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Em um ano com poucas novelas inéditas, me limitarei neste balanço de 2021 a quatro produções: duas de destaque positivo e duas de destaque negativo.
Destaques positivos
Amor de Mãe
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A novela de Manuela Dias vinha em crescente de audiência e repercussão quando, em março de 2020, precisou ser interrompida por causa da pandemia de Covid-19. O retorno aconteceu um ano depois, com 23 capítulos que encerraram (antecipadamente) a saga de Lurdes na busca por seu filho Domênico.
A pandemia prejudicou Amor de Mãe não apenas pela interrupção, dificuldades nas gravações e a necessidade de abreviar a trama. A opção por abordar o coronavírus na fase final da história revelou-se um erro. Incomodou a maioria do público, que não gostou de ver na fantasia as agruras da realidade.
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Manuela Dias fez uma boa estreia como autora solo, muito por conta da força e do apelo da protagonista Lurdes na interpretação afiada de Regina Casé.
A novela teve alguns problemas de ordem narrativa, como o excesso de tramas mirabolantes ou confusas, criadas na tentativa de garantir dinamismo. Contudo, a proposta realista, em cenários, figurinos e arte em geral, foi bastante ousada e corajosa.
Um Lugar ao Sol
Estreia em grande estilo de Lícia Manzo como autora solo no horário nobre. A trama é empolgante, dinâmica, bem dirigida (Mauricio Farias e equipe) e com grande elenco.
Outras qualidades de Um Lugar ao Sol são a narrativa, bem construída, e o texto apurado da autora (já conhecido dos trabalhos anteriores).
Entre tantos personagens bons, interpretados por ótimos atores, ganhou destaque Andrea Beltrão, como Rebeca, mulher inconformada com o peso da idade e os problemas que isso acarreta, de ordens fisiológica, psicológica e sociais.
A atriz, ancorada no texto primoroso da autora, tem cada vez mais conquistado o público com os dilemas de sua personagem.
As olhadelas de Rebeca para a câmera (“quebra da quarta parede“) são um charme extra.
Destaques negativos
Nos Tempos do Imperador
A expectativa pela nova trama da dupla Thereza Falcão e Alessandro Marson era grande, mas Nos Tempos do Imperador não tem o apelo da novela anterior, Novo Mundo (2017).
Fotografia soturna, humor quase infantil e amantes históricos sem carisma – Condessa de Barral (Mariana Ximenes) esforçada para um Dom Pedro II (Selton Mello) sonolento – são os menores dos problemas.
Claro que uma continuação da história da Família Real no Brasil haveria de abordar a escravatura, como conteúdo. Porém, os autores pecaram na forma.
Além da abordagem equivocada do racismo inverso e das figuras de brancos salvadores, já bastante criticada, falta um tratamento contundente para a luta dos negros, sem a dependência de brancos. O núcleo que prometia, da Pequena África, dilui-se entre as várias tramas da novela. Um desperdício.
Entretanto, há de se ressaltar as qualidades. Os excelentes trabalhos de Alexandre Nero, o melhor ator do ano, como o vilão Tonico Rocha, Paula Cohen (Lota), Heslaine Vieira (Zayla), Roberta Rodrigues (Lupita), e Letícia Sabatella (Imperatriz Tereza Cristina).
Os autores também acertaram a mão no romance entre Nélio e Dolores (João Pedro Zappa e Daphne Bozaski), a melhor trama da novela.
Verdades Secretas 2
Aqui não se trata de um caso de decepção, porque a expectativa já era baixa, afinal, Walcyr Carrasco e Amora Mautner, a dupla de A Dona do Pedaço. Mas, sabe aquele meme: “As expectativas já eram baixas, mas PQP“?
A novela bateu os recordes de visualizações no streaming, graças à divulgação pesadíssima e ao apelo do sexo – que vende desde os primórdios dos tempos, não haveria de ser diferente hoje.
Mesmo assim, pipocaram críticas ao texto, trama, direção e interpretações dos atores, pífios e rasos. Também críticas ao sexo, marcado por dancinhas de acasalamento coreografadas, que entravam sem o menor contexto, como em qualquer produção pornô; e à trama, repleta de furos e totalmente desconexa com a verossimilhança. Uma continuação longe do apresentado na primeira parte da história, em 2015.
Um apelo a mais que despertou o interesse da audiência: o imbróglio envolvendo a recusa da Globo em aceitar as condições impostas por Camila Queiroz para gravar o final de sua personagem Angel.
A emissora bateu o pé e a atriz ficou sem gravar as cenas finais, que foram supridas com uma dublê e efeitos especiais.
A Globo nem é boba: com tanta repercussão, já pensa na terceira temporada.