Com vitória da estudante Emilly Araújo, a décima sétima temporada do Big Brother Brasil terminava há quatro anos. A temporada pode ser definida em uma palavra: catastrófica. Após uma aparente boa seleção de participantes, priorizando a diversidade, o reality se mostrou tedioso e repleto de pessoas sem carisma, atitude e lealdade alguma.

Para culminar, a estreia de Tiago Leifert se mostrou inconstante e a edição ultrapassou todos os limites da parcialidade, beneficiando claramente alguns jogadores e prejudicando outros, influenciando o telespectador de forma descarada. E, infelizmente, vários outros problemas foram detectados ao longo das semanas, como novos quadros que não surtiram o efeito desejado e tentativas fracassadas de movimentar um jogo morto.

Ao não homenagear Pedro Bial, por exemplo – que teve sua imagem vinculada ao programa por 16 anos -, a edição expôs a ingratidão da produção do formato e também uma falta de consideração com o público, simplesmente fingindo que o jornalista nunca existiu ali. Nem sequer o citaram uma única vez.

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Como era de se esperar, Leifert teve um começo inseguro e estava apático. Com o tempo foi se soltando e até se encontrou na apresentação. Entretanto, acabou se perdendo na sua total parcialidade, não fazendo questão alguma de esconder suas preferências, e ainda interferiu demais no jogo, chegando ao cúmulo de sugerir que o grupo mexicano (quando a casa foi dividida por um muro) escondesse objetos para manter a mentira que eles haviam criado sobre o vencedor da prova do líder.

A edição absurdamente tendenciosa servia de base para o apresentador influenciar o público a pensar da forma como eles queriam, beneficiando claramente Emilly e Marcos, que foram os protagonistas dessa temporada em virtude da fraqueza dos concorrentes. Como os dois rendiam cenas para o programa, a equipe não se preocupou em disfarçar a preferência pelos dois, sempre os favorecendo o quanto podiam.

É óbvio que em todo ano há, sim, momentos em que a atração prejudica uns e ajuda outros, montando quase um enredo de novela para o público. Isso sempre aconteceu. E muitas vezes nem há problema, pois deixa tudo mais atrativo. Porém, na décima sétima temporada foi tudo feito de forma explícita, sem qualquer preocupação com a credibilidade do formato. Afinal, quem assinou o Pay-Per-View constatou a historinha fantasiosa que a produção criou, transformando o trio Emilly, Marcos e Ilmar em heróis e os demais em vilões.

Esse tipo de ‘enredo’ foi criado de forma muito divertida no BBB5, por exemplo, que foi uma das melhores edições. Mas lá era tudo diferente, pois os participantes tinham carisma e havia mesmo uma divisão de ‘bem’ e ‘mal’, incorporada até pelos próprios integrantes da casa. Outras edições também tiveram isso, como o BBB7 (outra histórica temporada), BBB12, entre outros. Só que no BBB17 todos eram ‘vilões’ e a produção ignorou isso completamente.

Como já foi mencionado, foi uma disputa sem lealdade, onde um enfiava a faca nas costas do outro em vários momentos. Até mesmo a imunização do Anjo era dada por interesse e não por afeto ou proteção. Foi um ano onde torcer por alguém era uma missão quase impossível. Para culminar, nem embates ocorreram, pois todos preferiam falar somente pelas costas e pela frente optavam pelo clássico fingimento. Um jogo baixo em vários sentidos.

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Somado a esse equívoco da seleção dos jogadores, esteve a criação de quadros bobos e sem a menor graça. O primeiro foi uma família de fantoches dublada por Lucio Mauro Filho e Heloísa Perissé. Os bonecos tinham a função de tecer comentários e piadinhas sobre os participantes, mas nunca provocou um riso sequer. Pelo contrário, era constrangedor. O resultado foi o cancelamento da ‘família Silva’ em menos de um mês, sem maiores satisfações para o telespectador. O intuito disso era substituir as charges de Maurício Ricardo, que foi dispensado nessa edição. Mas deram um tiro no pé. Até porque os desenhos do chargista eram sempre ótimos e inspirados, dando um charme a mais ao programa. Ele fez tanta falta quanto Pedro Bial. E outro quadro sem relevância foi o comandado por Rafael Cortez, que simplesmente lia tweets de telespectadores do Twitter e tecia uma ou outra piadinha a respeito. Uma besteira.

Tentativas de mexer no jogo foram inúteis

Já as tentativas da produção de mexer no jogo foram inúteis. A criação do muro separando os lados (já feito no BBB9), por exemplo, deixou evidente a intenção de favorecer Emilly, pois a mais votada pelo grupo seria eliminada, mas posteriormente migraria para o lado mexicano, podendo trazer mais quatro pessoas. Era óbvio que a garota seria a escolhida, pois estava no paredão justamente por causa do voto da casa. Ou seja, ainda fizeram isso com uma votação popular em curso, deixando tudo mais escancarado. E essa falsa eliminação ainda se mostrou uma tentativa de imitar o êxito da Ana Paula ano passado, com a diferença de que no BBB16 quem escolheu foi o público, pois houve mesmo um paredão falso. Mas não surtiu efeito, pois a ausência de maiores embates seguiu firme. Só explicitou mesmo o favorecimento, tanto que até Emilly e Marcos chegaram a reconhecer, semanas depois, que foram beneficiados com isso.

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As suspeitas em cima da produção só pioraram quando Marcos declarou a Ilmar, nas semanas finais, que alguém disse para ele no confessionário que ‘Depois ele comia a Vivian’, provocando uma grande bronca da direção minutos depois da sua polêmica fala. Mas, por incrível que pareça, Tiago Leifert nada declarou a respeito no programa e ficou por isso mesmo. Aliás, Marcos se mostrou um mentiroso nato, já que inventou que a polícia foi até a casa para cobrar a pensão que Ilmar tem que pagar ao seu filho. Ou seja, a declaração sobre a Vivian deve até ser mentira, mas uma satisfação ao vivo era o mínimo.

Além de todos esses problemas e equívocos citados, vale mencionar ainda a falta de uso do Big Fone. O instrumento de maior tensão do BBB mal foi explorado e isso é um erro que vem sendo cometido há umas quatro edições, é preciso fazer justiça. Não foi um caso isolado dessa edição. Mas, ainda assim, é um erro crasso que prejudica o conjunto, deixando um dia nulo para o formato (normalmente sexta ou sábado). Já a eliminação do Jogo da Discórdia toda segunda-feira foi, sim, mais uma falha específica do BBB17. Usaram o recurso pouquíssimas vezes.

A décima sétima edição do BBB foi uma das piores da história do reality, conseguindo superar até o BBB6, considerado o mais fraco até então. Depois, foi “superado” pelo BBB19. A audiência também deixou muito a desejar e acabou fazendo jus aos participantes selecionados e ao conjunto totalmente errôneo visto ao longo de quase três meses. Foi tarde.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor