Nilson Xavier

A abertura de Cara e Coragem chama a atenção, positivamente. Além de resgatar um sucesso da década de 1980 (a música “Ska”, dos Paralamas), é bonita, bem executada, combina com a novela e com a música.

Cara e Coragem

De acordo com o Gshow, o mote é ação e aventura, como a trama da novela, conforme definiu o gerente de criação Christiano Calvet:

“Quisemos mostrar um set de filme de ação, com parkour, helicóptero, giro-car, tudo o que vai ser exibido na novela, de uma forma bem divertida, como pede o horário das 7, com animação, em vez de pessoas reais”.

A abertura foi criada em dois meses e meio e foram feitos seis roteiros até chegar à versão final. A mão humana que aparece segurando a claquete, ao final, é da produtora Fernanda Deway. Na claquete, além do logotipo, há menções à diretora artística Natalia Grimberg (DIR NG) e à autora Cláudia Souto (TXT CS).

Animações em aberturas sempre foram bem-vindas e já uma tradição. Acentuaram-se dos anos 2010 para cá, com as facilidades em obter ótimos resultados em 3D.

Relaciono abaixo 15 aberturas icônicas de novelas em animação. Porém, deixo de fora as que misturam animação com live-action – como O Sexo dos Anjos, Perdidos de Amor, Zazá e Geração Brasil – e as animações embasadas em trabalhos artísticos que apenas ganham movimento – como O Rebu 1974 (com ilustrações de Marguerita Fahrer), Gabriela 1975 e Terras do Sem Fim (com pinturas de Aldemir Martins), Cabocla 2004 (com pinturas de Manassés de Andrade), e Mandacaru, Saramandaia 2013 e Velho Chico (com obras de Mello Menezes).

Confira:

Uma Rosa com Amor (1972-1973)

A abertura – produzida pelo designer e cenógrafo Cyro del Nero, então responsável pelas aberturas de programas da TV Globo na fase pré-Hans Donner – marcou época, embora pareça rudimentar aos olhos de hoje. Uma animação bidimensional e minimalista apresenta uma marionete que planta uma rosa e, depois dela crescida, a entrega à sua amada.

A ideia da marionete foi reaproveitada na abertura do remake da novela, de 2010, no SBT, com recursos mais modernos.

Na mesma linha de aberturas e animação antigas, ainda da fase em preto e braço, também marcou época a da novela Corrida do Ouro, em 1974, em que bonequinhos correm atrás de uma moeda – desenho assinado por Joaquim 3 Rios, expoente da animação publicitária no Brasil.

O Velho, o Menino e o Burro (1975-1976)

Um caso único na história das telenovelas. Como a novela era patrocinada pela indústria alimentícia Cica, a abertura era, literalmente, um comercial dos produtos Cica, com uma animação estrelada pela Turma da Mônica (do desenhista Maurício de Sousa), garota propaganda da marca.

Pecado Rasgado (1978-1979)

A divertida animação, assinada por Hans Donner e Rudi Böhm, exibia uma corrida, por terra, céu e mar, entre Adão, Eva e a serpente com a maçã, a marca registrada da novela.

Jogo da Vida (1981-1982)

Jogo de boliche foi o elemento de identificação da novela: justificava o título (Jogo da Vida), e a animação da abertura (em que uma bola de boliche perseguia os pinos).

Também fez parte da ambientação: um dos cenários da trama era um bar onde havia uma pista de boliche.

Vereda Tropical (1984-1985)

As ilustrações da animação eram da artista gráfica Sylvia Trenker, que foi mulher de Hans Donner. Trenker já havia desenhado várias vinhetas para a Globo, como as de carnaval e do programa TV Mulher, e o famoso logotipo da novela Locomotivas, em 1977.

Perigosas Peruas (1992)

Animação assinada pelo cartunista Miguel Paiva (da personagem Radical Chic, percebam que o traço é o mesmo), que fez mais de 400 ilustrações para apenas 1 minuto e 10 segundos no ar.

Um Anjo Caiu do Céu (2001)

Assinada pelo cartunista Aroeira, os desenhos são caricaturas dos personagens da trama. O anjinho com a cara de Caio Blat foi a marca registrada da novela.

O Beijo do Vampiro (2002-2003)

Desenho animado em tom infantil que tenta reproduzir o clima da trama.

A música-tema, o clássico americano “Blue Moon” (aqui na versão cantada pela banda The Marcels), já havia anteriormente embalado a abertura da novela Perdidos de Amor (1996-1997), da Band, mas em uma gravação mais romântica, do grupo The Mavericks.

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Bang Bang (2005-2006)

Abertura produzida em stop motion, técnica de animação em que bonecos são movimentados e fotografados quadro a quadro para, posteriormente, as imagens serem unidas para dar a impressão de movimento.

Ao contrário do que se pensou, não era uma reedição dos famosos bonequinhos Playmobil. Os bonecos da novela era originais, criados pela equipe de Hans Donner, e caracterizavam os personagens da trama. Foram usados como referência bonecos de chumbo até chegar ao formato adotado.

Pé na Jaca (2006-2007)

A abertura exibia um divertido, humorado e bem executado desenho animado tridimensional, ao estilo dos cartoons, no qual bichos em uma fazenda dançavam ao som da música “Eu Ando OK”, gravada por Zizi Possi.

Mesmo com toque abrasileirado, os personagens pareciam saídos de trechos musicais de animações da Disney. (André Luiz Sens, blog Televisual)

A Favorita (2008)

Animação em cores vibrantes que conta a trama central da novela. As ilustrações são uma releitura dos cartazes de cinema das décadas de 1940 e 1950, chapados e com figuras recortadas. Hans Donner, o ilustrador Gustavo Garnier e o especialista em computação gráfica Alexandre Romano e sua equipe levaram um mês e meio para executar o projeto.

Na abertura, a trajetória das protagonistas é relatada com a tela dividida ao meio, tendo no lado esquerdo a figura de uma mulher pintada de preto e, no direito, uma mulher pintada de branco. À medida que a historinha se desenrola, fica claro que a mulher do lado esquerdo representa Flora e, a do direito, Donatela.

Morde e Assopra (2011)

A abertura apresenta os dois temas centrais da novela, a paleontologia e a robótica, por meio de uma divertida animação tridimensional que explora a relação de amor e ódio entre um dinossauro e uma robô.

Os personagens da abertura saltaram para as lojas: a Globo Marcas lançou no mercado as versões em boneco de pelúcia do dinossauro Cyber e da robô Dina.

Cordel Encantado (2011)

A abertura conta a trama da novela por meio de uma técnica de animação de recorte que simula digitalmente cartões de xilogravuras de cordel, caracterizados pelos traços duros e monocromáticos.

Em vez de apenas mostrar um passeio pelas páginas de uma revista de cordel, a abertura faz referência a outro tipo de literatura: os livros pop-up, em que, ao se desdobrar uma página, a ilustração “pula” do livro. (André Luiz Sens, blog Televisual)

Amor Eterno Amor (2012)

A animação apresenta duas crianças em um paraíso surreal, formado por elementos e personagens que parecem extraídos de um conto de fadas. Os animais presentes – o pássaro, o peixe e os búfalos – se assemelham a seres mitológicos. Todos essas alegorias visuais, aliadas à estória da animação, conferem um clima de sonho, fantasia e poesia. (André Luiz Sens, blog Televisual)

Quem aprecia jogos eletrônicos captou nessa animação referências ao jogo “The Legend of Zelda: Skyward Sword”: do estilo gráfico de pintura ao conceito e composição das cenas – como o pássaro sobre o qual o menino sobrevoa ilhas flutuantes, o peixe gigante que salta do lago e a torre.

Cheias de Charme (2012)

Por meio de uma dinâmica e refinada animação tridimensional, a abertura narra a ascensão das protagonistas ao estrelato, representadas por três marionetes inseridas em mini cenários com elementos de colorido exuberante, brilho e luzes – como led e glitter – baseados em um estilo over e pop com transições dinâmicas e riqueza de detalhes.

Meu Pedacinho de Chão (2014)

Para a abertura, optou-se por uma animação multicolorida, em tons pasteis, que explora muitas das referências utilizadas na própria novela e de outros produtos infantis, como videogames, HQs e desenhos animados.

A primeira cena sugere justamente que a novela é baseada na visão fantasiosa do menino Serelepe, que enxerga o mundo de sua luneta. A partir daí, tudo se transforma em uma passeio surreal de proporções e movimentos entre cenários e os personagens principais, traduzidos em elementos de um divertido e delicado cartoon. (André Luiz Sens, blog Televisual)

Outras animações marcantes: Tiro e Queda (1999), Sabor da Paixão (2002), Carrossel (2012), Guerra dos Sexos (2012), Sangue Bom (2013), Amor à Vida (2013), Alto Astral (2014), A Regra do Jogo (2015), Rock Story (2016), Novo Mundo (2017), Pega Pega (2017), Belaventura (2017), Deus Salve o Rei (2018), Orgulho e Paixão (2018), As Aventuras de Poliana (2018), Topíssima (2019), Éramos Seis (2019), Salve-se Quem Puder (2020) e Além da Ilusão (2022).

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor