Em uma minissérie com um elenco tão bem escalado, é até injusto mencionar apenas um ator. Porém, é inegável que Débora Bloch é o grande nome de Treze Dias Longe do Sol, trama escrita por Elena Soárez e Luciano Moura, exibida pela Globo logo após O Outro Lado do Paraíso, cujo enredo sufoca quem assiste, em virtude de todos os desdobramentos angustiantes ao longo dos capítulos.

Gilda é o perfil mais complexo e atrativo da história. Sócia de Saulo (Selton Mello) no empreendimento em torno da construção do edifício comercial que desabou, a empresária demonstra uma frieza assustadora diante dos negócios e toda a sua conduta em torno do resultado trágico que a ambição do sócio ocasionou desperta nojo. Ela simplesmente ignora a dor das vítimas e só pensa em se safar das investigações da polícia, deixando de lado qualquer moralidade.

A influente mulher faz questão de incriminar um inocente – o passional Newton (Enrique Diaz) – sem pensar nas consequências e ainda despacha todos os funcionários contratados irregularmente para evitar o flagra da imprensa.

Em contrapartida, seu lado humano é exposto quando está sozinha, pensando na morte de Saulo, fruto de seu amor platônico. Seus raros momentos de choro ocorrem justamente quando está sentindo falta do sócio (ou melhor, comparsa).

Porém, sua face mais frágil também se expõe nas horas em que está com o pai, vivido pelo magistral Emiliano Queiroz. Internado por ela em uma clínica de repouso, o idoso apresenta claros sinais de demência em meio a instantes de lucidez. O quarto dele serviu de esconderijo para as plantas que provavam a inocência de Newton por uns dias e Gilda até tentou levar o pai em sua fuga, mas o plano fracassou por causa da instabilidade dele – por uns instantes ficava agressivo e em outros se desnorteava totalmente. E esse fracasso lhe doeu muito. A cena em que a personagem levou o pai de volta para a clínica evidenciou a sua tristeza.

Débora se entregou do primeiro ao último minuto da trama, valorizando todas as nuances desse riquíssimo perfil. Despertou ódio quando Gilda fez de tudo para se safar da polícia, provocou piedade na hora que chorou a perda de seu parceiro e emocionou nos instantes que passou ao lado do pai. Ainda demonstrou com precisão a perplexidade da personagem assim que foi demitida pelo novo dono da empresa, evidenciando o fundo do poço que se encontrava.

Nos últimos anos a atriz vem demonstrando um cuidado grande com seus trabalhos. Ela só tem participado de produções de imensa qualidade. Sua íntegra Lígia em Sete Vidas (2015), por exemplo, arrebatou o público, e sensibilizou com o seu belo romance com Miguel (saudoso Domingos Montagner) na linda novela de Lícia Manzo. Já a sofrida Elisa, de Justiça (2016), fez muita gente chorar com o calvário de sua vida, após a perda da filha em um chocante assassinato, no enredo de Manuela Dias. Isso citando apenas as produções mais recentes.

Não é uma surpresa aplaudir o talento de Débora Bloch. É uma profissional que costuma se entregar a todos os seus desafios e não é diferente em Treze Dias Longe do Sol. Não por acaso, os autores lhe presentearam com a personagem mais grandiosa da minissérie. Gilda não poderia ter ganhado uma atriz melhor. Aliás, vale ressaltar, ela estará em Onde Nascem os Fortes, próxima trama das 23h que estreia em abril e com certeza brilhará novamente.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor