Crise nas novelas faz Globo pagar preço por medida precipitada
27/01/2023 às 19h16

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A novela das nove da Globo é o produto mais importante da TV brasileira. É o programa mais visto, o intervalo comercial mais caro, a maior vitrine do país. Uma trama de sucesso ajuda até mesmo a “pautar” o Brasil, já que se torna o assunto da vez. Os temas abordados na novela viram debates do jantar, da happy hour e do cafezinho no trabalho.

Reprodução / Globo
Sendo assim, soa até como descaso o fato de a Globo ter aposentado tantos autores tarimbados. Alguns se aposentaram por conta própria, como Manoel Carlos ou Benedito Ruy Barbosa, por conta do cansaço e da idade avançada. Mas nomes como Aguinaldo Silva, Silvio de Abreu ou Maria Adelaide Amaral ainda estavam ativos.
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Ao abrir mão destes e de outros valores, o canal deixou uma lacuna em seu principal horário. Walcyr Carrasco e João Emanuel Carneiro seguem na labuta e têm muito a contribuir. Mas são poucos. Falta mão de obra criativa na Globo e a conta chegou, daí a busca por refazer novelas de sucesso.
Remakes à vista

Divulgação / Globo
Atualmente, a Globo está refém de seu próprio legado. O canal dispensou vários dos principais nomes responsáveis pela consagração da faixa das nove, mas não conseguiu substituí-los à altura. Tanto que, das apostas recentes, “apenas” Carneiro e Carrasco se consolidaram ali.
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A aposta em Pantanal (2022) e, agora, em Renascer, é um claro exemplo disso. Óbvio, remakes não são novidade na Globo. No entanto, chama a atenção a opção por duas regravações no horário nobre e em tão pouco tempo. A emissora, é bom salientar, nunca demonstrou apreço por remakes na faixa das 21h, preferindo alocá-los às 18h, 19h ou 23h. A segunda versão de Selva de Pedra (1986) foi uma exceção à regra.
Tanto que Gilberto Braga revelou, em 1999, que tentou emplacar um remake de Dancin’ Days às 21h, mas teve a ideia vetada pela direção do canal. A ele, foi oferecido a faixa das 18h para o projeto. No entanto, o autor considerou que sua ideia era para o horário nobre e, assim, a descartou. Em seu lugar, ofereceu Força de um Desejo, hoje no ar no canal Viva.
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Ou seja, dois remakes de Benedito Ruy Barbosa na faixa das 21h representam uma quebra de paradigma. Uma quebra causada justamente pela falta de autores em seu principal horário.
Medalhões

Nelson Di Rago / Globo
Além de Benedito Ruy Barbosa, o saudoso Cassiano Gabus Mendes costuma ser revisitado de tempos em tempos. O pioneiro da TV brasileira terá uma de suas principais obras, Elas por Elas (1982), refeita no segundo semestre, na faixa das 18h.
Isso indica que a própria Globo avalia que Benedito, Cassiano e outros medalhões não deixaram substitutos à altura. Com isso, tem preferido apostar em seus textos. Ao que tudo indica, não há confiança da direção de teledramaturgia nas histórias de novos autores.
Escolhas

Reprodução / Globo
Dispensar grandes nomes de sua teledramaturgia tem a ver, também, com a política de redução de despesas da Globo. Os veteranos da dramaturgia tinham altos salários, algo que todas as emissoras têm deixado de praticar.
Mas isso criou uma lacuna. A casa não possui mais um banco de talentos para acionar e reavivar seu horário nobre. E também parece pouco disposta a promover lançamentos na faixa, vide os insucessos de Manuela Dias e Lícia Manzo.
Como diretor de teledramaturgia, Silvio de Abreu sempre demonstrou preocupação em revelar novos autores, no intuito de assegurar a continuidade do gênero. E ele foi feliz com a maioria de suas apostas. Mas não conseguiu promover esta renovação na faixa das 21h. Depois de João Emanuel Carneiro e Walcyr Carrasco, não surgiu mais um grande autor para o horário.
Ou seja, os autores dispensados pela Globo fazem falta. Sem um grande novelista para dar sequência ao seu principal horário, resta à emissora seguir revirando seu acervo para manter viva a sua tradição em novelas.