Como a televisão brasileira foi a única a cobrir o enterro de Charles Chaplin, em 1977

06/11/2017 às 10h00

Por: Fabio Marckezini
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Até hoje, o cinema de Charles Chaplin emociona milhões de pessoas ao redor do mundo. O personagem Carlitos continua vivo na imaginação e, de um jeito simples e cativante, tira sorrisos sem pronunciar uma palavra sequer.

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Chaplin viveu até os 88 anos e faleceu no dia de natal, 25 de dezembro de 1977, na Suíça, país onde vivia. A morte do gênio do cinema foi uma grande comoção pelo mundo e, em uma época que a informação custava a chegar à casa das pessoas, seu funeral não contou com uma cobertura como de outros famosos. Além disso, as transmissões ao vivo não eram tão simples como hoje em dia.

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Porém, havia uma única equipe de televisão naquele simples funeral, e essa equipe era brasileira. Hermano Henning era correspondente internacional da Globo, em 1977, e sua base ficava em Colônia, na Alemanha. Naquele natal, a Globo pediu para o repórter fazer uma matéria natalina, mostrando o cotidiano dos ingleses na época festiva.

Finalizada poucos dias antes do Natal, Henning estava bem tranquilo: enviou a reportagem com antecedência para a Globo e passou o feriado em Londres, na companhia de um colega correspondente da revista Veja.

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O dia de natal em Londres era morto: ruas vazias, comércio totalmente fechado. A tranquilidade reinava nas ruas e também nas redações dos jornais do mundo todo. Nas instalações da agência de notícias UPI de Londres (United Press Internacional), uma única funcionária trabalhava de plantão.

Aparentemente, nada poderia ocorrer naquela data, mas na tarde deste dia, morria Charles Spencer Chaplin, aos 88 anos, na Suíça.

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Ao saber do fato, a Globo ligou para Henning solicitando uma matéria para o Jornal Nacional daquela noite que deveria ser feita em Londres, terra natal de Chaplin. O repórter já estava na cidade, isso não seria problema, mas a questão era: como fazer uma reportagem sem uma equipe, pois todos haviam sido dispensados no dia de natal.

O desespero tomou conta e ele correu atrás de um cinegrafista para registrar a comoção dos ingleses e os locais onde o cineasta percorreu. A facilidade para uma transmissão não existia naquela época: o horário da abertura do satélite para o Rio tinha hora marcada – e não poderia atrasar.

Sem cinegrafista, o jeito foi inserir apenas um texto de menos de um minuto, com fotos cobrindo a locução de Henning. O resto foi feito pela emissora carioca, que utilizou imagens de arquivo, contando a história de Chaplin no Jornal Nacional.

A Globo não gostou do que veio de Londres e cobrou Hermano, dizendo que o cineasta merecia um destaque maior, com um material mais elaborado. Com isso, o jornalista embarcou para a Suíça, onde Chaplin seria sepultado em um cemitério simples, perto do lago Léman, em Vevey.

Foi uma cerimônia simples, na qual se encontrava apenas a família de Chaplin e um convidado: o embaixador britânico na Suíça. Eram poucos aqueles da imprensa, alguns repórteres e fotógrafos de algumas agências de noticias.

Apenas uma única equipe de televisão estava lá registrando a cerimônia: Hermano Henning e um câmera freelancer suíço levaram as imagens com exclusividade aos telespectadores do Jornal Nacional na noite de 27 de dezembro de 1977.

Hermano, em seu livro Via Satélite (Editora Globo, 1996), explica o que aquela cobertura significou em sua carreira: “Ainda hoje considero o enterro de Charles Chaplin um dos feitos mais comoventes da minha vida profissional. E foram poucos mais de dois minutos, sem nada de complicado, uma edição muito simples, nem mesmo uma entrevista. A matéria se limitou a mostrar o sepultamento, com filme de 16 milímetros Kodak 7250, o mais sensível da época, rodado numa Arriflex, e som de Nagra. Nada além disso.”


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