A quase dois meses de seu final, Novo Mundo se mostrou um grande acerto do horário das 18h. A novela dos estreantes Alessandro Marson e Thereza Falcão prima pela ótima fusão do folhetim romântico com as aventuras dos filmes de piratas e um importante período da história do Brasil (os antecedentes da Independência). E, nos últimos capítulos, um importante detalhe vem chamando a atenção: a afiada crítica ao sistema político da época, com impressionantes paralelos com a realidade atual.

Tendo como base a proposta de uma Assembleia Constituinte no Brasil, ideia defendida pelos liberais, a abordagem se deu através de uma armação de Thomas (Gabriel Braga Nunes). O oficial inglês, contrário à elaboração da nova constituição, convence o simplório Licurgo (Guilherme Piva), dono da taberna junto a Germana (Vivianne Pasmanter), a se candidatar ao cargo de deputado. Para tanto, o vilão alega que “qualquer imbecil pode ser eleito” e que seu representante de fachada “não tem escrúpulos e seria capaz até de vender a própria mãe”.

Deslumbrado com a ideia, porém, sem nenhum conhecimento político, Licurgo começou sua campanha proferindo pérolas hilárias e desavergonhadas, despertando de imediato a desconfiança da população e especialmente de José Bonifácio (Felipe Camargo). O ministro regencial e aliado de D. Pedro (Caio Castro), percebe que, com sua total falta de preparo, o aproveitador não passa de um fantoche.

Através do personagem de Guilherme Piva, os autores traçam um curioso paralelo entre o período pré-imperial e o Brasil atual, republicano. Seus diálogos evidenciam práticas corriqueiras e ainda muito presentes na realidade política brasileira, como o privilégio aos interesses pessoais em detrimento dos anseios públicos, o favorecimento de grupos poderosos, a proposição de leis esdrúxulas e os políticos de fachada, muitas vezes utilizados para puxar votos que elegem nomes inexpressivos, além da passividade da população, que insiste em reeleger nomes comprovadamente corruptos e que em nada acrescentam.

Ainda merece elogios o tom satírico da condução do tema, que ganha ainda mais força nas divertidas interpretações de Guilherme Piva e Vivianne Pasmanter. Os dois atores estão em plena sintonia e esbanjam versatilidade na pele do casal que tenta de todas as maneiras se dar bem (o famoso “jeitinho brasileiro”).

Ao mesmo tempo, os ideais de um país mais justo estão presentes nas personalidades de Bonifácio e da princesa Leopoldina (Letícia Colin). A esposa de Dom Pedro, que se tornou uma das personagens mais queridas da novela (em parte graças à brilhante interpretação de Letícia), tem papel decisivo em várias decisões políticas – chegando a ponto de vestir as roupas do marido e se reunir com representantes das províncias, para evitar uma maior instabilidade política.

Já o ministro, um dos articuladores da independência brasileira, mostrou seu temor em decorrência da conjuntura do país e do pouco conhecimento da população, o que o deixa em alerta para o risco de que os deputados da Assembleia Constituinte privilegiem apenas os seus interesses. Um quadro que já preocupava no período e que persiste até hoje.

Novo Mundo continua deliciosa de se acompanhar e certamente deixará saudades quando encerrar sua trajetória – o fim da novela está previsto para meados de Setembro. A acertada fusão entre o contexto histórico e o folhetim ganhou ainda mais força com a crítica à classe política, evidenciando um triste quadro que, após quase 200 anos da independência, pouco (ou quase nada) mudou.


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