André Santana

Ao colocar Ari (Chay Suede) no centro das ações de Travessia, Gloria Perez conseguiu chamar a atenção do público. Finalmente, a trama das nove da Globo se livrou da falta de história ao transformar o maranhense numa espécie de vilão controverso. O público embarcou e a audiência subiu.

Lucy Alves como Brisa em Travessia
Reprodução / Globo

Por outro lado, o folhetim esvaziou ainda mais Brisa (Lucy Alves), que chega à reta final de Travessia sem dizer a que veio. Vendida como a heroína da história, a personagem acabou ofuscada pela saga do ex-noivo.

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Sem conflitos

Travessia - Chay Suede e Lucy Alves
Reprodução / Globo

No início de Travessia, Brisa passou por uma série de provações por conta de uma montagem que fizeram na internet, na qual ela aparecia como uma sequestradora de crianças. Ao fugir de um linchamento, a mocinha conheceu Oto (Romulo Estrela) e foi parar no Rio de Janeiro, onde iniciou uma cruzada para encontrar Ari.

Porém, toda a história que a envolvia morreu aí. Após uma temporada na prisão, a mocinha foi basicamente reduzida a uma disputa interminável pela guarda de Tonho (Vicente Alvite). Brisa simplesmente não conseguiu uma história para chamar de sua no enredo.

Diante de tanta especulação na internet sobre a origem da jovem, Gloria Perez resolveu colocar este mistério na narrativa. Para isso, enfiou uma cigana (Sura Berditchevsky) em Vila Isabel, que passou a alertar Brisa sobre um parente de sangue. Com isso, a mocinha saiu em busca do tal familiar.

Propaganda enganosa

Travessia - Sura Berditchevsky
Reprodução / Globo

O problema é que esta cigana foi tirada do éter justamente para fazer Brisa se movimentar. A personagem de Sura Berditchevsky aparece toda hora, sempre com uma “novidade” que não leva a mocinha a lugar nenhum.

Por causa da cigana, Brisa desconfiou que poderia ser filha de Guerra (Humberto Martins), fez um teste de DNA, descobriu que não é mãe biológica do próprio filho… E nada do tal parente. A heroína anda em círculos.

Ou seja, a cigana mais parece uma encarnação do Mestre dos Magos, icônico personagem da série de animação Caverna do Dragão, que só aparecia para lançar enigmas que mais confundiam do que explicavam qualquer coisa.

No topo

Travessia - Chay Suede
Reprodução / Globo

Enquanto isso, Ari roubou a cena com sua trajetória ascendente. Até aqui, parece ser ele o personagem que justifica o título da novela. Afinal, enquanto Brisa não sai do lugar, o vilão se lançou em uma verdadeira travessia, saindo de sua confortável missão de protetor do patrimônio histórico e se lançando numa cruzada de poder, dinheiro e vingança.

Está tão ruim para o lado de Brisa que, nos mais recentes capítulos, até Chiara (Jade Picon) parece ter mais importância que ela. A influencer, que chegou a ter sua participação reduzida, voltou aos holofotes ao descobrir que está grávida de Ari. A jovem vive um conflito real, enquanto Brisa patina num drama que só existe na cabeça dela.

Brisa não funcionou como protagonista de Travessia. A história da jovem simplesmente não decola e até seu romance com Oto deixou de ser interessante. Enquanto isso, Ari segue tocando o terror e roubando todas as cenas na novela da Globo.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor