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Eva Wilma partiu neste sábado, 15 de maio. Tinha 87 anos e estava internada em São Paulo tratando de um câncer no ovário descoberto há pouco tempo.
Era uma de minhas atrizes preferidas, cuja carreira acompanho desde criança, de uma série de personagens que hoje fazem parte de minha memória afetiva.
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Não vou me alongar em elogios ao talento de Vivinha – como era conhecida pelos familiares e colegas de profissão. Todos já ficaram, alguma vez, boquiabertos ante a atuação da atriz, que transitava com maestria entre o drama e a comédia.
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Eva Wilma Riefle – o pai era alemão e a mãe era filha de alemães – nasceu em São Paulo, em 14 de dezembro de 1933. Foi casada com o ator John Herbert, pai de seus dois filhos, Vivien e Johnny. Foi também casada com Carlos Zara, parceiro de tantas cenas românticas em novelas.
A imagem mais remota que tenho de Eva Wilma vem dos tempos da TV Tupi, da época da novela A Barba Azul, na qual ela vivia a protagonista Jô Penteado (na Globo, ganhou um remake, A Gata Comeu, em 1985, com Christiane Torloni no mesmo papel). Não me lembro da novela, mas de uma participação da atriz e de Carlos Zara no programa de Silvio Santos, em que o apresentador pedia ao casal para repetir no palco as bofetadas que seus personagens trocavam na novela. Isso era 1975 e eu tinha seis anos.
Veja Eva Wilma belíssima desfilando na abertura da novela A Barba Azul (1974):
A primeira novela de Eva Wilma que me recordo de ter acompanhado é O Julgamento, em 1976, ainda na Tupi. Em 1980, Eva Wilma estreou na Globo, na novela Plumas e Paetês, de Cassiano Gabus Mendes, com uma personagem cômica com a qual Vivinha se especializou: a viúva alegre. Rebeca de Plumas e Paetês e Márcia de Elas por Elas (1982) eram muito parecidas, com o mesmo tom de comédia. Como também eram Francisca de Transas e Caretas (1984) e Penélope de Sassaricando (1987-1988).
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Desta época, vale destacar duas personagens dramáticas que exigiram todo talento da atriz: a perturbada Laura, de Ciranda de Pedra (1981), uma artista sensível com problemas psicológicos, e Maura, de Roda de Fogo (1986-1987), ex-guerrilheira que havia sido vítima da repressão da Ditadura Militar.
Na década de 1990, Eva Wilma teve outras duas atuações dramáticas marcantes: Hilda de Pedra Sobre Pedra (1992), que sofria calada com as infidelidades do marido, e Tereza de Pátria Minha (1994-1995), outra mulher submissa, mas que dava a volta por cima.
Duas personagens cômicas marcaram a carreira de Eva Wilma nos anos 1990: Zuleika de História de Amor (1995-1996), uma perua falida e engraçada. E Maria Altiva Pedreira de Mendonça e Albuquerque, de A Indomada (1997), a vilã megalômana e tresloucada que caiu nas graças do público e imortalizou o bordão “Oh xente, mai gódi!”.
Também lembro seu sensível trabalho como a mamma italiana Marieta Berdinazzi, na primeira fase de O Rei do Gado (1996). E a dobradinha de sucesso com Patrícia Pillar – como as doutoras Marta e Cris – no seriado Mulher (1998-1999).
Nos anos 2000 em diante, entre outros trabalhos, Eva Wilma foi Maria da Cunha na minissérie Os Maias (2001), Dona Maria I, a Louca, na minissérie O Quinto dos Infernos (2002), as vilãs Lucrécia Borges, de Começar de Novo (2004-2005), e Dona Cândida, de Desejo Proibido (2007-2008), a trambiqueira Tia Íris de Fina Estampa (2011-2012), a alcoólatra Fábia de Verdades Secretas (2015), e a Doutora Petra de O Tempo Não Para (2018-2019), seu último trabalho na televisão.
A galeria de personagens de Eva Wilma é anterior à Globo. Só de Alô, Doçura!, seriado da TV Tupi, foram onze anos de sucesso, entre as décadas de 1950 e 1960, fazendo par romântico com seu então marido John Herbert.
Ainda na Tupi, Vivinha brilhou em novelas de Ivani Ribeiro: Jandira de O Meu Pé de Laranja Lima (1970-1971), Gabriela de Nossa Filha Gabriela (1971-1972), as gêmeas Ruth e Raquel de Mulheres de Areia (1973-1974), Jô Penteado de A Barba Azul (1974-1975) E Diná de A Viagem (1975-1976).
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Em sua carreira vitoriosa, a atriz foi premiada várias vezes, por trabalhos em televisão, cinema e teatro. Na TV, foram, pelo menos, 40 novelas (em personagens fixos), além de minisséries e seriados. No cinema, mais de 30 filmes, e, no teatro, quase 60 peças. Vivinha participou de filmes importantes, como Cidade Ameaçada (1960), O Quinto Poder (1964), São Paulo S/A (1965), Asa Branca, um Sonho Brasileiro (1980), Feliz Ano Velho (1987), Minha Mãe Minha Filha (2018), e outros.
Uma curiosidade: em 1969, Eva Wilma foi a Hollywood, convidada para fazer um teste com o diretor Alfred Hitchcock para o filme Topázio (o papel ficou com a atriz alemã Karin Dor).
Em 2018, Eva Wilma comemorou 65 anos de carreira com o show Casos e Canções e esteve em cartaz com a peça Quarta-Feira, sem Falta, Lá em Casa, ao lado de Suely Franco, peça que assisti. Também a vi deslumbrante ao lado de Nicette Bruno na peça O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, em 2017.
Presente na memória afetiva de gerações, Eva Wilma está para a cultura brasileira como uma de suas personalidades artísticas mais marcantes e representativas. Este fã chora a perda de uma de suas atrizes preferidas.
SOBRE O AUTOR
Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira.
SOBRE A COLUNA
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.