Criado para ser vilão, personagem de Travessia acabou virando piada

Travessia - Nando Cunha

Reprodução / Globo

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O robô Haroldo tinha uma missão nada nobre em Travessia. A máquina seria uma espécie de vilã dentro da história de Gloria Perez, já que entrou em cena para roubar o emprego do simpático Joel (Nando Cunha), o garçom boa-praça do bar Encanto da Vila.

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Porém, alguma coisa deu errado nesta tentativa de vilanizar o robô. Considerado absurdo, o conflito envolvendo Haroldo e Joel não caiu nas graças do espectador. Pelo contrário, acabou virando chacota, tornando-se mais um ponto negativo do capenga enredo criado pela autora.

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Homem x máquina

João Miguel Júnior / Globo

A proposta de Travessia era tratar sobre o impacto positivo e negativo da tecnologia na vida das pessoas. Assim, a trama busca (ou buscava…) abordar todas as facilidades que a tecnologia proporcionava, mas, ao mesmo tempo, apontar o lado sombrio da temática, como o problema das fake news e o vício em internet.

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Em meio a esta proposta, a novela buscou debater o conflito entre homem e máquina, partindo do questionamento acerca da automação e o quanto ela pode ameaçar o trabalho humano. Daí veio a ideia de apostar em um garçom-robô, que se tornaria rival do garçom de carne e osso.

Para criar tal narrativa, Gloria Perez se inspirou em uma matéria do The New York Times. A publicação destacou os garçons-robôs que atendem o público de uma rede de restaurantes de comida italiana na Flórida. Segundo a matéria, a adoção dos robôs fez aumentar o valor da gorjeta dada aos funcionários “humanos”.

Chacota

Reprodução / Globo

Com isso em mente, Gloria Perez buscou retratar a dicotomia do homem x máquina de maneira, digamos, “lúdica”. Neste contexto, o robô Haroldo entra em cena e logo ganha o carinho dos clientes, fazendo Joel se sentir enciumado. O ranço que o garçom nutre da máquina, até agora, é o grande conflito do personagem de Nando Cunha.

Mas, na prática, este antagonismo não funcionou. Desde que entrou em cena, o robô Haroldo virou motivo de piada junto ao público, que considerou a novidade surreal. Além disso, as cenas envolvendo a máquina e Joel não ajudam o público a embarcar na fantasia proposta.

Isso porque, além do humor empregado no texto ser pobre e raso, há um claro descompasso entre roteiro e direção. A relação de Joel e Haroldo devia ser mostrada com um tom nonsense, afinal, a situação em si é absurda. No entanto, as sequências imprimem certa seriedade no conflito, o que deixou a discussão boboca. Por isso, Haroldo virou motivo de chacota em Travessia.

Tecnologia flopada

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O fato de Haroldo ter passado de vilão a piada é mais um dentre os tantos equívocos de Travessia no trato à tecnologia. O folhetim de Gloria Perez partiu de uma fake news que nunca convenceu, já que foi, todo o tempo, tratada como uma “brincadeira de criança”. Foi Rudá (Guilherme Cabral) quem fez a montagem com o rosto de Brisa (Lucy Alves).

Isso não é bem “fake news”, né? Se a autora quisesse fazer uma abordagem séria sobre o tema, devia retratar as redes de informação falsa e como elas podem ser prejudiciais. No entanto, se fizesse esse tipo de enredo, a novelista poderia desagradar os apoiadores do seu (suposto) candidato à presidência…

Além disso, a maneira como a novela trata temas como multiverso também deixa bastante a desejar. Tudo isso mostra como Travessia tem um sério erro de concepção, o que se reflete em sua baixa audiência.

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