Há um mês no ar, a atual novela das seis não disse a que veio. Tempo de Amar, de Alcides Nogueira e Bia Corrêa do Lago, prometeu em suas primeiras chamadas uma retomada ao novelão clássico, com mocinhos sofredores, desencontros amorosos e todos os elementos conhecidos deste tipo de história. Tudo isto embalado por uma belíssima estética e com um elenco de alto nível. No entanto, o enredo não consegue empolgar.

A começar pela difícil vida da mocinha Maria Vitória (Vitória Strada). Abandonou um casamento arranjado em prol de sua paixão pelo humilde Inácio (Bruno Cabrerizo), um relacionamento difícil de engolir por ter sido construído de forma muito rápida. Desde que o romance foi descoberto pelo pai, José Augusto (Tony Ramos), a sina da moça tem sido um verdadeiro calvário.

Grávida, foi enviada para um convento e a criança foi dada em adoção. Vitória tratou de fugir do local e entrou em um navio com destino ao Brasil, para encontrar seu amado. Lá, foi atacada pelo devasso Teodoro (Henri Castelli) e presa injustamente. Enquanto isso, Augusto tenta reencontrar a filha, caindo nas armações de Delfina (Letícia Sabatella), que quer impedir esta aproximação e exigir que ele reconheça Tereza (Olívia Torres) como sua filha.

No Brasil, a situação não é muito diferente. Ao descobrir que seria pai, Inácio tentou voltar para Portugal, mas foi assaltado e agredido, ficando cego. Salvo por Lucinda (Andreia Horta), tem sido frequentemente manipulado por ela, que está disposta a fazer de tudo para impedir que o lusitano volte com sua amada.

Por tudo que tem sido mostrado, o roteiro principal de Tempo de Amar não faz jus ao título da história, em virtude do excesso de dramaticidade causado pelo constante sofrimento dos mocinhos. Mas não se exige aqui que as novelas sejam obrigatoriamente mais leves ou não tenham tristezas ou coisas assim. Inclusive, outras novelas do horário tiveram tramas calcadas no drama, como as elogiadas A Vida da Gente (2011-12) e Além do Tempo (2015-16).

Só que existe uma diferença: nestas duas, o enredo era bem melhor trabalhado e a condução por parte das respectivas autoras (Lícia Manzo e Elizabeth Jhin) se mostrou mais dinâmica. Aqui se tem a sensação que os autores pesaram a mão no melodrama e deixaram o conjunto muito depressivo. Isso acaba afastando a vontade de acompanhar.

Ainda assim, a novela tem pontos positivos. Um deles é a atuação segura de Vitória Strada. Em seu primeiro papel na TV – após uma participação no filme Real Beleza, ao lado dos talentosos Adriana Esteves e Vladimir Brichta -, a gaúcha empresta credibilidade à sina de sua mocinha, algo que nas mãos de uma atriz sem o mesmo preparo, poderia se tornar algo desastroso. Não à toa, já pode ser considerada uma das revelações de 2017, ao lado de nomes como Carol Duarte (Ivana/Ivan em A Força do Querer), Isabella Dragão (Cecília em Novo Mundo) e Daphne Bozaski (Benê em Malhação Viva a Diferença).

Quem também merece elogios é Andreia Horta. Mais experiente, ela brilha ao retratar a amargura de Lucinda (que, ao tentar fazer um feitiço, provocou sem querer a morte da mãe e ficou com uma forte cicatriz no rosto) e sua obsessão por Inácio. É uma atriz que vem escolhendo bem os personagens que interpreta e aproveita cada chance de mostrar seu talento.

Outros bons nomes que vêm fazendo bonito são Tony Ramos (novamente excelente como José Augusto), Letícia Sabatella (ótima como Delfina) e Marisa Orth (que se mostra muito mais que uma boa comediante). Em compensação, se a aposta em Vitória Strada foi certeira, o mesmo não se pode dizer de Bruno Cabrerizo. O intérprete de Inácio não convence em cena e sua expressão é a mesma em todos os momentos.

Até agora, Tempo de Amar não convence em sua missão de resgatar o folhetim tradicional. Mas é justo mencionar que ainda há muito tempo pela frente e, com isso, há chances de os autores direcionarem melhor a história, para torná-la mais atraente. Que isso aconteça o mais rápido possível, pois da forma que está, será muito difícil.


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