André Santana

Um dos pilares do folhetim é a formação de um casal romântico pelo qual o público deve torcer. Uma história de amor bem contada costuma fisgar a audiência pela emoção, o que faz a novela engrenar. Justamente o que não está acontecendo em Travessia. A novela de Gloria Perez não tem um casal verdadeiramente empolgante.

Oto e Brisa em Travessia

A trama que envolve Brisa (Lucy Alves) e Oto (Romulo Estrela), por exemplo, até demonstrou algum potencial em seu início. No entanto, nem mesmo a boa química entre os atores faz o casal acontecer de verdade. Assim, mais uma vez, Gloria erra na condução de seu casal principal, um problema recorrente em sua obra.

Quem é o mocinho?

Travessia começou a contar sua história de maneira errada. Brisa, a heroína, foi apresentada ao lado do amor de infância, Ari (Chay Suede). Eram lindas cenas de amor em meio às paisagens maranhenses, que pareciam indicar ao público o casal principal da novela.

Não era. Ari, na verdade, é o antagonista. Ao apresentá-lo inicialmente como o grande amor de Brisa, Travessia induziu o público ao erro, já que o rapaz parecia o herói da história. Porém, poucos capítulos depois, ele já mostrava seu caráter duvidoso, ao se envolver com Chiara (Jade Picon) e esquecer a noiva. Que tipo de mocinho é esse?

Com a entrada de Oto, a trama principal ficou um pouco mais clara. E o “novo” mocinho agradou, já que logo começou a surgir, nas redes sociais, uma torcida para que Brisa ficasse junto dele. Gloria Perez, atenta, acelerou o romance do novo casal. Inicialmente, Brisa ainda voltaria para Ari, enquanto Oto se envolveria com Leonor (Vanessa Giácomo). Mas a autora mudou de ideia…

Casais insossos

Travessia - Alessandra Negrini e Rodrigo Lombardi
Divulgação / Globo

Assim, com a união de Brisa e Oto, parecia que as coisas estavam resolvidas, certo? Errado. Querendo emplacar seu casal a qualquer preço, Travessia investiu numa sequência de cenas de sexo e pegação que soaram desnecessariamente apelativas.

Além disso, a trama do casal, atualmente, se resume às loucuras de Moretti (Rodrigo Lombardi) tentando separá-los, ao mesmo tempo em que Brisa luta na justiça pela guarda de seu filho com Ari. O casal ficou preso numa história profundamente desinteressante e simplesmente não empolga.

Fora o casal principal, Travessia não tem muito mais a oferecer. O relacionamento entre Ari e Chiara, por exemplo, é ainda mais insosso que o do casal de heróis. E não há qualquer outro casal para o público torcer: Moretti e Guida (Alessandra Negrini) são problemáticos, assim como Leonor e Caíque (Thiago Fragoso).

Com isso, a “esperança” de Travessia é Helô (Giovanna Antonelli) e Stenio (Alexandre Nero), um casal querido pela audiência. Eles conseguiram “salvar” Salve Jorge em 2012. Será que conseguirão novamente?

Problema antigo

América - Deborah Secco e Murilo Benício
Divulgação / Globo

Não é de hoje que Gloria Perez tem dificuldades em emplacar romances em suas tramas. Em América (2005), por exemplo, o público também não embarcou na história de amor entre Sol (Deborah Secco) e Tião (Murilo Benício); o casal se desfez logo no início da trama.

Mesmo apresentados como “alma gêmeas”, Sol e Tião não ficaram juntos. Enquanto a mocinha encontrou um final feliz com Ed (Caco Ciocler), o mocinho engatou um romance com Simone (Gabriela Duarte).

Caminho das Índias (2009) é outro caso clássico. Maya (Juliana Paes) e Bahuan (Marcio Garcia) viviam um típico amor proibido, mas o jeito sonso do mocinho não convenceu. Com isso, ganhou força o par entre a indiana e Raj (Rodrigo Lombardi), enquanto Bahuan praticamente desapareceu da novela.

Salve Jorge (2012) foi outra novela em que os protagonistas não empolgaram. O romance entre Morena (Nanda Costa) e Théo (Rodrigo Lombardi) era tão sem graça que o casal ficou diluído em meio a outras tramas do enredo. Foi a relação de gato e rato de Helô e Stenio que ganhou a atenção e a torcida da audiência.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor