Aos 91 anos, Manoel Carlos é responsável por inúmeras novelas de sucesso da Globo. O autor construiu uma longa e feliz trajetória na teledramaturgia e se consolidou como o criador das Helenas, criando obras emblemáticas que fazem sucesso até hoje.
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No entanto, poucos sabem que algumas das novelas de Maneco poderiam ter sido exibidas pelo SBT.
Isso porque, na década de 1980, o autor assinou várias novelas para o mercado latino. O maior sucesso do novelista nesta fase foi escrito justamente para uma conhecida parceira do canal de Silvio Santos, o que poderia viabilizar sua exibição pelo SBT.
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Mas, por conta de um detalhe, isso não foi possível.
Dramalhões latinos
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Depois disso, Maneco escreveu Novo Amor (1986) na Manchete, além das minisséries Viver a Vida (1984, Manchete) e O Cometa (1989, Band). Na mesma época, o autor também começou a se dedicar a escrever novelas para o mercado latino.
Ao jornal O Globo de 6 de março de 1991, Manoel Carlos contou que, nesta fase, ele optou por se dedicar às novelas estrangeiras e minisséries para priorizar trabalhos curtos. Ele queria ter mais tempo para a criação de sua filha, a atriz Julia Almeida, que nasceu em 1981.
Maneco, então, se tornou o primeiro autor brasileiro a criar roteiros originais para emissoras latinas e canais estadunidenses voltados ao público de língua espanhola, como a Telemundo. Ele escrevia em português e suas obras eram traduzidas nos EUA.
Vinte novelas
De acordo com a Folha de S.Paulo, de 1º de dezembro de 2002, Maneco escreveu cerca de 20 novelas e minisséries para o público latino. No entanto, o autor afirmou que não precisou mudar seu conhecido estilo para se adaptar ao novo público.
“O público se perguntava como a patroa chorava no colo da empregada. Os latinos são preconceituosos, mas acho que alguns aceitaram. O restante achou bizarro”, afirmou.
Já ao jornal O Globo, o novelista revelou que suas obras foram bem-aceitas neste novo mercado.
“São histórias de amor, ódio e ascensão social. Como as novelas que eu fiz para a TV Globo tiveram muito sucesso, eles queriam que eu escrevesse coisas semelhantes”, explicou.
El Magnate
Dentre as inúmeras obras criadas por Manoel Carlos para a América Latina, o maior sucesso foi El Magnate, produzida em 1990 e exibida pela Telemundo.
A produção foi gravada nos mesmos estúdios da famosa série Miami Vice, nos EUA, e contava com elenco diverso: a mocinha era venezuelana, o herói era mexicano, a vilã era argentina e o vilão era colombiano.
“Parece a sede da ONU”, brincou o autor.
A trama era baseada em Novo Amor, que Maneco escreveu para a Manchete, e girava em torno do triângulo envolvendo Rodrigo (Salvador Pineda), Gonzalo (Andrés Garcia) e Teresa (Ruddy Rodriguez). O primeiro é um advogado ambicioso que cresceu na vida ao se casar com uma idosa inválida. O vilão se apaixona por Teresa quando ela pede que ele financie um filme seu.
Curiosamente, o diretor da obra era brasileiro. Ary Coslov foi quem tocou os trabalhos nos EUA.
“Foi ótimo dirigir El Magnate na Flórida, nos estúdios do Miami Vice. Tinha desistido da versão peruana para O Homem que Deve Morrer, sucesso de Janete Clair, por problemas no orçamento”, revelou o diretor, que também comentou sobre o elenco diverso da produção.
“A gente não se tocava para essa diferença [de nacionalidades]. Quando a novela foi comercializada, as pessoas achavam engraçado uma família em que o pai falava como peruano, a mãe como venezuelana e, os filhos, como mexicanos”, lembrou Coslov à Folha.
Nada feito
Produzida para o público latino nos EUA, El Magnate poderia ter sido exibida pelo SBT. Afinal, a emissora de Silvio Santos se especializou em exibir novelas latinas em sua programação desde sua inauguração.
No entanto, entre os anos 1980 e 1990, o SBT não exibia novelas da Telemundo, dando preferência aos dramalhões da Televisa.
Com isso, El Magnate foi parar na extinta Rede OM, atual CNT, que a exibiu em 1992 com o título O Magnata.
Manoel Carlos está longe das novelas desde Em Família, exibida em 2014 pela Globo.