Hoje vamos falar sobre as trilhas de novelas que foram relançadas nas suas reapresentações na TV. O mais interessante desta curiosidade é que não foram todas as novelas que tiveram esse privilégio e isso implicou em algumas mudanças significativas, que foram feitas para readequar cada trilha na sua época atual.

É o que iremos ver a seguir:

Irmãos Coragem (1970)

O western de Janete Clair monopolizou o Brasil em plena Ditadura Militar. Protagonizado por Tarcísio Meira, Glória Menezes e grande elenco, a trama falava sobre a luta dos Irmãos Coragem, Jerônimo, Duda e João, contra os desmandos do Coronel Pedro Barros, na fictícia cidade de Coroado, no cerrado goiano. Ao mesmo tempo, mostra a luta de João Coragem para recuperar seu diamante que foi roubado pelo Coronel, que trata com mãos de ferro o garimpo, que é a principal atividade econômica da cidade.

Produzido por Nelson Motta, com arranjos de Dori Caymmi, Luiz Eça e Watel Branco, esse disco foi prensado pelo selo Phillips, uma vez que a gravadora Som Livre não havia sido fundada – isso só viria acontecer um ano depois, com o lançamento dos LPs nacional e internacional da novela O Cafona, de Bráulio Pedroso.

Em 1980, nas comemorações dos 15 anos da TV Globo, a novela foi reapresentada num compacto apresentado pela atriz Yoná Magalhães. Ainda no mesmo ano, foi reprisada nas manhãs, dentro do programa feminino TV Mulher.

Devido a essa reapresentação, a Som Livre relançou o disco da novela, com leves mudanças na sua capa. A logomarca da novela, que era branco no vinil de 1970, ficou vermelho. Foi feito um leve reajuste no desenho do diamante, além da famosa logo em “S” de fundo azul da Som Livre.

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O Bem-Amado (1973)

Primeira telenovela em cores da TV brasileira, a trama escrita por Dias Gomes contava a extraordinária estória de Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), que tem como meta prioritária de sua campanha política inaugurar o cemitério da cidade de Sucupira.

A trilha de O Bem-Amado apresentou 11 canções da dupla Vinicius de Moraes e Toquinho compostas especialmente para a novela e que fizeram parte da trilha lançada em 1973.

Em 1977, a novela foi reapresentada em caráter emergencial, substituindo “Despedida de Casado”, trama que iria suceder “Saramandaia” em janeiro daquele ano. A produção, que seria protagonizada por Regina Duarte e Antonio Fagundes, foi vetada pela Censura Federal poucos dias antes de sua estréia.

Por esse motivo, a trilha foi relançada no mercado com as seguintes modificações: o logotipo da Rede Globo foi atualizado, em azul na parte inferior na capa, em substituição do antigo, que era de cor preta e estava na área superior, abaixo do título da novela. E o disco, que em 1973 foi prensado pela EMI Odeon, em 1977 foi prensado na fábrica da RCA Eletrônica.

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Gabriela (1975)

Novela realizada para a comemoração dos 10 anos da TV Globo e cinco de liderança nacional. Produção esmerada que teve uma trilha sonora encomendada, uma das últimas trilhas feitas por encomenda para uma novela, reunindo 12 canções. Algumas ficaram marcadas, como Modinha Para Gabriela, composta por Dorival Caymmi e interpretada por Gal Costa, que, inclusive, foi convidada a interpretar o papel-título da trama.

O diretor Daniel Filho, durante a procura pela mulher ideal para viver Gabriela, chegou a convidar a cantora, que declinou do convite alegando que não sabia interpretar. Por isso, depois de inúmeros testes, o papel acabou ficando com a atriz Sônia Braga. Esse papel consagrou em definitivo a sua carreira. Ela voltou a representar essa personagem no filme “Gabriela”, de Bruno Barreto, em 1983, tendo o ator Marcello Mastroianni no papel de Nacib. Foi também a primeira aparição de Maria Bethânia em trilhas sonoras, com a belíssima canção Coração Ateu.

O disco, que teve a produção de Guto Graça Melo e arranjo de Dori Caymmi, foi lançado no formato de capa dupla, com o selo Série Super Luxo, sendo considerada um das melhores trilhas sonoras da teledramaturgia brasileira. A capa e a contracapa traziam a foto da atriz Sônia Braga. As informações do disco, nome das canções e seus intérpretes vinham no miolo, que continham ilustrações do artista plástico Ademir Martins.

Em janeiro de 1979, a Globo reapresentou Gabriela novamente no horário das 10, em substituição à vaga ocupada com o final da novela Sinal de Alerta, de Dias Gomes, enquanto o formato de séries brasileiras estava na fase de produção.

O disco foi relançado com leves modificações. A capa era simples, trazendo novamente a atriz Sônia Braga. A contracapa trazia as informações do disco com fundo negro. O logo da Som Livre estava no lugar onde anteriormente estava a marca comemorativa dos 10 anos da Rede Globo.

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Tieta (1989)

Outro romance de Jorge Amado adaptado para TV em formato de novela. Escrita por Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn, a trama contava a história de Tieta e seu retorno à Santana do Agreste, anos após ser expulsa da cidade pelo seu pai, através de uma armação de sua irmã Perpétua, e sua busca por vingança por todos que a julgaram.

As duas trilhas lançadas pela Som Livre, ambas produzidas pelo produtor musical Mariozinho Rocha, trouxeram canções que marcaram a novela e seus personagens, como Meia Lua Inteira, de Caetano Veloso; Tudo Que se Quer, dueto na voz de Verônica Sabino e Emílio Santiago; No Rancho Fundo, com Chitãozinho e Xororó; além da canção-tema, Tieta, interpretada por Luiz Caldas e que foi composta pelo então diretor de Operações da emissora, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni).

Em 1994, a novela foi exibida no Vale a Pena Ver de Novo. Para essa reprise, a Som Livre relançou novamente a trilha sonora, mas com algumas alterações.

A capa, que trazia a foto da protagonista interpretada por Betty Faria, era a mesma usada no disco volume dois, lançado em 1989, com um detalhe no zoom que cortou boa parte da fotografia. Outra alteração entre os dois discos lançados na época da exibição original para sua reprise é que a seleção musical deste CD foi mista, ou seja, selecionaram os temas mais marcantes apresentados nas duas trilhas. Do disco “Tieta 2“, foram selecionadas as canções dos seguintes intérpretes: Martinho da Vila, Elba Ramalho, Nana Caymmi e Roberta Miranda.

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A Viagem (1994)

O remake da trama, exibida pela Rede Tupi entre 1975 e 1976, escrita por Ivani Ribeiro e que nessa readaptação teve a colaboração de Solange Castro Neves, alcançou o mesmo sucesso da versão original. Temas como o espiritismo, baseado na filosofia de Allan Kardec, a comunicação entre vivos e mortos e crendices populares foram apresentados nessa nova versão.

A trilha internacional, que foi um estrondoso sucesso, vendeu 600 mil cópias, e reuniu grandes hits das rádios FM da época, incluindo os sucessos Linger, com a banda The Cranberries, I’ll Stand By You, com Pretenders, My Love (Little Texas), Another Sad Love Songs (Toni Braxton), Why Worry (Art Garfunkel), I Miss You (Haddaway) e o tema do casal principal Diná e Otávio Jordão, Crazy na voz de Julio Iglesias.

A Viagem foi reapresentada em duas ocasiões no Vale a Pena Ver de Novo: a primeira foi entre abril e setembro de 1997 e a segunda entre julho e julho de 2006.

Foi nesta segunda exibição que a gravadora Som Livre relançou somente a trilha internacional. O disco trouxe as mesmas faixas contidas no seu lançamento em 1994. As principais modificações entre os dois discos estavam na capa: um pequeno zoom na foto da atriz Andréa Beltrão, que cortou um pedaço dos seus pés, a logomarca da novela, que no disco de 1994 era vermelha e que aqui ficou como apresentada na TV, e a lista das músicas, que estava na frente do CD, ficou restrita à contracapa do relançamento.

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Laços de Família (2000)

Um grande sucesso de Manoel Carlos, que contou mais um drama de uma Helena (Vera Fischer). Ela se apaixona pelo jovem Edu (Reynaldo Gianecchini), mas tem que enfrentar o preconceito da tia dele, Alma (Marieta Severo), e disputar o rapaz com sua filha, Camila (Carolina Dieckmann).

A trama abordou problemas do cotidiano, como a prostituição de uma jovem de classe média, a impotência masculina e a leucemia, quando Camila após se casar com Edu, descobre estar doente e precisa urgentemente de um transplante de medula.

A trilha internacional, lançada em 2000, trazia 18 faixas, sendo que quatro delas eram bônus-track nacionais, nas vozes de Adriana Calcanhoto, Paulinho Moska, Cogumelo Plutão e Cássia Eller.

Em virtude da reprise no Vale a Pena Ver de Novo durante os meses de fevereiro e setembro de 2005, a gravadora Som Livre lançou no mercado uma trilha mista intitulada “O Melhor de Laços de Família: nacional e internacional”.

Esse CD trouxe 14 faixas, com sucessos nas vozes de Toni Braxton (Spanish Guitar), Lara Fabian (Love By Grace), Como Vai Você (Daniela Mercury), Samba de Verão (Caetano Veloso), entre outros, além do tema de abertura Corcovado, nas vozes de Astrud Gilberto, João Gilberto, Stan Getz e Tom Jobim.

Enquanto as trilhas nacional e internacional lançadas durante a exibição original traziam os atores Vera Fischer e Reynaldo Gianecchini, esse novo CD tinha em sua capa e contracapa um fragmento da abertura da novela, em que fotografias e pinturas impressionistas se fundiam para retratar paisagens do Leblon, cenário característico das novelas do autor.

Uma curiosidade extra sobre a trilha internacional lançada em 2000 é que foram lançadas duas tiragens. A primeira, na contracapa, trazia apenas a listagem das músicas; a segunda trouxe, ao lado do nome das canções, os seus intérpretes.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor