André Santana

Com experiência de sobra na transmissão dos Desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, a Globo já fez carnavais memoráveis. Grandes nomes do jornalismo do canal, como o saudoso Fernando Vanucci, já capitanearam transmissões competentes da folia de Momo.

The Noite - Fernando Vanucci
Fernando Vanucci no The Noite com Danilo Gentili (Reprodução / SBT)

Mas, em 2024, a emissora promoveu mudanças na festa que fariam Vanucci se revirar no túmulo. Na tentativa de fazer uma cobertura diferente dos desfiles, a Globo optou por trocar o jornalismo pelo entretenimento, mas o resultado foi desastroso.

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Renovação

 

Não é de hoje que a Globo busca renovar a transmissão do Desfile das Escolas de Samba. A emissora vê o interesse do público pela programação do Carnaval Globeleza reduzir ano a ano. Há uma grande dificuldade, sobretudo, em atrair uma audiência mais jovem. Não há renovação de público.

Para piorar, a pandemia da Covid-19 afugentou parte dos patrocinadores das transmissões. Tudo isso fez o canal buscar uma nova forma de trazer o Carnaval ao público e, ao mesmo tempo, atrair anunciantes.

A solução encontrada foi retirar o Jornalismo e entregar a transmissão aos setores de Entretenimento e Esporte. Com isso, além de tentar renovar a linguagem, a emissora abre novas possibilidades de merchandising, já que o jornalismo do canal tem regras mais rígidas para propagandas. Com profissionais do entretenimento e do esporte, amplia-se o espaço para anúncios.

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Não deu certo

Boninho, Alex Escobar, Karine Alves e Milton Cunha
Boninho, Alex Escobar, Karine Alves e Milton Cunha

Porém, ficou claro que a renovação não deu certo. O público rejeitou a transmissão da Globo justamente pela falta do jornalismo. Afinal, sem repórteres no evento, faltou informação na transmissão, o que deixou tudo mais pobre.

Alex Escobar e Karine Alves foram os apresentadores, enquanto Milton Cunha fez as vezes de anfitrião. O trio, apesar de algumas críticas, não chegou a comprometer. O pior mesmo foi apostar em Kenya Sade, Vítor DiCastro e Dandara Mariana como “repórteres”. Ficou clara a tentativa de atrair o público jovem, mas a estratégia claramente não funcionou.

Os três profissionais pareciam saídos dos Bastidores do Carnaval da RedeTV!, com entrevistas com artistas, gracinhas e pedidos de samba. Ou seja, muito blá-blá-blá e pouca informação.

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Equilíbrio

Dandara Mariana e Deborah Secco
Dandara Mariana e Deborah Secco

Claramente, faltou equilíbrio na transmissão do Carnaval da Globo. A emissora acerta ao tentar rejuvenescer a audiência dos Desfiles, já que renovar o público é preciso. Mas não precisava abrir mão da boa informação para conseguir isso.

Mesmo que a ideia seja ampliar o espaço para o merchandising, o jornalismo não devia ter sido excluído. Até porque a equipe de jornalismo da Globo está sempre presente nos programas de entretenimento. Os matinais Encontro e Mais Você, por exemplo, são programas de entretenimento, mas têm apoio no jornalismo. Com isso, Patrícia Poeta pode perfeitamente conversar com um repórter e, em seguida, tocar uma ação de merchandising.

Ou seja, a Globo até pode aumentar o espaço de influenciadores ou outras personalidades de identificação do público jovem. Mas isso não devia excluir repórteres profissionais nas transmissões, trazendo as informações necessárias. A lição para o próximo ano é saber equilibrar o jornalismo e o entretenimento na transmissão. É possível.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor