André Santana

Há poucas semanas, a Globo começou a veicular as chamadas que anunciam a estreia de Terra e Paixão. São peças extremamente bem-feitas, que exploram a ambientação agrícola e a beleza dos protagonistas; campanhas de extremo bom gosto.

Lucy Alves
Reprodução / Globo

Porém, as chamadas lançadas até aqui adiantam muito pouco da trama que Walcyr Carrasco pretende contar. Com isso, a campanha repete o mesmo erro do lançamento de novelas como Travessia, estrelada por Lucy Alves (foto acima), Um Lugar ao Sol e Cara e Coragem, que, não por acaso, se revelaram grandes fiascos.

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Pequena evolução

Terra e Paixão - Bárbara Reis, Cauã Reymond e Johnny Massaro
João Miguel Júnior / Globo

Justiça seja feita, as chamadas de Terra e Paixão têm se mostrado mais eficientes ao “vender” a história que Travessia, por exemplo. Na campanha da novela de Gloria Perez, os personagens principais foram mostrados sem nenhuma preocupação de apresentá-los ao público. Eles foram simplesmente “jogados”.

De Brisa (Lucy Alves), por exemplo, só se sabia que ela gostava de Ari (Chay Suede) e que seria perseguida por uma multidão por conta de uma fake news. Já Guerra (Humberto Martins) e Moretti (Rodrigo Lombardi) cultivavam uma rivalidade que dava o start na trama. Mas as chamadas não explicavam isso e apenas mostravam Guerra socando Moretti.

Já em Terra e Paixão, há a preocupação em mostrar a dinâmica da família La Selva, focando muito no patriarca Antonio (Tony Ramos) e sua relação com os filhos, Caio (Cauã Reymond) e Daniel (Johnny Massaro), além de sua rivalidade com Aline (Barbara Reis). Já é uma evolução.

Sem detalhes

Walcyr Carrasco
Divulgação / Globo

Porém, as chamadas não dão mais detalhes dos demais personagens e nem explicam direito a história. Dá a impressão que a direção da Globo quer evitar “spoilers” e surpreender o público. Mas se esquecem que novela sempre viveu de “spoilers”. O espectador gosta de saber antes como será a trama que vai acompanhar.

Afinal, novela é um compromisso longo. Terra e Paixão, por exemplo, vai ultrapassar os 200 capítulos. Sendo assim, é fundamental fisgar o público de cara. E isso só vai acontecer se as chamadas despertarem o interesse da audiência.

Os anúncios podem ser bonitos, claro. Mas eles precisam de um toque de didatismo. No passado, eram várias as campanhas veiculadas, que traziam o perfil dos personagens principais de maneira muito bem explicada. Com isso, quando a novela entrava no ar, o público já sabia quem era quem. Isso se perdeu.

Aliás, faltam tantas informações nas chamadas de Terra e Paixão que até mesmo a data de estreia demorou a ser anunciada. Apenas nas mais recentes peças é que o público foi informado que o folhetim de Walcyr Carrasco (foto acima) vai estrear no dia 8 de maio.

Erro que se repete

Um Lugar ao Sol - Alinne Moraes, Andréia Horta e Cauã Reymond
Divulgação

Não é de hoje que a Globo desaprendeu a fazer chamadas de lançamento de novelas, algo que já fez muito bem no passado. Um Lugar ao Sol (2021, foto acima) é o exemplo mais recente de uma novela “mal lançada”. Afinal, a emissora já estava exibindo matérias sobre Pantanal (2022) quando a novela de Lícia Manzo ainda nem havia estreado.

A campanha de lançamento da saga de Christian (Cauã Reymond) foi toda muito mal elaborada. As chamadas foram incapazes de adiantar o enredo da trama ao público e vários dos personagens principais nem ao menos foram apresentados. Não que isso tenha sido determinante para o fiasco da obra, mas, sem dúvidas, contribuiu para o desinteresse de parte do público.

Cara e Coragem - Marcelo Serrado e Paolla Oliveira
Reprodução / Globo

Produção das sete, Cara e Coragem (2022, foto acima) também não conseguiu explicar do que se tratava a história da novela em suas chamadas. A trama de Claudia Souto já era muito calcada em mistérios, e seu lançamento acentuou isso. Tanto que a novela já acabou faz tempo e tem muita gente que ainda não sabe explicar a história.

É louvável que a Globo esteja encarando a produção de chamadas quase como uma obra artística. No entanto, ela não deve perder de vista a principal função das campanhas de lançamento: “vender” o produto. O público só compra aquilo que sabe o que é.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor