Novo cartaz do Vale a Pena Ver de Novo, O Rei do Gado (1996) tem uma “novela” por trás da novela. O grande sucesso da Globo, por muito pouco não foi produzido pela TV Manchete, numa inversão ao que aconteceu com Pantanal (1990). Além disso, a história de Bruno Mezenga (Antonio Fagundes) foi adiada por um ano em razão de seu núcleo de italianos.

No final de 1990, a Manchete ainda colhia os frutos do estrondoso sucesso de Pantanal. Benedito Ruy Barbosa estava em alta em razão de sua histórica novela, que conseguiu incomodar a líder de audiência. Com isso, estava tudo certo para que o autor, em breve, assinasse outro folhetim na emissora.

De acordo com nota publicada no Jornal do Brasil em 27 de novembro de 1990, Barbosa já tinha planos para sua próxima novela. Segundo a publicação, o autor planejava uma trama menos fantasiosa, abordando a realidade agrária e agrícola do Brasil. A ideia era explorar alguma região do país, mas como coadjuvante, e não como protagonista, como aconteceu com Pantanal.

Ou seja, a trama planejada por Benedito Ruy Barbosa era O Rei do Gado, que tratava da realidade agrária e agrícola do país. Além disso, a novela explorava as belezas do Araguaia, que entrou como coadjuvante no enredo. No entanto, os planos da Manchete foram abortados, já que Benedito voltou à Globo logo após o fim de Pantanal.

Adiamento

A Próxima Vítima - Glória Menezes e Pedro Vasconcelos

Na emissora carioca, Barbosa finalmente estreou no horário nobre com Renascer (1993), outro grande sucesso de sua galeria. Com isso, O Rei do Gado finalmente entrou na fila das próximas novelas das oito do canal. A ideia era que a trama substituísse A Próxima Vítima (1995) (foto acima).

Porém, o autor e a Globo travaram uma queda de braço nos bastidores que culminou com o adiamento da novela. Isso porque a emissora identificou uma rejeição do público ao núcleo de italianos de A Próxima Vítima. E a primeira fase de O Rei do Gado era composta por vários personagens originários da Itália. Segundo a Folha de S. Paulo, em maio de 1995, o canal temia que a rejeição prevalecesse.

Com isso, a direção da emissora tentou promover algumas alterações no enredo de Barbosa, que se recusou a mexer na novela. Assim, uma adaptação de Aguinaldo Silva do livro Mar Morto, de Jorge Amado, se tornou uma das opções para suceder A Próxima Vítima.

Atraso

Explode Coração

A Globo ainda considerou voltar atrás e apostar em O Rei do Gado como substituta de A Próxima Vítima. Mas, após uma nova rodada de reuniões, os planos foram novamente alterados e Gloria Perez foi escalada para assinar uma nova história. Com isso, Explode Coração (1995) (foto acima) foi definida como a substituta do thriller de Silvio de Abreu.

O Rei do Gado, então, ficou na fila para substituir a história da cigana Dara (Tereza Seiblitz). Porém, mais uma vez, a novela de Benedito Ruy Barbosa sofreu um atraso. A Globo, então, tentou esticar Explode Coração, mas Gloria Perez se recusou a ampliar o folhetim, já que queria finalizar a história para poder se dedicar ao julgamento de Guilherme de Pádua e Paula Thomaz, os assassinos de sua filha Daniella Perez.

A solução da Globo foi exibir a minissérie O Fim do Mundo, de Dias Gomes, na faixa das oito. Anunciada como uma “supernovela em 35 capítulos”, a história substituiu Explode Coração, dando mais tempo para que O Rei do Gado finalmente pudesse estrear, em 17 de junho de 1996.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor