Fabio Marckezini

A televisão sempre fez de tudo para agradar o telespectador: do drama à comédia, da emoção à ação. Quando a Globo lançou a sua nova programação em 1996, tratou de prestigiar o público jovem com o game show Ponto a Ponto, que contava com provas radicais e perigosas. A marca que esse programa deixou, contudo, foi a de associação à tragédia.

Ponto a Ponto - Ana Furtado, Danielle Winits e Márcio Garcia

Naquele ano, o SBT anotava bons índices de audiência com sua programação dominical, incluindo o Domingo Legal, que era apresentado por Gugu Liberato e muitas vezes alcançava o primeiro lugar no Ibope. Além de reforços no Domingão do Faustão e nos filmes da Temperatura Máxima, a emissora buscou reagir apostando em uma nova produção.

Game show de gosto duvidoso

Ponto a Ponto - Ana Furtado

Ponto a Ponto, apresentado por Ana Furtado, Danielle Winits e Márcio Garcia, apostava no público jovem para atrair a audiência. O game show, baseado no programa El Gran Juego de la Oca, da televisão espanhola, trazia estudantes que enfrentavam com toda a coragem as provas desafiadoras.

A atração, que parecia um Passa ou Repassa “heavy metal”, mostrava um palco totalmente caótico, com os apresentadores chegando em uma pick up, enquanto o secretário de palco descia, de ponta cabeça, do alto do estúdio. E, claro, homens e mulheres, com poucas roupas, faziam do programa um Domingo Legal beligerante.

“Autoflagelação”, “depilação”, “ping pong submarino” e “bolo na gaiola” eram algumas das provas que faziam parte do Ponto a Ponto. Uma delas, “Bola de Fogo”, era a principal da atração. O competidor, com roupa antichamas, empurrava uma bola em chamas em uma rampa. A imagem era impactante e chamava a atenção.

Uma brincadeira que acabou em tragédia

Ponto a Ponto - Danielle Winits

Os irmãos Felipe Boch, de 15 anos, e Gustavo Boch, de 17 anos, ficaram impressionados com a prova.

Depois de uma exibição do programa, os irmãos convidaram seus amigos para jogar futebol, mas de uma forma diferente – com a bola em chamas. Para que a brincadeira continuasse, os dois foram pra casa pegar mais combustível. Quando eles mexeram em um tonel de thinner, ocorreu uma grande explosão.

Os dois irmãos ficaram gravemente feridos e foram encaminhados para o hospital. Felipe, o mais novo, teve 80% de seu corpo queimado e faleceu no dia 17 de maio de 1996. Gustavo, o mais velho, também não resistiu e morreu dias depois.

Investigação e apuração

Ponto a Ponto - Márcio Garcia

O fato foi amplamente divulgado e um inquérito foi instaurado para investigar se, de fato, o Ponto a Ponto teve influência no acidente. Odilon Abreu, subprocurador geral de Justiça do Estado, pediu que o programa fosse tirado do ar em todo o Brasil. Já o então deputado Gilney Viana pediu que a Procuradoria Geral da República investigasse o caso.

A Globo afirmou que o programa seguia todas as normas de segurança, os competidores realizavam as provas bem protegidos e ainda tinham a cobertura de um seguro de vida.

Ponto a Ponto saiu do ar depois de cinco meses, com 19 programas gravados e audiência em baixa, antes mesmo que a Justiça emitisse parecer sobre o caso. Ainda assim, nada serviria de consolo para a dor da família que perdeu os jovens.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor