Conteúdo de Deus Salve o Rei é tão bom quanto a embalagem

09/01/2018 às 20h45

Por: Duh Secco
Imagem PreCarregada

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Centenas de stock-shots no exterior, cidade cenográfica totalmente indoor, banco de figurantes virtuais. Nos últimos dias, a Globo propagandeou seu poder de fogo. Não precisava. Já era sabido que o canal, comprometido a realizar um folhetim ambientado na Idade Média, não se contentaria com o primário, como na vizinha Record TV e sua Belaventura. Uma das maiores produtoras de novelas do mundo – certamente a mais esmerada -, a emissora se cercou de cuidados na embalagem de Deus Salve o Rei. E quase se esqueceu de divulgar o que a estreia de hoje, 9, tem de melhor: o conteúdo.

Projeto em parceria do autor Daniel Adjafre, estreando na titularidade, e do diretor artístico Fabrício Mamberti, ‘Deus’ aposta numa narrativa concentrada em poucos personagens. É calcada no drama de Montemor, o reino que padece com a falta d’água. A rainha Crisélia (Rosamaria Murtinho) espera solucionar tal problema com a construção de um aqueduto. Sem êxito. O lago que abasteceria a nababesca estrutura secou. Resta ao neto de Crisélia, Afonso (Rômulo Estrela), organizar uma expedição à cata de água. E torcer para a manutenção do acordo com Artena, reino vizinho, que fornece a substância essencial para a vida. No que depender do rei Augusto (Marco Nanini), tudo em paz. Já a princesa Catarina (Bruna Marquezine)…

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O que soava, nas chamadas, como uma aventura épica de tintas fortes caiu por terra na primeira cena de Rodolfo (Johnny Massaro), neto mais novo de Crisélia. O príncipe ninfomaníaco e esbanjador serve como alívio cômico ao folhetim. E o texto de Daniel Adjafre se mostrou eficiente, tanto no drama, quanto no humor (característica dominante da faixa e dos trabalhos anteriores do autor). Ainda emula os tempos atuais: a citação à inutilidade do aqueduto sem água remete aos “elefantes brancos” gerados por obras que miravam a Copa do Mundo 2014 e a Olimpíadas 2016; a aversão de Amália (Marina Ruy Barbosa) ao domínio do noivo, Virgílio (Ricardo Pereira), está nos jornais de hoje: é a luta das mulheres contra o machismo.

O elenco coroou a estreia. A começar por Rosamaria Murtinho, merecedora, faz tempo, de uma personagem como Crisélia, a rainha de boa índole que começa a dar sinais de senilidade. Johnny Massaro pode não ser o galã que o príncipe entregue a ele pede, mas foi, certamente, a escolha mais acertada para o debochado Rodolfo. De Marco Nanini a Tarcísio Filho (Demétrio); de Caio Blat (Cássio) a Débora Olivieri (Constância): todos se destacaram. Para a pueril Amália, Ruy Barbosa foi buscar o tom de voz e o gestual de personagens anteriores a Maria Isis, de Império (2014), e Eliza, de Totalmente Demais (2015), figuras “mais adultas” de sua curta trajetória. Marquezine, por sua vez, apostou forte na presença. Sua Catarina esbanja força no andar, entrando na sala do trono ou saindo da banheira. Mas ainda não se encontrou no texto – tem potencial para isso. Por fim, o galã Rômulo Estrela. Belo, como convém ao herói. E eficaz, como o peso de seu personagem exige.

LEIA TAMBÉM:

Algumas sequências escancararam o uso do chroma-key – como Cássio e Afonso no alto de uma pedra, analisando o caminho da expedição traçado num mapa. Desnecessário. Deus Salve o Rei possui o padrão Globo de qualidade, da trilha sonora à abertura. Isso não é nenhuma novidade. Em bons ou maus produtos, o “padrão” sempre está lá. O que interessa, de fato, é que a novela tem história para contar. E promete contar tudo bem direitinho…

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE


Autor(a):

Utilizamos cookies como explicado em nossa Política de Privacidade, ao continuar em nosso site você aceita tais condições.