André Santana

Assim que começaram a ir ao ar as primeiras chamadas de Elas por Elas, o público já percebeu que a nova novela das seis da Globo tinha cara de novela das sete. O que faz total sentido, já que a primeira versão da trama, escrita por Cassiano Gabus Mendes em 1982, foi ao ar às 19h. Com a novela no ar, tal situação ficou ainda mais evidente.

Deborah Secco como Lara em Elas por Elas
Deborah Secco como Lara em Elas por Elas (Reprodução / Globo)

Porém, apesar de qualquer estranheza e da baixa audiência, a novela escrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson tem sido alvo de boas críticas. O que faz levantar o seguinte questionamento: será que a emissora não teria sido mais feliz se tivesse escalado Elas por Elas para substituir Vai na Fé?

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Crise eterna

Cara e Coragem - Marcelo Serrado e Paolla Oliveira
Marcelo Serrado e Paolla Oliveira em Cara e Coragem (Reprodução / Globo)

A faixa das sete da Globo enfrentou um período turbulento após a pandemia da Covid-19. Após o sucesso de Salve-se Quem Puder (2020-21), a emissora amargou os fracassos de Quanto Mais Vida, Melhor! (2021-22) e Cara e Coragem (2022-23). A situação se reverteu com Vai na Fé (2023), que elevou a audiência do horário.

Além de levantar os números, Vai na Fé também colecionou elogios. Público e crítica se renderam à simpática trama escrita por Rosane Svartman, fazendo da novela um grande acerto em todos os sentidos.

No entanto, Fuzuê não vem alcançando o mesmo prestígio. A trama apresenta uma audiência oscilante, acumula críticas do público e não repercute como sua antecessora. A Globo tem buscado realizar ajustes na história para tentar reverter este cenário.

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Cenário distinto

Maria Clara Spinelli e Kesia em Elas por Elas
Maria Clara Spinelli e Kesia em Elas por Elas

Enquanto isso, na faixa das 18 horas, Elas por Elas foi bem recebida pela crítica. A audiência está abaixo da meta, mas a repercussão ainda é positiva, salvo uma ou outra reclamação.

Sendo assim, a Globo pode ter errado ao escalar Elas por Elas para a faixa das seis. Não que a trama não seja adequada ao horário, longe disso, mas é que o folhetim às 19h teria dado sequência à boa fase iniciada por Vai na Fé.

Afinal, a novela já está sendo bastante prestigiada às 18h. Às 19h, a recepção seria semelhante e Elas por Elas herdaria os fãs da história anterior, já que tem qualidades que a equiparam à trama de Rosane Svartman.

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Comparação

Giovana Cordeiro vive Luna em Fuzuê
Giovana Cordeiro vive Luna em Fuzuê (reprodução/Globo)

Um dos problemas enfrentados por Fuzuê é a “sombra” de Vai na Fé. Como o sucesso de sua antecessora foi grande, criou-se uma expectativa sobre o desempenho da história de Gustavo Reiz. Isso acabou gerando certa frustração, já que as duas novelas são muito diferentes, e resultou até no encurtamento da obra.

Vai na Fé era bem-humorada, mas se tratava de um melodrama com tintas realistas, inclusive com panos de fundo sérios, como o abuso sexual. Já Fuzuê é uma farofa despretensiosa, totalmente descolada da realidade.

Mais um motivo para se concluir que Elas por Elas poderia ter sido uma sucessora melhor para Vai na Fé. A atual novela das seis prima pela qualidade do humor e tem seus momentos nonsense, mas, no geral, apresenta uma trama de cores mais realistas. Teria sido uma sucessão menos drástica.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor