Desesperado, canal que faliu só passou vergonha após Pantanal

O Fantasma da Ópera

Depois de Pantanal, a Manchete tentou emplacar novos sucessos, mas deu várias cabeçadas. Exibida de 15 de outubro a 29 de novembro de 1991, a minissérie O Fantasma da Ópera foi um retumbante fracasso de audiência e ainda passou por diversos problemas ao longo de sua exibição.

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A produção foi feita às pressas para preencher a vaga da novela Amazônia, que se encontrava com as gravações atrasadas. Geraldo Vietri foi o responsável por supervisionar a adaptação da obra do francês Gaston Leroux, feita por Paulo Afonso de Lima e Jael Coaracy.

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A obra já tinha sido adaptada em outras oportunidades para o cinema, filmes, peças, desenho animado e história em quadrinhos, além da versão operística.

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Segundo o diretor Atílio Riccó, a intenção com essa nova versão era deixá-la mais próxima da realidade brasileira, abordando o universo dos músicos eruditos do país. As gravações foram realizadas no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, incluindo túneis em seus porões, além de locações nas estações do metrô da Cinelândia e da Carioca.

Elenco renomado

Para contar a misteriosa história do maestro Rodrigo Alfredo do Vale, que tem o rosto desfigurado com ácido e se apaixona pela bela cantora lírica Cristina Andreatti, foram escalados nomes como Cláudio Marzo, Carolina Ferraz, Sérgio Britto, Tarcísio Filho, Rosamaria Murtinho, Edwin Luisi e Jece Valadão, entre outros.

Marzo, que estava com viagem marcada para Portugal para um trabalho, teve que cancelar, pois foi escalado de última hora. Carolina Ferraz, que interpretou a mocinha Cristina, confessou que entrou ‘nessa história completamente cega’ e teceu elogios ao companheiro de cena, com quem iria trabalhar pela primeira vez.

A atriz ainda falou sobre a responsabilidade dos diretores da produção – além de Riccó, Del Rangel também conduzia o projeto.

“Sei que tenho que confiar totalmente neles, porque nesse projeto ou todo mundo entra junto ou todo mundo se queima”, profetizou, em entrevista ao Jornal do Brasil em outubro de 1991.

Já Riccó se mostrava confiante com esta empreitada, mesmo sendo realizada às pressas.

“Poucas vezes o Teatro Municipal do Rio, considerado um dos mais belos do mundo, foi mostrado nos mínimos detalhes como será minissérie”, disse o diretor. “Nosso Fantasma terá suspense, terror e muito amor”, prometeu.

Baixa audiência

Um dia antes de entrar no ar, a Manchete exibiu um making of com os bastidores da produção. Com um custo de 15 mil dólares por capítulo, a estreia de O Fantasma da Ópera foi bastante criticada pela imprensa e isso refletiu nos índices apresentados.

Exibida no horário em que Pantanal conseguia atingir mais de 40 pontos de audiência e sua antecessora, A História de Ana Raio e Zé Trovão, marcava 20 pontos, a minissérie conseguiu parcos 6 pontos de média. Riccó (foto acima) explicou que o público deixou de assistir à obra por achar que fosse um programa de ópera.

Além dos baixos índices apresentados, o diretor viveu outro drama nos bastidores: uma possível greve dos funcionários do Teatro Municipal.

Para evitar atraso nas gravações, Riccó mandou que a equipe procurasse pela cidade locações que tivessem camarins, escadas e bastidores parecidos com o do Municipal. Outro fator que pegou todos de surpresa é que, por conta das atividades do teatro, as gravações teriam que ser realizadas em um único dia e de madrugada, o que gerou um mal-estar entre os envolvidos.

O elenco recebia os capítulos para serem decorados um dia antes da gravação; ainda por cima, os técnicos da emissora estavam com salários atrasados e também ameaçaram entrar em greve. Ou seja: o que já estava ruim, acabou por piorar.

“Virei o fantasma da história”

Com tantos contratempos, era óbvio que o elenco iria se manifestar contra a produção. Carolina Ferraz disse, na época, que este foi o pior trabalho que ela já havia feito na televisão.

“Ninguém tem a menor ideia de como a história vai acabar. Estou sem timing, nunca sei se estou na linha de interpretação certa. Acho que virei o fantasma da história, porque estou em todos os lugares e não estou em lugar nenhum”, disse ela à Folha de S.Paulo em outubro de 1991.

“Estou tentando sair digna dessa história. Estou ciente dos riscos que estou correndo. Agora, só nos resta torcer para que Amazônia seja um grande sucesso”, completou – vale lembrar que a novela citada teve um fracasso ainda maior.

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Empatia?

Já Claudio Marzo se mostrou bastante irritado ao ser questionado sobre este trabalho ao Jornal do Brasil em 3 de novembro de 1991. Perguntado sobre as críticas que O Fantasma da Ópera vinha recebendo, ele foi curto e grosso: “Não leio críticas”.

Em outro momento, o indagaram se ele não achava estranho o seu personagem, um fantasma, andar com o figurino pelo metrô sem ser notado. Ele foi novamente ríspido em sua resposta: “Sou, no máximo, um ator. Não sou crítico”.

Por fim, ao comparar o sucesso de seus personagens anteriores, José Leoncio e Velho do Rio, de Pantanal, com o fantasma que não tinha empatia alguma com o público, ele respondeu:

“Fantasma não tem empatia. É um louco, um homem que pirou e prefere viver num buraco”.

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