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Na última terça (20), foi reprisada a cena mais aguardada de A Vida da Gente, exibida originalmente no dia 12 de fevereiro de 2012, também uma terça: a briga entre Ana (Fernanda Vasconcellos) e Manu (Marjorie Estiano). Ao saber através de Júlia (Jesuela Móro) que sua irmã não iria em seu casamento com Lúcio (Thiago Lacerda), Ana resolve ir ao encontro de Manu para entregar o convite pessoalmente e, quem sabe, fazer as pazes. Mas acontece justamente o contrário: uma explosão de mágoas e feridas expostas, que resultaram em uma das melhores cenas da história da teledramaturgia.
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A sequência tem oito minutos de duração. Uma eternidade já na época em que a novela foi exibida, em virtude da mudança da linguagem dos folhetins, que precisaram de um maior dinamismo para não afugentar a atenção do público. Mas, ainda assim, Lícia Manzo é uma autora que costuma desafiar essa ‘regra’ em suas obras, sempre valorizando os diálogos. A sua primeira novela já tinha deixado bem explícita a sua forma de trabalhar. E a cena se tornou a maior lembrança que o telespectador tem da saga sobre o amor de duas irmãs. De fato, entrou para a história.
Assim que Ana chega, Manu a recebe com frieza, como tem sido desde que flagrou a irmã beijando Rodrigo (Rafael Cardoso), seu então marido e ex-namorado de Ana. Poucos segundos depois os ânimos já se exaltaram e o embate começou. A autora foi perspicaz e colocou na boca de cada personagem os argumentos que os respectivos fãs de Ana e Manu sempre escreviam em blogs, Twitter e afins em uma época em que ainda não era tão normal comentar folhetins em redes sociais; muitas vezes provocando acaloradas discussões entre os torcedores mais fanáticos — o que ocorre também com a reprise, vale ressaltar.
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O teor das discussões nas redes sempre se dá através dos defeitos que cada uma tem, onde um tenta provar que a outra errou mais e é, portando, a ‘cretina’ da história. Porém, nunca houve vilão em A Vida da Gente, mesmo com parte do público classificando Eva (Ana Beatriz Nogueira) e Vitória (Gisele Fróes) como vilãs. Ana e Manu erraram ao longo da vida e não há uma grande culpada na história toda. A trama opta pelo realismo e consegue atingir o objetivo com êxito, uma vez que os telespectadores acabam se identificando e se envolvendo com todos os núcleos apresentados. É justamente através do embate entre Ana e Manu que os erros das duas são expostos em palavras que machucam muito mais que qualquer tapa.
O resultado da sequência é o melhor possível. Um texto de imensa qualidade sendo interpretado brilhantemente por duas atrizes que honraram o posto de protagonistas em todos os momentos. Marjorie Estiano e Fernanda Vasconcellos foram exemplares e mostraram com segurança e competência toda a gama de sentimentos que estavam guardados há tanto tempo por Manu e Ana. Quando quem assiste a uma cena esquece que aqueles personagens estão sendo interpretados, e não são pessoas reais, é porque os intérpretes atingiram o objetivo. E foi o que as duas fizeram. Se entregaram de uma forma visceral e aquele momento marcou a carreira de cada uma.
O mais interessante da sequência é a forma como Lícia explora as fragilidades de cada irmã. No início da discussão, é Manuela quem está por cima e deixa Ana destruída com cada verdade que joga na cara da irmã, que tenta fugir da conversa. Logo depois, quando escuta de Manu que só sabe fugir mesmo, é Ana quem cresce e vira o jogo atacando Manuela com palavras duras, muitas delas já ditas por Eva. E é quando Manu tenta acabar com a discussão. Já a finalização do embate se dá quando Ana entrega, sem querer, que ainda tem sentimentos pelo Rodrigo, mesmo após ter ido até a casa de Manuela para entregar o convite de seu casamento com Lúcio (Thiago Lacerda). E Manu acaba dando o xeque-mate.
Valeu muito a pena rever a melhor cena de A Vida da Gente, que até hoje é uma das mais exibidas nas redes sociais quando alguém elogia a novela primorosa de Lícia Manzo. É aquele momento em que a arte chega no ápice.