O ator e diretor Marcos Paulo (na foto abaixo, com Lucélia Santos em Sinhá Moça), que foi um dos nomes mais importantes da televisão brasileira, admitiu em entrevista que não gostava de ser rotulado como galã.

Sinhá Moça - Benedito Ruy Barbosa

Além disso, ele também confessou que ficava bastante incomodado quando diziam que ele só alcançou sucesso na carreira por ser filho adotivo do autor Vicente Sesso, um dos pioneiros da TV brasileira.

Talento reconhecido

Zezé Motta e Marcos Paulo em Corpo a Corpo

Marcos Paulo foi um dos atores de maior destaque na televisão entre as décadas de 1970, 1980 e 1990. Ele também se consagraria como diretor de sucessos como Dancin’ Days, Roque Santeiro, A Indomada, entre outros.

Porém, uma coisa deixava o artista tremendamente irritado: as insinuações de que ele só conseguia papéis de destaque nas novelas por ser filho do autor Vicente Sesso.

“Que eu tenho um pai famoso, não é segredo para ninguém. Todos sabem que sou filho de Vicente Sesso, autor de Pigmaleão 70, Minha Doce Namorada e outras novelas. Mas nunca pretendi usar deste privilégio para aparecer como ator. Aliás, até evito assinar meu sobrenome para não ser alvo de algum comentário menos simpático”, disse o ator, em entrevista à revista Contigo.

Na época, Marcos se encontrava em evidência por conta de seu papel em O Primeiro Amor (1972). Na trama escrita por Walther Negrão, ele interpretava o personagem Rafa.

O ator ainda afirmou que este trabalho era o de maior importância na sua carreira até então, pois fez com que ele adquirisse mais segurança em seu ofício.

“Aliás, esse trabalho está sendo de uma importância muito grande para mim. Quando entrei para a Globo, temia fazer amizades com o resto do pessoal. Achava que iriam me apontar como ‘filho do Vicente Sesso, encaixado na novela só por causa de uma indicação do pai’. Se eu não conseguisse me sair bem nesse meu novo papel, hoje seria um cara arrasado, com mil complexos. Felizmente, Rafa deu-me a oportunidade de mostrar o meu talento”, disse.

Adoção

Marcos Paulo

Em outra oportunidade, Marcos Paulo contou como ele foi adotado pelo novelista Vicente Sesso.

“Não conheci meu pai e minha mãe morreu no parto. Fui criado pela minha avó. A gente era vizinho do Vicente [Sesso] e as famílias acabaram ficando muito íntimas. Aí, durante uma brincadeira, o chamei de pai. Nessa brincadeira, começou uma relação e ele se tornou a figura masculina que eu não tive e foi meu condutor”, contou ele à revista IstoÉ Gente, em 3 de outubro de 2002.

Marcos ainda ressaltou a importância de Vicente no seu interesse pela televisão.

“Graças a meu pai de criação, nasci e me criei no meio da TV. Tive um período rebelde aos 15 anos. (…) E a TV estava no meu sangue. Mas não queria que fosse com meu pai. Era uma coisa de querer fazer a minha vida sozinho. Fui procurar o [Walter] Avancini porque sabia que ele estava reinaugurando a Record”, explicou.

Em seguida, questionado sobre a falta da figura feminina na sua vida, ele afirmou que precisou fazer analise ao saber que sua mãe havia morrido após ele nascer.

“Era o que buscava em todas as mulheres que tive. Depois de 20 anos de análise, descobri isso. Saber que a mãe morreu no parto é uma barra muito pesada para qualquer criança. Quando você começa a entender o que é o parto, pensa: ‘Então fui eu?’ Eu matei ela?’ Para eu chegar ela teve que sair.’ Aí foram necessários 20 anos de análise para hoje eu estar falando nisso numa boa”, contou.

Rótulo de galã

Marcos Paulo

Na mesma publicação, o diretor comentou a razão pela qual detestava ser chamado de galã.

“Naquela época, o galã tinha um tom meio pejorativo. Galã de televisão não tinha o mesmo respeito do que um ator de cinema, porque era só uma carinha bonita. Quando começou essa coisa de ser galã eu sempre procurava os papéis de vilão. Até me achava um galã, mas queria que me vissem mais como ator. Quando você é bonito, tem mais facilidade em começar a carreira e mais dificuldade de se impor como ator. Quando você é menos bonito, tem mais dificuldade e, portanto, briga mais para conseguir um lugar ao sol”, comentou.

E concluiu dizendo que hoje esse rótulo não o incomoda mais.

“Mas hoje também isso não me incomoda mais. Depois que você vai ficando mais velho, vê que na verdade não é tão importante o que os outros pensam de você, mas sim o que você acha de você. Hoje, se disserem que sou galã, vou achar ótimo”, brincou.

Marcos Paulo faleceu em sua casa no Rio de Janeiro em 11 de novembro de 2012, aos 61 anos, vítima de uma embolia pulmonar.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor