenção por seu estilo totalmente diferente do que o horário das 19h costuma apresentar. Ambientada nos tempos medievais, a história mostra a relação entre os reinos de Montemor e Artena, que possuem um acordo para que o primeiro forneça seu minério de ferro em troca da água do outro reino.

Essa relação pode sofrer um inevitável desgaste com a morte da rainha de Montemor, Crisélia (Rosamaria Murtinho), e a paixão do príncipe herdeiro, Afonso (Rômulo Estrela), pela plebeia Amália (Marina Ruy Barbosa), moradora do reino vizinho. Apaixonado pela garota, Afonso se desinteressa do trono, abrindo caminho para o irmão mais novo, o inconsequente Rodolfo (Johnny Massaro).

Outro fator ameaçador para a paz entre os dois lugares é a ambição desmedida de Catarina (Bruna Marquezine), princesa herdeira de Artena. Ao contrário da postura conciliadora do pai, rei Augusto (Marco Nanini), a fria monarca quer usar sua ambição a favor de seus planos e, para isto, envolve-se com o calculista Constantino (vivido pelo ator português José Fidalgo), mesmo prestes a se casar.

Desde o início de sua pré-produção, a novela observou um imenso investimento, com riquíssimos cenários e uma impressionante reconstituição de época. As imagens de encher os olhos e o trabalho de caracterização impactaram logo que apareceram – resultado do grande esforço movido pela emissora.

O enredo deixa claro que a trama bebe da fonte do folhetim tradicional, o que não é um demérito – o autor Daniel Adjafre soube dosar bem os elementos de drama e comédia, bem como a construção dos perfis dos personagens também foi acertada. Embora de caráter definido, é possível perceber boas nuances em alguns deles, evitando assim o maniqueísmo rasteiro (presente, por exemplo, em O Outro Lado do Paraíso).

O conjunto de elenco também tem feito um bom começo. Rômulo Estrela, após papeis menores, assumiu o posto de protagonista após a saída de Renato Góes, que se desentendeu com o diretor Fabrício Mamberti. Sem entrar no mérito do talento de um ou de outro, a decisão fez muito bem para Rômulo, que já estava merecendo um perfil principal.

Marina Ruy Barbosa está segura na pele da mocinha Amália e forma um par encantador com Rômulo – sem a correria do insosso par Eric e Luiza (Mateus Solano e Camila Queiroz) da anterior, Pega Pega. Rosamaria Murtinho emociona com o estado de demência de sua rainha Crisélia em cenas comoventes; e Marco Nanini também merece elogios pelo justo Augusto.

Bruna Marquezine, por sua vez, vem dividindo opiniões. Há quem a considere robótica, exagerando no tom gélido de sua vilã Catarina. As chamadas iniciais realmente deram esta impressão. Entretanto, a julgar pelos primeiros capítulos, a composição da atriz não chega a comprometer. É válida sua tentativa de arriscar em um estilo de interpretação onde qualquer deslize pode jogar tudo por terra.

Porém, se há um grande destaque nestes primeiros capítulos, ele atende por Johnny Massaro. O intérprete de Rodolfo, o irresponsável e inconsequente irmão de Afonso, chama a atenção desde a sua primeira cena, transitando com competência entre a comédia e o drama. Mesmo que seu personagem lembre um pouco o Geraldinho, vivido pelo mesmo ator na série Filhos da Pátria, Johnny vem tratando de dissipar esta semelhança em cada sequência.

Além do grande investimento em produção e divulgação, outro ponto que envolve a novela são as evidentes comparações com outras obras medievais, como a série Game of Thrones e mesmo a novela Belaventura, da RecordTV, que estreou meses antes. Comparações, aliás, que não fazem sentido, pois nenhuma das três obras “inventou” o universo medieval na teledramaturgia, portanto, não é correto dizer que as duas novelas são cópias da série, ou que a série é cópia de alguma obra anterior.

Até mesmo comparações com Que Rei Sou Eu? (1989) são feitas – em virtude do estilo capa-espada, mas que também não procedem pelo fato de a trama de Cassiano Gabus Mendes se passar em uma época pós-medieval (próxima à Revolução Francesa de 1789).

Deus Salve o Rei fez um começo simpático, com qualidades visíveis. O capricho visual e o bom enredo jogam a favor, bem como a eficiência de seu elenco. Mesmo apresentando um universo totalmente diferente do estilo “comédia fácil” típico do horário das 19h, é uma trama que merece a atenção.


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