Quem conhece Ney Gonçalves Dias, que comemora 80 anos neste sábado (8), sabe que o apresentador passou por muitas emissoras: fez história apresentando o TV Mulher, ao lado de Marilia Gabriela e Clodovil, na Globo; comandou debates na Rede Manchete; e foi o primeiro apresentador do Cidade Alerta, da Record; além de ter passado pelo Aqui Agora e outros jornais do SBT.

Porém, o que poucos sabem é que, no final dos anos 1980, na Rede Bandeirantes, ele ganhou um programa de auditório e tentou ser um novo Flavio Cavalcanti. O Programa Ney Gonçalves Dias entrou no ar no dia 11 de fevereiro, aos sábados a noite.

Encarnando a figura de Flávio, que trabalhou na Band no início daquela década, Ney queria transformar o programa em uma tribuna do povo, distribuindo cartão amarelo e vermelho para autoridades e misturando assistencialismo social e erotismo barato.

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Em entrevista à revista Visão, Ney afirmava: “Esse programa vai ter de tudo, de bom e de mau, eu vou dar cacete e mostrar as coisas certas”.

Isso, de fato, aconteceu: foram criados quadros como “Quem você gostaria de ver?”, uma espécie de Arquivo Confidencial que emocionava o público; “Vamos dar brilho à estrela”, no qual calouros disputavam o grande prêmio, que era gravar um disco; e também “Vamos mudar o seu destino”, semelhante ao Porta da Esperança, atração icônica de Silvio Santos.

Um dos pontos que Ney buscava se assemelhar a Flávio era nos debates: temas polêmicos e obscuros eram colocados no centro do palco, deixando o bate-boca correr solto enquanto o apresentador esbravejava sua opinião.

Mas o ponto alto da atração era o quadro “A gatinha da capa”. No meio do palco, usando a desculpa de mostrar como funciona um ensaio fotográfico para uma revista masculina, mulheres ensaiavam um strip-tease e, seminuas, posavam para um fotógrafo, enquanto o auditório aplaudia. O próprio apresentador desfilava ao lado de algumas modelos pelo palco sob o olhar dos jurados do programa.

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A atração era uma colcha de retalhos de outras produções populares da TV. A Bandeirantes buscava fisgar a audiência com quadros popularescos e trazer à tona a figura do apresentador intimidador, uma espécie de autoridade. O programa teve uma boa audiência, se manteve no ar por um pouco mais de um ano, mas foi cancelado num dos inúmeros cortes realizados pelo canal, caindo no esquecimento do público.

Anos depois, Ney Gonçalves Dias voltou ao jornalismo, mas teve a chance de experimentar o auditório mais uma vez: em 1999, quando Serginho Groisman saiu do SBT, houve um rodízio de apresentadores no Programa Livre, e ele participou, voltando a sentir o gosto de comandar uma atração desse gênero, mesmo que por pouco tempo. Nos últimos anos, o jornalista vem atuando pela Rede Brasil.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor