“Haja Coração” voltou há pouco tempo e, apesar de vários bons destaques até agora, tem uma atriz que não demorou para roubar a cena, brilhando desde a primeira aparição: Grace Gianoukas.

Na pele da arrogante e milionária Teodora Abdala, a atriz estava se destacando na trama das sete e protagonizando cenas hilárias, mesmo a personagem sendo uma quase vilã. Sua parceria com Tatá Werneck (que vive a filha Fedora) é perfeita e dificilmente essa dupla daria errado, pois são duas comediantes natas.

Ela, cuja interpretação é bastante peculiar e teatral, ainda se destaca ao lado de Alexandre Borges, intérprete de Aparício (homem que só se casou com a empresária para dar o golpe do baú), além de ter outros ótimos companheiros de cena, como Cláudia Jimenez e Marcelo Médici —- mais dois nomes especialistas em humor.

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Grace é uma figura rara nas novelas e na própria televisão, pois sempre se dedicou mais ao teatro. Fez apenas pequenas participações em “Bang Bang” (2006), no remake de “Guerra dos Sexos” (2012) —- ambas na Globo — e em “Cúmplices de um Resgate” (2015), no SBT. Em 2020, estava no ar em Salva-se Quem Puder, interrompida pela pandemia.

Também chegou a participar brevemente de algumas minisséries, como “Chapadão do Bugre” (na Band, em 1988) e “Sex Appeal” (na Globo, em 1994), além de ter marcado presença em alguns programas clássicos de humor, vide o inesquecível “Ra-Tim-Bum” (1990/1994) e o “Castelo Rá Tim Bum” (1997), ambos na TV Cultura.

A “Escolinha do Professor Raimundo” (1993) foi outro formato que pôde contar com seu talento, ainda que por pouco tempo (apenas um ano). Ela viveu a mentirosa Maninha Marrom —- repórter sensacionalista que manipulava as notícias e só aparecia no meio das aulas, indo embora logo depois —- e chegou a protagonizar engraçados momentos ao lado de Chico Anysio. Mas foi no teatro que Grace conseguiu se firmar na carreira, expondo sua vocação para as artes. São várias peças em seu currículo, levando em consideração seus múltiplos talentos: afinal, é diretora, produtora e autora, além de atriz.

Seu projeto teatral de maior sucesso, responsável pelo seu ápice, inclusive, é o “Terça Insana”. Criado por ela em 2001, o formato (produzido, escrito, atuado e dirigido pela mesma) tinha como objetivo incentivar novos autores e atores de humor. Tanto que o elenco se renovava a cada temporada e vários intérpretes eram responsáveis por inúmeros perfis hilários presentes no espetáculo, que fez um sucesso arrebatador e revolucionou o humor brasileiro.

Muitos monólogos com cerca de dez minutos compunham a apresentação e divertiam a platéia. A peça, aliás, acabou influenciando e lançando muitos outros humoristas ao longo dos anos, vide Graziella Moreto, Marcelo Mansfield, Luiz Miranda e Marcelo Médici, que já fizeram parte do time.

Ou seja, após divertir o público ao longo dos anos no teatro, chegou a hora de Grace fazer o mesmo na televisão. E o sucesso da sua Teodora Abdala foi tanto que Daniel Ortiz desistiu de matá-la. Na obra original, a personagem (vivida na época pela maravilhosa Jandira Martini) tinha que morrer para Aparício ‘sassaricar’, fazendo jus ao título de “Sassaricando”.

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Embora sempre tenha recusado a classificação de ‘remake’, o autor ia seguir à risca o destino da perua, mesmo não havendo mais a necessidade da situação, já que o marido humilhado não é protagonista da atual versão. Porém, a aceitação da milionária prepotente foi tão grande que os rumos mudaram.

A sua ‘morte’ foi adiada, pois iria ao ar por volta do capítulo 16 e só ocorre no capítulo 36. Após muitas indecisões do autor —- que chegou a cogitar a permanência da personagem na história através da figura de um fantasma (como ocorreu em “Sassaricando” e relembrando a época em que escreveu “Alto Astral”) ou então em sonhos do Aparício —-, a perua teve seu falecimento cancelado, para a alegria do telespectador.

Ela ‘morreu’ em um acidente de helicóptero (muito mal realizado, aliás), mas volta vivinha mais para frente. Enquanto o retorno não acontece, a atriz aparecerá em pesadelos do pai de Fedora. Esta mudança nada mais é do que fruto do show que a atriz vem dando desde a estreia.

“Haja Coração” tem um bom início, mas apresenta uma nítida decaída no decorrer da história. Os folhetins estavam precisando de uma Grace Gianoukas em um perfil de destaque. Finalmente aconteceu e o autor ainda soube mudar na hora certa o rumo da personagem, valorizando o talento que tem em mãos. Todos ganharam.

SOBRE O AUTOR

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor