Após quase 15 anos comandando o Big Brother Brasil, Pedro Bial iniciou no ano passado uma nova fase na Globo. O apresentador e ex-repórter recebeu a missão de substituir Jô Soares, que teve seu Programa do Jô encerrado em 2016 – uma decisão precipitada, diga-se. Com o singelo nome de Conversa Com Bial, o talk show estreou em Maio de 2017, apresentando chamadas que reforçavam a ideia do diálogo, especialmente nos tempos atuais, onde temas polêmicos rendem trocas de acusações e pesados insultos em redes sociais. O saldo foi bem avaliado pela emissora e rendeu uma nova temporada, iniciada na última segunda-feira, que tem tudo para repetir o bom desempenho.

O programa não é exatamente inovador, pelo contrário: tem todos os elementos inerentes ao gênero, tais como entrevistas, banda fixa e plateia. Porém, o “Conversa” chama atenção por priorizar o “talk” ao “show” – ou seja, tendo maior foco na entrevista e no que o convidado tem a dizer – e por reunir, em sua maioria, vários entrevistados em um mesmo programa, reforçando a ideia de uma conversa entre amigos, com diversos pontos de vista e onde todos participam. É um diferencial em relação a programas como os já consagrados The Noite Com Danilo Gentili (SBT), Programa do Porchat (Record) e Lady Night (comandado por Tatá Werneck no Multishow).

Outro elemento que chama atenção é a posição da bancada, em que os convidados ficam à esquerda de Bial, e não à direita. A inversão foi um pedido do apresentador, que perdeu parte da audição direita durante a cobertura da guerra civil na antiga Iugoslávia nos anos 90, quando uma bomba explodiu a 20 metros de onde ele estava.

A primeira temporada recebeu várias personalidades de todas as áreas, como a presidente do STF Carmem Lúcia (que fez o programa de estreia); os cantores Ney Matogrosso, Rita Lee, Elza Soares, Anitta, Paulo Miklos e Nando Reis; os atores Tony Ramos, Leandra Leal, Juliana Paes, Elizângela, Fernanda Montenegro, Cássia Kiss, Rodrigo Santoro e Vladimir Brichta; a ex-ginasta Laís Souza; o astronauta Marcos Pontes; os jornalistas Arthur Xexéo, Leda Nagle e Patrícia Kogut e as culinaristas Palmirinha Onofre e Bela Gil.

Todos discutiram temas relacionados a suas carreiras ou fatos marcantes nos quais eles estejam inseridos, rendendo entrevistas inspiradas, em especial as de Carmem Lúcia, Rita Lee, Fernanda Montenegro e Juliana Paes. E a nova edição tem a missão de manter o nível, através de nomes como o ministro Luiz Fux, o escritor Paulo Coelho e os cantores Frejat e Ney Matogrosso, estes prestando homenagem ao ídolo Cazuza, que faria 60 anos se estivesse vivo.

A experiência de Bial com debates não é nova. Ele já havia transitado por este universo quando comandou o Na Moral, programa semanal exibido entre 2012-14. Recebendo convidados a cada episódio, o apresentador debatia assuntos como dinheiro, fama, beleza, drogas, estado laico, democracia, limites do humor e honestidade – neste, em especial, Bial recebeu o ator Antônio Fagundes e reprisou um episódio do Você Decide, cujo final foi alterado. Embora algumas abordagens pecassem pela superficialidade, o programa resgatou o espírito jornalístico do comunicador, até então estritamente associado ao BBB.

Agora, Bial mostra que vem honrando a missão de suceder Jô Soares – algo que, por sua vez, não acontece com Tiago Leifert, que o sucedeu no reality show e vem deixando a desejar. O Conversa Com Bial apresenta um estilo um pouco mais “sério” em relação ao clima de pura irreverência de seus concorrentes diretos, mas nem por isso se torna sisudo demais. Não à toa, é uma boa opção para aqueles que preferem o “talk” ao “show”.


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