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Tempos atrás, a disputa do SBT e da Record TV pela vice-liderança de audiência era ferrenha. Silvio Santos e seus conselheiros meteram os pés pelas mãos em diversas ocasiões na tentativa de aplacar a concorrente, presidida por Edir Macedo e dirigida por nomes ligados à Igreja Universal do Reino de Deus. Por fim, coube à Record TV, cada dia mais vinculada à religião, abrir espaço para que o SBT reagisse.
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As duas emissoras seguem em baixa no que tange ao conteúdo, mas, nas últimas semanas, o canal da Anhanguera aproximou-se da rede da Barra Funda na média-dia na Grande São Paulo – praça de maior relevância para o mercado publicitário. O SBT realizou apenas um pequeno ajuste na grade: escalou duas novelas de apelo popular – Carrossel (2012) e Esmeralda (2004) – para o início da tarde.
A Record TV nada fez. O noticiário policial domina a programação; o Hoje em Dia, do segmento “variedades”, não escapa das pautas sanguinolentas. A dramaturgia atravessa sua fase mais crítica: a reprise de Chamas da Vida (2008), da fase laica da emissora, apresenta resultados mais interessantes do que os folhetins do horário nobre, concebidos para doutrinar. Os realities, como o Ilha Record, também padecem.
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No canal vizinho, a inédita Poliana Moça assegura o segundo lugar. Tal mérito, contudo, está ligado ao fracasso de Todas as Garotas em Mim e Reis. Considerando as antecessoras, ‘Moça’ apresenta o pior desempenho da faixa infanto-juvenil da casa. A linha de shows inexiste. Dias da semana, sábados e domingos sofrem com formatos desgastados.
Uma mão lava a outra
A sensação para o espectador é que o SBT espera a Record TV errar para amealhar pontos de audiência. E vice-versa. Não há esforços quanto à grade e ao conteúdo para que a distância entre as duas redes cresça – e uma delas volte, finalmente, a brigar com a Globo e sua confortável liderança.
As concorrentes se afinam até mesmo nos tropeços. Enquanto a Record TV explora o mundo cão em seus noticiários e economiza com a gravação prévia de seu principal telejornal, o SBT sucateou o setor com a dispensa de grandes nomes, tendo figuras controversas como Dudu Camargo e Marcão do Povo como “estrelas”.
Quanto à dramaturgia, ambas seguem com um único título inédito no vídeo, apesar da capacidade de produção permitir mais – a emissora de Silvio Santos está para abrir um novo estúdio. O horário nobre conta com reprises recentes, as de Cúmplices de um Resgate (2016) e Amor Sem Igual (2019), brigando por poucos pontos.
O entretenimento da Record TV está vinculado aos realities, todos em baixa. Dos nomes fortes que o canal ostentou tempos atrás, como Fábio Porchat, Marcos Mion e Xuxa Meneghel, não sobrou ninguém. Quanto ao SBT, ventila-se as saídas de Eliana e Danilo Gentili em meio a insistência no que já não dá certo, como o Casos de Família.
Fim de papo
É de se lamentar a falta de interesse das duas redes em “virar o jogo”. SBT e Record já mostraram que podem muito mais do que entregam hoje. O comodismo está afetando a disputa e, consequentemente, o movimento do público, que tem optado pelo distanciamento. Não é a TV aberta que está em baixa – especialmente num país cada vez mais pobre e com opções limitadas para os de menor renda. O declínio é de quem faz TV aberta sem vontade.