O ano de 2020 definitivamente terminará como o pior da história do SBT. A emissora perdeu algumas de suas principais estrelas, como Roberto Cabrini e Maísa Silva, e deixou de contar até mesmo com as gravações dos programas de Silvio Santos. Culpar a pandemia do novo coronavírus é fácil, mas é uma desculpa com data de validade.

Tudo leva a crer que o país voltará ao normal logo no início de 2021, ano em que o canal irá festejar seus 40 anos no ar. A grande questão é: o que vai sobrar para comemorar no ano que vem? Todos os setores da rede estão entrando em sangria, e não há movimentação visível para reverter isso.

A programação do SBT sempre foi conhecida por ser relativamente barata em comparação ao que é oferecido por suas principais rivais, a Globo e a Record. E as duas, com custos consideravelmente maiores, não viram seus programas colapsarem durante a pandemia. Pelo contrário: aos trancos e barrancos, souberam se reinventar e agarraram parcelas importantes de público.

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Com a mania de dar férias coletivas para a equipe da maior parte dos programas até o carnaval, a emissora sofreu (e sofre) com a pandemia. Sem ter conteúdos de gaveta, o resultado foi trágico: desde abril, a emissora virou um amontoado de reprises. Só cinco atrações do entretenimento (e só duas delas são diárias) foram retomadas desde que o caos da Covid-19 começou.

De segunda a sexta, 13 horas da programação são preenchidas por reprises ou enlatados. Aos sábados, o número é ainda mais assustador: são 16 horas — e isso deve aumentar em novembro, com o fim precoce do Programa da Maisa.

A situação não é das melhores nem mesmo aos domingos, tradicionalmente conhecido como o dia mais forte para o SBT. Quase 9 horas estão sendo dedicadas para reapresentações, e outras duas são ocupadas por programas terceirizados.

Com tantas reprises, o público fugiu para as rivais. A emissora, que antes da pandemia se gabava da vice-liderança no horário nobre e na média/dia, agora se contenta com uma minguada vantagem nas 24 horas do dia de São Paulo: em setembro, o placar foi de 4,82 contra 4,76 da Record, com mais de 4h diárias de programas da IURD.

Mesmo com as horas comercializadas para a IURD, a Record já recuperou a segunda colocação nacionalmente. E, a julgar pelos índices iniciais de outubro, conseguirá retomar o posto também em São Paulo, dando fim aos 42 meses consecutivos de vitórias do SBT.

A queda de audiência da emissora de Silvio Santos, por sinal, já é notada pelos anunciantes. A Taça Libertadores, um dos poucos investimentos da rede no ano, só conseguiu comercializar três das seis cotas oferecidas ao mercado publicitário. Nos intervalos do resto da programação, não é raro que seja exibido um comercial do hotel Sofitel Jequitimar, prometendo anúncios gratuitos no SBT para quem fizer eventos no estabelecimento.

O departamento de jornalismo, aguerrido e sem grandes investimentos, tende a ser desmontado e entregue para a CNN Brasil. Rachel Sheherazade e Roberto Cabrini foram demitidos pela emissora, enquanto Carlos Nascimento planeja não renovar seu contrato no próximo ano.

Com o por enquanto temporário afastamento de Nascimento e a saída de Cabrini, o apresentador mais antigo do setor a partir de novembro será… Dudu Camargo. Pois é. Apesar de competente e de ter evoluído muito, é no mínimo inusitado que um jovem de 22 anos seja o âncora com mais tempo no ar em uma emissora de TV aberta.

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A dramaturgia, que fez com que o SBT voltasse a ter relevância para o mercado e para o público em 2012, deverá ser desmontada: a emissora demitiu todo os atores de seu elenco, e não poupou nem mesmo Sophia Valverde, a protagonista de As Aventuras de Poliana, que chegou a ter média de 17 pontos — uma das maiores audiências da rede na década.

Com a recém-anunciada saída de Maísa Silva, os prognósticos para o SBT em 2021 não são nada bons. Silvio Santos, Carlos Alberto de Nóbrega e Raul Gil não são eternos, e a emissora parece não ter consciência disso, a menos que o plano seja que todos eles sejam substituídos por Dudu Camargo e Marcão do Povo.

O SBT chegará aos 40 anos com o maior desafio de sua vida. Se a emissora não conseguir se reinventar rápido, correrá um risco muito sério de cair novamente em descrédito diante do mercado publicitário e, pior ainda, poderá repetir o filme do início da década passada, em que a Band quase a ultrapassou no Ibope.

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