A atriz Vera Gimenez enfrentou uma situação, no mínimo, inusitada. Escalada para atuar numa novela, a mãe da apresentadora Luciana Gimenez foi cortada do elenco pela diretora. Tal história rendeu um processo movido pela atriz por conta da “falta de respeito” com ela.

Vera Gimenez

Musa das pornochanchadas na década de 1970, Vera acumulou sucessos na televisão. O primeiro deles foi Anjo Mau (1976), como a frívola Paula. Em 1989, após participar da minissérie Anos Dourados (1986) na Globo, ela foi contratada pela Manchete para atuar em Kananga do Japão.

Para “entrar no clima” do Rio de Janeiro dos anos 1930, período em que a trama de Wilson Aguiar Filho era ambientada, a artista chegou a cortar o cabelo, emagrecer cinco quilos e fazer aulas de dança. De nada adiantou tamanha dedicação…

Corte sem justificativa

Vera Gimenez

Vera Gimenez acabou dispensada antes mesmo do início das gravações, sob a alegação de que seu “feeling” não combinava com o da diretora geral da trama, Tizuka Yamasaki.

“Acho que a Tizuka não regula bem. Na véspera de começar a gravar, ela descobriu que não me via no personagem. Ela não tem ética”, afirmou a atriz em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, de 25 de junho de 1989.

Revoltada, Vera decidiu mover um processo contra a diretora e a Rede Manchete por danos morais e psicológicos. Ela também buscava receber a multa pela rescisão do contrato que terminaria em dezembro daquele ano. Conforme a nota do Jornal do Brasil de 21 de junho de 1989, a atriz estava disposta a levar o processo até às últimas consequências.

Direito de resposta

Tizuka Yamasaki

Depois, foi a vez de Tizuka Yamasaki fazer a seguinte declaração à Folha, também em 25 de junho de 1989:

“Quando entrei no projeto, ela já estava escalada para fazer a prostituta Zazá. De repente, saquei que ela não poderia render nesse papel. Não que ela não seja uma boa atriz. Compreendo que ela esteja furiosa. No lugar dela, também estaria”.

Tizuka – diretora de filmes como Gaijin – Os Caminhos da Liberdade (1980), Parahyba Mulher Macho (1983) e Patriamada (1984) – foi convidada para assumir Kananga do Japão em meio à reformulação do núcleo de Dramaturgia da Manchete.

Quando indagada sobre as declarações de Vera Gimenez, que a tratou por autoritária e tirana em declarações para jornais e revistas, Yamasaki mostrou-se tranquila. Ao Jornal do Brasil, de 8 de julho de 1989, ela desabafou:

“O pior erro de um diretor é a indecisão. Quando cheguei na Manchete, quase um terço do elenco já estava contratado. Na hora da afinação geral, apareceram os desafinos. Eu necessito de franqueza na relação com os atores para o trabalho não parecer frouxo. Com a Vera Gimenez, não estava conseguindo isso”.

“Não me preocupei em responder às acusações de Vera. Nessas situações, quem sai mais prejudicada é a atriz. Eu posso até passar por uma diretora tirânica, mas isso não atrapalha meu trabalho. E, além do mais, não sou tirânica. É possível ter autoridade sem ser autoritário”, encerrou.

Por onde anda Vera Gimenez

Vera Gimenez e Luciana Gimenez

Vera Gimenez manteve-se afastada da TV até 1993, quando participou da minissérie Contos de Verão. Neste período, ela concluiu a graduação em Psicologia. Em maio de 1994, a artista foi diagnosticada com câncer de mama, passando por mastectomia e quimioterapia. Após a recuperação, ela foi convidada pelo diretor Jorge Fernando para integrar o elenco de A Próxima Vítima (1995).

Ela ainda enfrentou outros dois diagnósticos de câncer: na costela direita, em 2005, o que implicou em sessões de radioterapia, e um osteoblastoma, no pedículo da sétima vértebra, em 2010, quando voltou à fisioterapia. Seus últimos trabalhos foram Cristal (2006, SBT), Ti-Ti-Ti (2010) e Tempo de Amar (2017).

Vera foi casada com Jece Valadão, pai de seu filho Marco Antônio Gimenez, também ator. A apresentadora Luciana Gimenez, da RedeTV!, é fruto de seu relacionamento com João Alberto Morad.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor