Desperdício: Globo joga no lixo o que Elas por Elas tem de melhor

Elas por Elas conta a história de sete mulheres na faixa dos 40 anos. Trata-se de algo raro na atual teledramaturgia brasileira, que normalmente se dedica a contar histórias de mocinhas jovens, com seus 20 e poucos anos. É uma proposta interessante, já que mulheres maduras trazem conflitos potentes, como bem sabe Manoel Carlos e suas Helenas.

Richard Abelha, Rayssa Bratillieri e Filipe Bragança em Elas por Elas

No entanto, a novela das seis da Globo teima em não tirar proveito disso. A trama escrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson conta com um time e tanto de protagonistas, mas dedica tempo demais aos personagens jovens, como Ísis (Rayssa Bratillieri), Giovanni (Filipe Bragança), Cris (Valentina Herszage), Tony (Richard Abelha) e companhia. Um desperdício!

Histórias de mulheres

Protagonistas de Elas por Elas (divulgação/Globo)

A primeira versão de Elas por Elas, escrita por Cassiano Gabus Mendes em 1982, foi bastante feliz ao centrar sua história em sete mulheres que se reencontram. O autor apresentou uma gama de tipos femininos, entre 30 e 50 anos de idade, o que rendeu conflitos variados.

A estrutura armada a partir do encontro destas sete protagonistas faz de Elas por Elas uma novela envolvente. Todas têm suas vidas e conflitos, que se potencializam cada vez que elas se reúnem. Mais que uma comédia sofisticada, a produção ofereceu histórias humanas variadas.

A nova versão manteve tal estrutura intacta. Lara (Deborah Secco), Taís (Késia), Adriana (Thalita Carauta), Helena (Isabel Teixeira), Carol (Karine Teles), Renée (Maria Clara Spinelli) e Natália (Mariana Santos) têm uma força individual muito grande, que fica ainda mais potente quando elas se reúnem.

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Teen demais

Rayssa Bratillieri e Filipe Bragança em Elas por Elas

Porém, mesmo tendo em mãos sete protagonistas tão magnéticas, os autores do remake de Elas por Elas têm preferido apostar no “núcleo jovem” da trama. Há uma ciranda amorosa envolvendo os filhos das protagonistas que tomam bastante espaço no folhetim.

Os protagonistas deste romance juvenil são Ísis e Giovanni, que têm suas dificuldades para ficar juntos, já que suas mães, Adriana e Helena, são rivais. Já os antagonistas são Cris e Tony, os filhos de Lara e Renée, que se uniram para separar os pombinhos. Em torno deles há ainda Yeda (Castorine), Vic (Bia Santana) e Aramis (Diego Cruz), coadjuvantes nessa ciranda amorosa.

Ou seja, são vários personagens jovens envolvidos numa típica trama a la Malhação. É um plot irresistível, já que um romance proibido sempre temperou bem um bom folhetim. Porém, o amplo espaço dedicado a esta trama acaba ofuscando a história das protagonistas. Afinal, o folhetim tem sete protagonistas, e todas elas precisam brilhar.

Audiência

Thalita Carauta como Adriana em Elas por Elas (divulgação/Globo)

A impressão que dá é que a Globo pretende fisgar o público juvenil ao dar espaço a uma trama jovem dentro da novela das seis. Se considerarmos que Malhação já não existe mais, até que faz algum sentido.

No entanto, o público jovem está cada vez mais distante da TV. A plateia de uma novela conta com espectadores mais maduros, que esperam se reconhecer na tela. Por isso, faria mais sentido se Elas por Elas focasse, de fato, em suas protagonistas.

A emissora pode fazer uso de estratégias para atrair o jovem para a TV. Porém, não se deve esquecer de manter o público que já está ali. Elas por Elas tem potencial junto a este público.