Contrariando primeiros capítulos, Deus Salve o Rei perde fôlego e não empolga

03/03/2018 às 10h00

Por: Thallys Bruno
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Apoiada na esmerada construção gráfica e visual de cenários, ambientes e figurinos e na presença de nomes populares entre o público jovem, Deus Salve o Rei parecia promissora em suas primeiras semanas. A trama das sete se apoiava em um enredo básico, mas aparentemente eficiente: o príncipe que abdica do trono de seu reino para viver com sua amada plebeia, deixando-o na mão do irmão imaturo. Porém, passados quase dois meses, a história de Daniel Adjafre vem perdendo fôlego e se tornando mais cansativa a cada capítulo.

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A começar pelo entrecho central: a forma como Afonso (Rômulo Estrela) renunciou ao posto de rei de Montemor, obrigando o cínico caçula Rodolfo (Johnny Massaro) a assumir o posto, causou estranheza no perfil do mocinho, vendido como um personagem justo e correto. Antes querido pelo povo, o monarca simplesmente “deu de ombros” para a nobreza e abandonou tudo em prol de Amália (Marina Ruy Barbosa), moradora de Artena, reino vizinho – após ela simplesmente se recusar a se adaptar à nobreza, mas não se importar de vê-lo cedendo por ela.

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O egoísmo demonstrado pelos dois não condiz com os perfis de caráter exemplar que a novela vende. Para piorar, o romance não desperta atenção – apesar da química entre os intérpretes – pela sua condução rápida demais, problema que também acometeu a novela anterior, Pega Pega; e foi atingido por um conflito sem pé nem cabeça: a mocinha perdeu a memória e passou a desprezar Afonso, graças a um feitiço da bruxa Brice (Bia Arantes). Não deu para entender.

A vilã Catarina, por sua vez, também não disse a que veio. A sedutora e maquiavélica princesa de Artena, que ambicionava se livrar do pai, o diplomático Augusto (Marco Nanini); até agora pouco fez neste sentido. O máximo que tem aprontado é se livrar do indesejado Marquês (Vinícius Calderoni) e se envolver com o duque Constantino (José Fidalgo). Muito pouco para um perfil que tinha tudo para movimentar a rivalidade entre os dois reinos. Nem mesmo a entrada de Mirtes (Maria Manoella), prima de Catarina, conseguiu agregar – aliás, ela saiu com a mesma velocidade que entrou.

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E nem mesmo a chegada de Lucrécia (Tatá Werneck) consegue melhorar a situação. A trama da nova esposa de Rodolfo, com quem ele se casou em segredo, se resume a um esquete humorístico com constantes tentativas de sedução e crises de ciúme; andando em círculos e também não acrescentando em nada ao enredo – ao contrário, tirou a importância e a função de Rodolfo, até então o perfil mais rico da história. Bem como o triângulo amoroso de Selena (Marina Moschen), Ulisses (Giovanni de Lorenzi) e Saulo (João Vithor de Oliveira), que prometia ser uma boa alternativa ao entrecho principal, mas é tão cansativo quanto.

A parca evolução da história nestes primeiros meses de duração é um fator que merece atenção. A impressão que fica é que a novela se preocupou demais em impressionar pelo fator visual dos belos cenários e da ambientação e esqueceu do que realmente importa: uma trama coesa, consistente, que valoriza cada personagem e permite uma boa condução dos perfis e desdobramentos e reviravoltas. E mesmo a construção gráfica tem causado controvérsias, pois em algumas cenas fica muito evidente a utilização do recurso do chroma-key (cenário virtual projetado em um telão de fundo), deixando o resultado artificial.

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Outro fator incômodo é a quase total ausência de atores veteranos de maior peso, agravada pela saída da sempre maravilhosa Rosamaria Murtinho (rainha Crisélia, avó de Afonso e Rodolfo) ainda na primeira semana. No entanto, o cenário externo também explica essa menor quantidade de medalhões, uma vez que eles foram distribuídos para outras obras, como Tempo de Amar (às 18h), O Outro Lado do Paraíso (às 21h) e também Pega Pega.

Ainda assim, o grupo atual, em sua maioria, não chega a fazer feio. Rômulo Estrela está seguro em seu primeiro protagonista; Marina Moschen se destaca como a empoderada Selena; Marco Nanini esbanja segurança, embora seu personagem Augusto seja excessivamente diplomático para um rei; e Ricardo Pereira está ótimo na pele do vilão Virgílio.

Marina Ruy Barbosa faz o possível para emprestar credibilidade à sua mocinha Amália e o faz de forma convincente, mas aquém de grandes momentos recentes, como a Malvina de Amorteamo (2015) e a Eliza de Totalmente Demais (2015-16). Bruna Marquezine, no olho do furacão devido às críticas à sua atuação nos primeiros dias, ainda não se encontrou, uma vez que o tom excessivamente gélido e a fala pausada deixam a vilã muito robótica. E Tatá Werneck, exímia comediante, parece não ter sorte com novelas – com exceção da Valdirene, de Amor à Vida (2013-14), nenhum papel a valorizou no formato, ao contrário do que ocorre em seus programas no Multishow, como o excelente Lady Night.

Em virtude disto, a emissora anunciou que irá efetuar mudanças no enredo, na tentativa de deixar a trama mais natural – em especial, uma alteração no estilo de direção dos atores, para evitar o que tem acontecido com Marquezine. O enredo também deve sofrer interferências. Diante do quadro atual, espera-se que estas melhorias sejam convincentes e possam tornar Deus Salve o Rei mais atrativa, uma vez que ainda há muita estrada pela frente – a novela só acaba em julho, quando será sucedida por O Tempo Não Para, sinopse de Mário Teixeira que assumiu o lugar de Verão 90 Graus, de Izabel de Oliveira e Paula Amaral, agora adiada para Janeiro. Que estas mudanças sejam feitas de forma correta, para evitar que a trama naufrague de vez.


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