Atualmente, tragédias como o rompimento da barragem em Brumadinho (MG) são cobertas em tempo real pela televisão de forma ininterrupta. Mas não era assim nos primeiros anos da televisão brasileira. Em 1966, a Globo fez uma cobertura histórica de uma enchente que assolou o Rio de Janeiro (RJ) e ganhou a simpatia da população, abrindo caminho para chegar à liderança algum tempo depois.
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Inaugurada em 26 de abril de 1965, a Globo, funcionando somente na capital fluminense, até então ocupava o último lugar entre as emissoras da cidade, com baixa audiência e pouca repercussão de seus programas; junto com isso, vieram inúmeros prejuízos financeiros que quase a arruinaram.
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Em janeiro de 1966, o Rio de Janeiro sofreu uma das piores enchentes de sua história. Rios transbordaram, boa parte da cidade ficou alagada, 200 pessoas morreram e 50 mil ficaram desabrigadas.
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A Globo se destacou porque fez uma cobertura muito além do costume da época para o veículo. Apesar das enormes dificuldades técnicas, o canal interrompeu sua programação, posicionou duas câmeras em seu terraço, no Jardim Botânico, e passou a exibir os fatos ao vivo, com narração de Hilton Gomes (1924-1999).
Além disso, as equipes foram para as ruas carregando câmeras Auricon e captando as imagens da tragédia. Motoqueiros levavam os filmes para a emissora, que eram imediatamente revelados e exibidos.
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Para completar, foi promovida uma grande campanha comunitária em seus próprios estúdios. Já no primeiro dia, o local ficou tomado por toneladas de remédios, mantimentos e cobertores, que foram doados para os desabrigados.
A própria emissora teve prejuízos materiais na enchente. “A TV Globo tinha sido toda inundada. Os estúdios, embaixo, estavam imprestáveis. Tiveram que ser todos refeitos”, contou a atriz Norma Blum ao projeto Memória Globo.
Ela foi para o canal apresentar o programa Romance da Tarde, que não foi ao ar devido aos acontecimentos. “O Hilton Gomes me falou: ‘está tudo fora do ar. A gente só está fazendo a cobertura do desastre. Você não devia ter vindo’. Aí também eu já não tinha mais como voltar. A água cercando tudo. Então me engajei como repórter nessa batalha para conseguir doações”, completou.
Armando Nogueira (1927-2010), que dirigiu o jornalismo global por muitos anos e na época ainda estava na TV Rio, contou que a cobertura do canal virou referência.
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“No Jardim Botânico tinha uma queda d’água que passou a ser a imagem-símbolo da enchente. A câmera que Walter Clark (1936-1997) mandou instalar na Rua Von Martius, apontando para a queda, ficava ligada dia e noite. Era como a imagem-padrão da Globo. Eu trabalhava para a TV Rio. Mas a nossa referência se ia continuar chovendo era a cachoeira da Globo”, disse ao Memória Globo.
Com a cobertura da enchente, a Globo conquistou a simpatia dos cariocas e viu seus índices de audiência crescerem mesmo após o ocorrido, começando assim a desbancar suas concorrentes, como Tupi, Excelsior e a própria TV Rio.