Antes de se destacar em Travessia, novela das nove recentemente exibida pela Globo, Nando Cunha passou por várias situações incômodas enquanto estava atuando em As Aventuras de Poliana.

Travessia - Nando Cunha
Nando Cunha em Travessia (Reprodução / Globo)

Na trama produzida pelo SBT, ele interpretava Ciro, um caminhoneiro que, apesar de estar sempre de bom humor, passava por apuros financeiros ao lado da família: a esposa Gleyce (Maria Gal) e os filhos Kessya (Duda Pimenta) e Jeff (Vitor Britto). Contudo, o personagem saiu de cena de forma trágica, morrendo após ser atingido pelo desabamento de um teto. Chateado, o ator tornou pública a sua insatisfação com a produção da emissora.

A primeira queixa foi em relação ao texto da autora Íris Abravanel (foto abaixo), que, nas palavras do artista, era fraco demais e estava enjoando o público.

Iris Abravanel
Iris Abravanel (Reprodução / YouTube)

“Falta um arco dramático maior, aprofundar os personagens, as tramas… Fazer um gancho de um capítulo para o outro”, detonou. “As pessoas que me paravam na rua comentavam: ‘Ah, a novela está chata, a novela enjoou’… Não tem um ganho, uma trama para acompanhar, sabe?”, completou.

Trama conservadora

Ele ainda ressaltou o fato da trama focar muito no núcleo infantil, deixando o elenco adulto em segundo plano.

“Novela é novela, mas, às vezes, fica muito em cima das crianças. Os personagens principais são elas”, criticou o ator em e-mail enviado ao site Notícias da TV em maio de 2019.

O ator ainda reclamou que o texto da novelista era conservador, propagando os valores pregados pelo presidente Jair Bolsonaro, sem tocar em temas como diversidade de gênero e raça.

“Eu vejo um texto extremamente de direita. Eles querem passar a história de uma família conservadora tradicional brasileira e coisas dessa nova onda, e não mostram a diversidade. Conservadorismo é o pensamento do SBT, do Silvio Santos e do presidente, que é amigo dele”, detonou.

 

Demissão por WhatsApp

Nando Cunha
Nando Cunha (Reprodução / Web)

As queixas não pararam por aí: o ator reclamou de assédio e racismo, que teria partido de uma produtora de elenco, cuja identidade não foi revelada, e ainda disse que a emissora não ajudava a cobrir os custos de deslocamento entre o Rio de Janeiro, onde ele morava, e São Paulo, onde a trama era gravada, e hospedagem.

Para completar, Nando descobriu, durante uma conversa via WhatsApp com colegas do elenco, que ele seria demitido.

“Alguém colocou no grupo que meu personagem havia morrido. Eu fiquei sabendo assim (que sairia da novela). Para você ver como são as relações lá dentro. Depois um diretor veio falar comigo e disse: ‘A casa não quer mais renovar com você’. Eu falei: ‘Tudo bem’. Ele disse: ‘Mas nós vamos dar um final digno para o seu personagem’. O fim digno foi um teto caindo na cabeça dele”, criticou o ator, que classificou sua demissão da novela como algo libertador e ressaltou que jamais voltaria a trabalhar no SBT, mesmo se recebesse um novo convite.

Após esse episódio, o ator deu a volta por cima: esteve em Bom Sucesso, na Globo, e Gênesis, na Record. Em maio, encerrou sua participação em Travessia, vivendo o simpático garçom Joel.

Ao mesmo tempo, foi premiado como melhor ator no Los Angeles Brazilian Film Festival. Mais do que merecido!

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor