André Santana

No início de Travessia, Gloria Perez prometeu que abordaria o universo da tecnologia e o perigo dos crimes virtuais. Porém, na prática, pouca coisa foi vista neste sentido nos primeiros meses da trama, que preferiu focar na interminável disputa entre Brisa (Lucy Alves) e Ari (Chay Suede) pela guarda de Tonho (Vicente Alvite).

Danielle Olimpia - Karina, em Travessia
Reprodução

Mas, nos mais recentes capítulos da trama, a temática finalmente começou a ganhar mais espaço. A revelação de que Karina (Danielle Olímpia, foto acima) está sendo enganada por um pedófilo nas redes sociais acende uma importante discussão e retoma, com atraso, a proposta inicial da novela.

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Tecnologia flopada

Ricardo Silva - Theo - Travessia
Reprodução / Globo

Até aqui, Travessia só tinha decepcionado com a prometida abordagem da tecnologia. O tema foi explorado em plots desimportantes ou inconsistentes, como o metaverso de Talita (Dandara Mariana), ou o robô Haroldo. A fake news envolvendo Brisa e o trabalho de hacker de Oto (Romulo Estrela) não tiveram grande importância até o momento.

O perigo dos crimes virtuais era mostrado a conta-gotas, apenas quando Helô (Giovanna Antonelli) surgia investigando algum caso aleatório. No mais, Travessia só fez perder tempo com os desencontros de Brisa e Oto, além da rivalidade de Guerra e Moretti (Rodrigo Lombardi).

A temática, até o momento, só foi mais bem explorada com a história de Theo (Ricardo Silva, foto acima), que é dependente digital. Aos poucos, a novela foi descortinando o drama de Monteiro (Ailton Graça) e Laís (Indira Nascimento), que não sabem como agir ao ver o próprio filho se transformar em razão do vício em jogos online.

Pedofilia

Giullia Buscacio
Divulgação

Havia a promessa de que Karina, em algum momento da trama, cairia na lábia de um pedófilo e teria fotos suas nua expostas na rede. O fato a levaria a uma profunda depressão e poderia até matá-la. No entanto, esta história ficou em banho-maria por um bom tempo.

Mas a novela a retoma agora, e de um jeito interessante. Travessia mostra que um pedófilo vem utilizando recursos tecnológicos para disfarçar a voz e modificar o seu rosto. Karina conversa com ele acreditando falar com Bruna Schuler (Giullia Buscacio, foto acima), uma atriz de quem é fã.

A maneira como Gloria Perez introduziu a trama foi bem interessante. Inicialmente, só se via Karina e Bruna conversando. Com isso, surgiram comentários de que a atriz era uma aliciadora de menores. Sabia-se que Karina corria perigo, mas não estava bem claro do que se tratava.

Com isso, a revelação de que Bruna, na verdade, é um pedófilo disfarçado, gerou imediata reação. Uma reviravolta digna de um novelão e, ao mesmo tempo, uma denúncia importante. Era isso que Travessia estava devendo.

Mais crimes

Lucy Alves como Brisa em Travessia
Reprodução / Globo

Agora que o público já sabe que Karina não está conversando com Bruna Schuler, e sim com um bandido, a tensão fica iminente, o que confere novas emoções a Travessia. Mas não deve parar por aí. Na reta final, Gloria Perez parece que finalmente resolveu queimar os cartuchos que segurou a novela toda.

Além da trama de Karina, também começa a se desenrolar o drama de Brisa, quando o exame de DNA mostra que a mocinha não é mãe biológica de Tonho. Em algum momento da novela, ela descobrirá que é uma “mulher quimera”, uma condição genética rara que a faz ter dois tipos de DNA. Por isso, mesmo sendo mãe de Tonho, isso não aparece no exame.

Mas, enquanto essa descoberta não acontece, Brisa deve sofrer horrores. Isso porque, quando todo mundo ficar sabendo que o exame deu negativo, a montagem feita por Rudá (Guilherme Cabral) no início da trama, que acusava Brisa de ser sequestradora de crianças, vai reaparecer.

Com isso, muita gente vai pensar que Brisa é uma sequestradora e roubou Tonho, fazendo-a passar por novas provações. Ou seja, só na reta final, Gloria Perez retomará a história da fake news que vinha prometendo a novela toda. Será que não é tarde demais?

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor