Quando Xuxa puxou o envelope com o nome dos vencedores da primeira edição do Dancing Brasil, o que se viu pelo palco foram sutis reações de “ué?”.

Ficou aquela sensação de “será que isso está certo mesmo?”, afinal, pelas notas dos jurados, Maytê Piragibe e Paulo Victor foram a dupla mais fraca da noite, mas sagraram-se os grandes campeões da competição.

Essa disparidade entre a vontade do público e o julgamento dos especialistas ficou ainda mais evidente quando Maytê falou suas primeiras palavras como campeã: “A voz do povo é a voz de Deus”. A constatação de que estava premiada por uma vontade mais soberana do que qualquer outra que se encontrasse no enorme estúdio do programa soou arrogante para muitos espectadores.

Maytê desabafou como se sua vitória tivesse sido esmagadora e incontestável. Não foi. A diferença da sua pontuação para a da dupla segundo colocada foi de apenas 0,63%. Enquanto Maytê e Paulo conseguiram 42,53% da preferência do público, Jade Barbosa e Lucas Teodoro ficaram com 41,90% dos votos, contra 15,58% de Leo Miggiorin e Dani de Lova.

Mas, recapitulando a noite, percebeu-se que os nervos tomaram conta de todas as duplas, especialmente nas danças iniciais, que era quando os participantes tinham que ser redimir com os ritmos que lhes deram as suas piores notas durante a competição. Nesta etapa, Maytê foi a única que não conseguiu nenhuma nota 10. A salsa de sua dupla perdeu o tempero em muitos momentos, em que os passos não se conectavam com fluidez. A salsa de Leo e Dani também teve algum nervosismo, mas a coreografia foi melhor elaborada. Já Jade e Teo mostraram com o tango que vinham com “sangue nos olhos” pelo icônico “mirrorball trophy”.

No segundo bloco, todas as duplas dançaram o inédito Charleston, ritmo que combinou com o jeito sempre espevitado de Leo Miggiorin (que aliás, esteve preciso em seus passos, que precisam ser milimetricamente sincronizados). Na vez de Jade, ela foi claramente mais ovacionada do que os demais finalistas. Maytê apresentou o Charleston mais simples, com muitos passos descompassados, abrindo mão da sincronia que é o grande charme deste ritmo.

Só no terceiro bloco, o dos ritmos preferidos da temporada, Maytê e Paulo dançaram como verdadeiros finalistas – até então, a presença deles ali estava bem questionável. O tango da dupla teve nota máxima (merecida) dos jurados. O cha cha cha de Jade e Teo foi empolgante e bem executado, mas longe de ser memorável. Já em termos de deixar o seu nome da história do programa, Leo fez a lição direitinho. Em um determinado ponto do seu tango final, Dani vendou os olhos do parceiro, que se moveu pelo salão completamente sem visão e sem errar nenhum passo.

Até agora não se sabe o que os jurados estavam fazendo ali naquela final, pois aparentemente a avaliação deles não alterou o destino dos participantes. Xuxa continuou sendo a Xuxa da temporada inteira também na final, ainda passando pela prova de fogo de fazer ao vivo. Ela sempre se portou muito mais como uma espectadora privilegiada do que como apresentadora, torcendo muito e lamentando a saída de cada dupla que foi deixando a disputa. Sergio Marone, que há muito declarava a vontade de se aventurar como apresentador, perdeu um pouco da sua naturalidade ao ser a parte “didática” do programa.

Dancing Brasil chegou ao fim da primeira temporada não tendo ainda a mesma relevância do original americano Dancing With The Stars, mas não decepcionou em termos de produção. Quem assiste aos dois programas, percebe que a principal diferença se dá justamente no material humano, no caso, os participantes mesmo. Não tivemos neste primeiro ciclo uma grande revelação. Fora isso, é delicioso ver que foram bem fieis à sua origem, inclusive no que se refere ao cenário sem uma quarta dimensão.

A segunda temporada foi anunciada para o dia 24/07. Xuxa explicou em entrevista para Fabio Porchat que a decisão do diretor Rodrigo Carelli em emendar duas temporadas foi feita para que o público se habituasse melhor ao formato.

Os 12 novos participantes foram anunciados: a cantora Allinne Rosa, a ex-dançarina do Domingão do Faustão Carla Prata, o ator Carlos Bonow, o fundador do Só Pra Contrariar Fernando Pires, a jogadora de vôlei Jaqueline, o modelo e DJ Jesus Luz, a cantora Lexa, a ex-jogadora de futebol Milene Domingues (que já participou de uma versão do programa na Espanha), o ator e modelo Raphael Sander, a atriz Suzana Alves, o ator Theo Becker e o apresentador Yudi Tamashiro (estes últimos dois, que também já participaram de outro reality da Record, A Fazenda).

Em tempo: a final bateu 7,25 pontos de audiência na Grande São Paulo, sendo vice-líder de audiência, contra 7,22 pontos do SBT no horário, uma vitória nos décimos, mas que foi amplamente comemorada.


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