Nilson Xavier

Quando Travessia estreou, a ideia da Globo era que Gloria Perez, uma de suas autoras mais populares, arregimentasse audiência em um período difícil: campanha presidencial, seguida de Copa do Mundo e festas de fim de ano. Não deu certo. A novela amarga ibope baixo e desinteresse do público, além de críticas de todos os lados.

Travessia - Chay Suede e Jade Picon
Fábio Rocha / Globo

O cronograma de gravações da novela substituta, Terra Vermelha (de Walcyr Carrasco), foi adiantado, sinalizando que, desta forma, Travessia será encurtada. Será que a novela de Gloria Perez tem salvação?

Indico 5 soluções para tentar salvar Travessia com um mínimo de dignidade.

Quem matou?

Travessia - Cássia Kis
Reprodução / Globo

Um dos estratagemas mais usados quando se quer despertar a audiência adormecida é o famigerado “Quem matou?“. Um mistério bem amarrado pode gerar curiosidade no público e até repercussão.

Melhor ainda se fosse um assassino em série, que desse cabo de alguns personagens insuportáveis, como Chiara (Jade Picon), Cidália (Cássia Kis), Guerra (Humberto Martins), Ari (Chay Suede), Moretti (Rodrigo Lombardi) e Núbia (Drica Moraes). Aproveita-se o ensejo para desligar aquele robô.

Explosão de prédio

Travessia - Humberto Martins
Reprodução / Globo

Existe uma construtora na trama. Que tal o lançamento de um novo edifício em que houvesse uma explosão? Aproveitava-se para explodir junto Chiara, Cidália, Guerra, Ari, Moretti e Núbia.

A solução é inspirada na explosão do shopping center de Torre de Babel (1998). Isso geraria um mistério: quem explodiu o prédio? Aproveita-se o ensejo para desligar aquele robô.

Terremoto

Travessia - Drica Moraes
Reprodução / Globo

Já que a autora pede para a gente “voar”, que tal se um terremoto acometer o Rio de Janeiro e levar embora a maioria dos personagens – em especial Chiara, Cidália, Guerra, Ari, Moretti e Núbia.

Ok, terremotos são raros no Brasil. Mas pode ser outro cataclismo, como um tsunami por exemplo. Ou as setes pragas do Egito (olha uma cultura exótica a ser explorada!). Vamos voar!

Ideia tirada do terremoto que Janete Clair promoveu em Anastácia, a Mulher Sem Destino (1967) para recomeçar a novela do zero. Aproveita-se o ensejo para desligar aquele robô.

Antologia

Travessia - Rodrigo Lombardi
Adriano Fagundes / Globo

Já que a ordem é voar, Gloria Perez podia aloprar. A ideia é a autorreferência – já iniciada com a volta de Donelô (Giovanna Antonelli), Stênio (Alexandre Nero) e Creuza (Luci Pereira), de Salve Jorge (2012), promovendo uma antologia de sua obra: atores contracenam com eles mesmos, em personagens de outras novelas de Gloria. Ia chamar a atenção, pelo menos!

Assim, Donelô recebe uma visita de Jade (a de O Clone, não a Picon); Cidália conhece Ana (de Barriga de Aluguel); Moretti bate um papo com ‘Pasthéo’ (de Salve Jorge), Caio (de A Força do Querer) e Raj (de Caminho das Índias); Talita (Dandara Mariana) topa com Marilda (de A Força do Querer); Creuza fica amicíssima de Nazaré (de A Força do Querer); Joel (Nando Cunha) bebe com ‘Percoço’ (de Salve Jorge); e Monteiro (Ailton Graça) encontra Feitosa (de América).

Núbia conhece o seu clone Edinalva (Zezé Polessa em A Força do Querer), já que são a mesma personagem. E Guerra entra no elevador onde já estão Eurico (de A Força do Querer), Ramiro (de Caminho das Índias) e Laerte (de América) – neste caso, pensando bem, melhor não, já que todos são o mesmo personagem…

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Todas as Flores

Todas as Flores - Letícia Colin
Reprodução / Globoplay

Outra saída digna seria dar um ponto final à história o mais rápido possível. O juiz decide pela guarda compartilhada do filho de Brisa (Lucy Alves) e Ari, enquanto ela segue feliz para sempre ao lado de Oto (Romulo Estrela), e Ari, ao lado de Chiara. A última cena pode ser os dois casais passeando na praia, de mãos dadas, com o menino no centro (em referência a Barriga de Aluguel).

Na semana seguinte, a Globo põe Todas as Flores no lugar. A audiência ia deslanchar e assim sobraria mais tempo para a preparação da novela seguinte, Terra Vermelha.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor